quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Reflexões sobre diferenças e igualdades





Diferenças e igualdades...


No que somos iguais? Todos dependemos de ar, água, comida e por que não dizer higiene e abrigo físico acerca das variáveis climáticas naturais que podem nos prejudicar.

Satisfeitas essas necessidades que nos igualam, sobreviveremos, caso contrário mais cedo ou mais tarde sucumbiremos pela fragilidade que nos é inerente e comum.

Boa parte das nossas vidas é dedicada à sobrevivência, na obtenção de meios e resultados para a satisfação do que nos iguala.

A grande e primeira diferença surge quando menos esforço e dedicação precisa ser feito para a sobrevivência, uma circunstância que resulta em que alguns tenham que se dedicar mais e outros menos na satisfação das necessidades igualitárias.

Assim, somos iguais em necessidades e diferentes na maneira de satisfazê-las.

Um homem ou uma mulher não precisam se reproduzir para sobreviver, não há relatos de que castidade mate...todavia, o segredo que sempre fez ocultar a genitália humana desde “Adão e Eva”, não permite responder se os sobreviventes castos não tinham impulso e portanto necessidade reprodutiva...

Admitamos, por conseguinte, que há uma necessidade fisiológica sexual naturalmente vinculada à capacidade reprodutiva em homens e mulheres, com a ressalva de que a satisfação de tal necessidade é o prazer que provoca e não necessariamente o resultado reprodutivo.

Eis uma fonte de satisfação que não ameaça a sobrevivência caso o resultado obtido pelos meios humanamente empregados, não seja absolutamente nenhum, pelo menos fisicamente.

Provavelmente é daí que se origina a noção científica de que o comportamento humano seja em muito determinado pelo instinto reprodutivo, porque se traduz em uma necessidade fisiológica não atendente da sobrevivência de seu portador, mas capaz de sojigar os seus sentidos e percepções, afetando indiretamente sua capacidade de sobreviver, mesmo.

Assim, por melhores que sejam os meios de obtenção de satisfação das necessidades, a contrariedade do instinto reprodutivo, quanto maior for a intensidade deste, mais afetará o comportamento do indivíduo naturalmente afetado que ansiará por sua satisfação relegando, muitas vezes, o básico da própria vida.

É lamentável observar, por esta ótica, que se fossemos castrados antes de ser impingidos por relevante impulso reprodutivo, nosso comportamento seria drasticamente modificado...

Focalizado o impulso sexual para posterior abordagem, é importante retornar a satisfação de necessidades humanas que nos igualam, observando as diferenças biológicas ou não, quanto a modo e intensidade de respectiva satisfação.

Há uma medida para satisfação de cada necessidade igualitária, tanto a falta quanto o excesso são mortais, todavia, entre um extremo e outro, individualidades vão se destacando quer por meios quer por resultados satisfativos.

A cultura vai valorar os meios e os resultados e os iguais em necessidade vão se diferenciar conforme se aproximem ou se distanciem desses valores, tornando-se indivíduos mais ou menos satisfeitos.

Apartado, contudo, o indivíduo da escala de valores culturais, os meios e resultados por ele exercidos e obtidos, enquanto variáveis, podem ou não fixar uma maneira de conduzir suas atitudes rumo à satisfação.

Sem nos atermos a moral da conduta individual na satisfação das necessidades igualitárias e sua diversidade, é possível deduzir o aperfeiçoamento desta segundo um maior controle de meios e sucesso de resultados ou segundo um mais adequado controle das próprias necessidades, a estabelecer o grau de independência do indivíduo e a sua maior liberdade fora do âmbito da sobrevivência.

Quanto maior for a independência maior será a possibilidade de aperfeiçoar a conduta individual rumo ao científico "latu sensu"  com prováveis influências a longo e médio prazo na cultura e valores dela decorrentes.

Necessidades iguais, condutas diferentes, independência relativa.

É possível retornar ao influentíssimo instinto reprodutivo, partindo de que homens e mulheres são iguais em necessidades, diferentes em conduta e relativamente independentes, podendo ambos sofrer as influências subversivas de suas individualidades, pautados pelo impulso sexual.

Encarando esta incômoda porém prazerosa necessidade, há que se ponderar, à princípio, seu grau ilimitado de independência no indivíduo, na medida em que tanto os meios quanto os resultados têm um significado gradual muito menos determinável em termos de satisfação do que quando se trata das necessidades comuns.

O grau ilimitado de independência pode funcionar em termos do impulso sexual, tanto ativa quanto passivamente, estabelecendo possíveis condutas de seus portadores na utilização de vários meios com vistas a satisfação.

Comum a influência dos impulsos sexuais e o seu caráter independente, cumpre seguir além da satisfação ao resultado reprodutivo ou não, desejado ou não.

A reprodução implica no nascimento de outra e nova pessoa e conseqüente aumento das necessidades a se satisfazer sob pena de morte, implica, portanto, no implemento de meios e resultados, além de redução da possibilidade de independência individual.

Logo, junto com o prazer que acena, o impulso sexual é potencial limitante do aperfeiçoamento de conduta e da liberdade individual, por fazer preponderar o aumento de necessidades a se satisfazer.

Sem estigma moral, o resultado reprodutivo é o que diferencia o impulso sexual masculino do feminino, porque o homem não é naturalmente vinculado a esse resultado e o mesmo não ocorre com a mulher que igual em necessidades, sofrerá o significativo aumento destas, tornado-se muito mais dependente em termos de satisfação.

O possível resultado e o conhecimento a respeito deste, para a mulher é condicionante de conduta e indubitavelmente limitante do impulso quase que desde sua aparição, pois naturalmente se pressente a redução dos horizontes de sua individualidade em prol do aumento das necessidades decorrentes da reprodução.

Nesta conjuntura advém obviamente a preponderância ativa da conduta masculina e passiva da conduta feminina, ambas, porém, não deixam de articular meios com vistas a satisfação de resultados.

A cultura ainda determina que para a mulher o impulso sexual seja legítimo quando acoplado a finalidade reprodutiva e a instituição familiar, portanto o homem com conduta aperfeiçoada para melhor satisfação de necessidades materiais é o homem que melhores resultados obtém em termos de satisfação sexual dependente do sexo oposto. Atente-se a que a reciprocidade é inverossímil.

Apartada a finalidade reprodutiva, o impulso sexual feminino ainda permanecerá como que invadido pela potencial e mais grave perda da individualidade, o que, fará perdurar em muito a passividade típica das condutas femininas, a qual, nem por isso, será pouco variável ou sujeita a inovações de meio, resultado e aperfeiçoamento.

Ativa ou passiva, as diferentes condutas dos iguais em necessidades, demanda apenas a humildade de se reconhecer como humano e a nobreza de amar o seu semelhante, acima do critério da satisfação e adiante de resultados mais conscientes, que apesar de tudo e paradoxalmente permanecem incertos para indivíduos que pagam caro o preço da sobrevivência e da evolução.


Jussara Paschoini