segunda-feira, 27 de maio de 2013

UMA VISÃO PERSONALÍSSIMA DA CAMISA DE VÊNUS


 

Minha opinião sobre sexo é de que é supervalorizado. Tudo se resolve com sexo e talvez seja mesmo natural que seja assim, talvez eu tenha mantido, por conveniência, uma noção abafada sobre o assunto, simplesmente porque acho carregado demais e confesso não entendo o caráter solar dessa fisiologia para que tanto gire em torno dela, mas vivendo em vida planetária é impossível ignorar, deixar de enredar na cadeia dos mitos ou invocar algum interesse importante de volume mais baixo.

Primeiramente penso que sexo se for a dois precisa ser bom, muito gostoso mesmo, caso contrário descompensa o exercício. Explico por que: envolve secreções e odores de outra pessoa, obrigatoriedade, repito, obrigatoriedade de método anticoncepcional e preservativo, local apropriado, clima apropriado, revelações apropriadas e óbvio um grau pertinente de excitação que creio, não se obtém com uma piscadinha repentinamente mais interessante do que se imaginava.

Sequencialmente penso que se desprezadas todas as questões prévias de um bom sexo por algum grau de excitação proporcionalmente compensador?  Tal resulta numa dor de cabeça daquelas de procurar médico e fazer exames de autoacusação física e psicológica, para não falar da ressaca afetiva se o desempenho tiver deixado a desejar, observando que orgasmo no meu entender é parte pequena da história toda, para despeito das revistinhas destinadas ao meu gênero.

Cabe abrir um parêntese para apontar a possível alergia ao látex somada a má impressão decretada ao porte de preservativos específicos por parte de mulheres a serem consideradas por seu caráter “de bem”, como circunstância de vigente constrangimento, além de causadora de uma coceira próxima dos infernos.

Vistas estas questões pertinentes a quem sente a implicação de ter iniciado a vida sexual em tempos de descoberta e disseminação da AIDS estigmatizada nos grupos de risco e com o já corrente e institucionalizado uso de anticoncepcionais, tendo o desafio de arrancar na vida profissional para não incidir nos enganos que engasgaram as feministas e no qual dormem as prostitutas, sexo não é só difícil, mas muito mais apavorante do que tentam fazer crer as muitíssimo predominantes exposições e atrativos públicos ou publicitários.

Para completar, vem a miscelânea freudiana fundamentar todo equilíbrio e bem estar de alguém no seu adequado comportamento durante as diferentes fases da libido, o que inclui a concretização de um casamento bem sucedido, preferencialmente com realização do “instinto reprodutivo”, por sua vez, diametralmente inverso ao comprovadamente diminuto bom senso da minha geração ao tentar como de fato persistem as gerações sequentes, manter viva e eterna a máxima do “crescei e multiplicai-vos no seio da sagrada tradição, propriedade e família”(enquanto é tempo).  

Ser de família é outro problema que começa com a própria e continua naquela que não se pretende repetir, mas que dizem os sábios, se repete, quer se queira ou não, numa circunstância para ser superada à medida que a idade evolui para longe da impressão de que somos mesmo sem solução.

Voltando, porém, ao sexo e vistos esses problemas nunca expostos numa cena cinematográfica das mais excitantes ou num livro de sacanagem dos bons, mais do que dinheiro, poder ou fama, é perceptível que com ou sem as bênçãos familiares, as sex machines personificam o desprendimento arrojado de seres espontâneos de bem com a vida. Resolvi assumir que estou de mal simplesmente porque não acredito, não aceito e discordo.

Entendo pessoalmente, e isto é, muito pessoalmente, que sexo é inevitável e relação sexual é responsabilidade antes mesmo de ser obrigação, circunstância a tornar o acontecimento mais sério do que aposta a economia e legitimam as uniões conjugais porque o sexo não resolve nenhum dos dois a não ser no tangente a venda de acessórios ou o registro de documentos, além é claro, de eventualmente pagar alguns honorários dos especializados no assunto.

O sexo e o sol estão ali disputando o começo e o fim do mundo, rendo-me a tal compreensão e caminho pela vida sem me importar muito com isso.

Assumindo assim, minha nem tão grande brochada próxima da mal querida e falada abstinência, me importa salientar ter pleno conhecimento e acesso sobre as facilidades do "casual chique" no tocante ao assunto e simplesmente não me comover com a oferta por todos os motivos que expus, ao mesmo tempo em que renego com todas as forças restantes esse chororô de fazer amor ser diferente. Acho mais desanimador ainda, admito, com todo o respeito.

Sexo legal para mim não combina com manobras radicais, independe de amor e de compromisso mas é com muito conteúdo pessoal o que demanda tempo difícil numa conjuntura que em geral está mais para o acaso dos proveitos rápidos ou para aqueles dois dispensáveis.

Fundamental é ter atração, amizade e, óbvio, relacionamento (melação e cobrança, à parte).Entretanto, para o sexo chegar a ser gostoso mesmo e compensar o exercício por treino, a demanda para sentidos e finalidades vigentes nem sempre o permite, pelo menos não com frequência, e as fantasias ficam pairando pneumáticas numa suposta guerrinha de seres ultra potentes e ou sensíveis, bem resolvidos ou mais, nobres preservadores da vida, da moral e dos bons costumes dos mais variados tipos possessórios. E que se faça então, bom proveito, sem medo de ser feliz.

Manifesto claramente meu ponto de vista porque  nunca correspondi ao modelo sócio patriarcal e aos fundos edipianos e equivalentes complexos apesar de notar melhor minha intenção de vida no meu atual estágio.  Não significa oportuna disposição para o mundo das variedades ocasionalmente representativas de uma mentalidade pseudomoderna, a mim insatisfatória independentemente dos preconceitos que deixei de portar há muito e bem mais do que participantes de parada gay e seus casórios monogâmicos juramentados papai e mamãe.


Enxergo mais fingimento do que prazer nas diretrizes relacionais muito expostas e discutidas em pormenores da atualidade liberal e por mais que não me arrogue realista por condições dogmáticas pretensas da verdade cuja sagração questiono por disciplina mesmo, prazer fingido dá má digestão e gases, entre outras mazelas cuja explicitação deixo aos mais espertos e bem vividos no bem trajar ou não da Camisa de Vênus, primeira no prafentex e última numa atitude fashion bem direcionada aos amantes. 


O que acredito como bom lema é: "não façam amor e não façam guerra, mantenham uma boca saudável, sejam pela oralidade e outras manifestações de ideia!"
 

Jussara Paschoini

segunda-feira, 20 de maio de 2013

O MUNDO DIGITAL, A CLASSE MÉDIA E A VIRTUALIDADE



Não é honesto negar a pertinência e o valor científico da elaboração marxista, a precisão da análise sociológica que acompanha a diluída visão até hoje presente da luta de classes e as revelações acerca dos movimentos sociais decorrentes desse impasse de má distribuição de renda possível de transcender para má distribuição de valores resultante do modo de produção capitalista.

De notar, por outro lado, que a eclosão capitalista foi o resultado de muitos séculos de redundância de uma mística obstativa das iniciativas intelectuais, artísticas e científicas. O mundo comercial à parte da repressão religiosa ao lucro associou-se a forças intelectuais dando margem aos institutos financeiros pelo apoio e patrocínio à criação tendo como resultado a Revolução Industrial, o que por sua vez passou a apontar a existência de uma classe intermediária entre ricos e pobres, diante da melhor remuneração dos trabalhos não braçais enquanto necessidade da burguesia ascendente contra suposições dos nobres.

Os marxistas mais ferrenhos, pode-se dizer, desconsideram, ou melhor, entendem como ficção a existência da classe média, porque aí se compreende na produção criativa e intelectual um proveito econômico definitivo de tendências direta ou indiretamente correlatas à separação de classes e por conseguinte qualquer manifestação de pensamento ou arte não tragável pelo modo de produção é uma inócua contradição entre marginais arrogantes, não militantes de nenhuma causa, qual seja, a dos ricos ou a dos pobres.

A invocada “prostituição” ou caráter mercenário do intelectual, do profissional liberal nem sempre empregado, é tida como argumento inexorável porque questões de sobrevivência do tipo “garantir o leitinho das crianças” ou “tapar o sol com a peneira” sempre sujeitará a indisposição contra o pensamento num indicativo muito simples de uma lógica elementar inconcebível pelo materialismo, a de que pensamento não é coisa, circunstância por sua vez traduzível pela neológica do verbo “coisar”, segundo a qual, se alguém não coisar eu não vejo coisa nenhuma, ora!

É melhor nunca ver, nem comer e só ouvir falar, já diria o poeta, porque afinal, caviar é coisa e coisa dá ou não para entender.

O mundo é cheio de sentidos e finalidades, isso é normal, e que se discutam esses sentidos e finalidades é fundamental, no entanto, fuçar eventos da sobrevivência para refutar o pensamento é um modo de preguiça e desestímulo tão próximo do chiqueiro que faz inebriar ao ponto de minguar possibilidades à extensão do átomo sem admitir a química. Por favor!

Assim, que se perceba a preguiça de um modo de pensar é “coisa” fácil, o mecanismo de um modo de pensar, um desafio, alcançar a virtualidade é domínio, ultrapassa a ciência e pratica a arte, fato muito incômodo para o determinismo cumulativo de sucessos e fracassos na classificação da espécie humana pela sua capacidade de adaptação e sobrevivência benéfica aos mais medíocres de ideia.

Destarte, para considerar a existência da classe média no particular aspecto do trabalho intelectual e o espaço tecnológico virtual insurgente como meio, há que se compreender a virtualidade do pensamento, sua essencial imaterialidade não necessariamente metafísica, por não implicar ou servir à determinação causal ou corresponder diretamente ao modo de produção, mas justamente por representar a “permanente desconfiança da vida diante da mecanização” (Henri Louis Bergson).

A computação de dados na rede internauta materializou e disponibilizou direitos intelectuais facilitando de sobremaneira a exposição e manifestação de pensamento ao ponto de indiciar um tipo de decadência autoral mais do que de marcas e patentes. Simultaneamente,  tornam-se bem explícitos mecanismos atualizadores constantes da tecnologia como prova de que o tecnólogo sabe tirar proveito de sua tecnologia exteriorizada aos fatos.

Tornamo-nos cada vez mais dependentes das criações intelectuais e é um paradoxo fictício o temor de que isso vá nos reduzir à competição com nossos acessórios, ainda que tenham se tornado mais e mais importantes nas execuções de nosso aspecto sobrenatural e nisso se compreenda o domínio das ordens materiais pela evolução das ciências e das artes indissociáveis do pensamento.

O fato interessante é talvez que se esteja hoje mais diante do desafio do que da causa no traçar de linhas divergentes, já que a acomodação de efeitos possui métodos econômicos de atualização automática enquanto mantemos o intervalo e a duração tipicamente humanos entre ser e agir, donde pontualmente a sustentação, observe-se, tornou-se palavra corrente, quase um conceito de época.

Não somos um bonsai apesar de nossa sujeição aos cortes e obliterações dessa nova era, onde o rigor do pensamento, a organização confrontam a vida orgânica e a fabricação na busca de respostas perante uma inovadora esfera de liberdade amplificadora e niveladora das oportunidades individuais com suas consequentes gratificações e perdas.

Opinião e crítica se sustentam na virtualidade e não é sensato, nesse contexto, que se reduza ao materialismo pela sempre conveniente banalização da classe média, a valoração do pensamento persistente entre os apragatados “sobreviventes” dessa seara imprevisível tão desagradável às finalidades e sentidos de que estão repletos o mundo, diga-se mais uma vez e de passagem.

Jussara Paschoini


segunda-feira, 13 de maio de 2013

HABILIDADE PARA ÁGUAS TURBULENTAS E ATENÇÃO AO NAVEGAR CONTRA A MARÉ NA MEDIDA PROVISÓRIA 595/12


 
É intrigante que com tamanha costa marítima e com tantas vias fluviais e mais com a ascendência colonizadora portuguesa, só agora, depois de tantos anos de transtorno rodoviário movido a diesel e a estimulantes de portentosos acidentes variados, além de pretensões ferroviárias mal acabadas, vinte e tantos anos de democracia, venha a atualidade alardear a retomada da paixão lusa pela navegação como interessante e necessária ao comércio e indústria nacional. Enfim, a cabotagem.

Pensando superficialmente no assunto, já que nesse ponto não recebemos ao que tudo consta, uma influência de perspectivas da arte portuguesa cujo contato parece haver se resumido em vir e ir de posse do que lhe interessava com as grandes frotas navais consuetudinárias da pátria mãe, o uso da cabotagem acena com uma alternativa alvissareira de transporte de grandes cargas, num período de tempo que de bom pode ser aperfeiçoado, inclusive pela harmonização de entraves burocráticos e intervenções funcionais de ordem tecnológica e estrutural, principalmente.

Por outro lado, a desenvoltura da estrutura portuária em si, já traduz não só a abertura ao tráfego de interesses mútuos com o exterior, como também é fonte de renda na oferta de inúmeros serviços circundantes da atividade.  

Deve ser um negócio da CHINA! E com a oportuna analogia africana, os ânimos dos cinco grandes, o que inclui paquidermes, está muito exaltado de uma parte e, muito “na moita”, de outra, para falar o português claro.  

O poder executivo quer as rédeas administrativas da atração e direção de capital para implementar as medidas de organização na implantação de portos, notadamente ao longo de toda a vasta costa nacional e o poder legislativo quer a descentralização desse poder, ao mesmo tempo em que se engaja na preservação da estrutura já existente, tanto pela manutenção de servidores públicos na atividade portuária quanto pela protelação de contratos cuja vigência está próxima de caducar.  É o velho, eterno, direito adquirido brasileiro.

A caducidade dos prazos concedidos para exploração dos portos e transporte aquaviário ameaça grandes interesses e a postura descaradamente protelatória de parlamentares ao achincalhar e regozijar em torno de confusões sempre plausíveis pela mais absoluta falta de credibilidade dos eleitos por vias escusas até hoje escusáveis, depõe no sentido de que não é do povo, pelo povo e nem para o povo que o renascimento náutico panfleta próximo das entrâncias do processo eleitoral.

É importante pontuar, contudo, o seguinte: De acordo com artigo 21, inciso XII da Constituição Federal, é competência da União, ou seja, do governo federal, explorar diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão, os serviços ferroviário, aquaviário entre portos brasileiros e fronteiras nacionais, ou que transponham os limites do Estado ou Território, bem como, os portos marítimos, fluviais e lacustres.

De outra feita, o artigo 178 da Constituição estabelece que a ordenação dos transportes aéreo, aquático e terrestre deverá ser disposta em lei, quanto a ordenação do transporte internacional devendo observar os acordos firmados pela União, atendido o princípio da reciprocidade; além de especificar acerca do transporte aquático, a necessidade de se estabelecer as condições em que o transporte por embarcações estrangeiras poderá ser feito na cabotagem e navegação interior do país.

O artigo 175 da Constituição Federal condiciona à lei e à licitação toda a prestação de serviços públicos, portanto a autorização, concessão e permissão de que trata o artigo 21 retro mencionado, e que, aliás, também se aplica aos serviços de telecomunicação, conclui a regência máxima do assunto em comento.

A União é titular da matéria, o legislativo é titular das condições em que essa matéria será organizada e o centralismo convergente de divergências na atual conjuntura determina inércia.

Não obstante, há um detalhe importante para análise, qual seja a criação de uma autarquia pela lei 10.233/01, a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (ANTAQ), isto significando a delegação executiva e legislativa da competência para autorização, concessão e permissão de que trata o dispositivo constitucional (artigo 21, inciso XII), a um órgão com personalidade jurídica própria, patrimônio, receita e capacidade de autoadministração no cumprimento de respectivas atribuições.

A questão é por que o conteúdo da ora enredada Medida Provisória 595 de 06 de dezembro de 2.012, pendente pois, de ser aprovada como lei, não opera conteúdo através do órgão autárquico delegado, já que o posicionamento jurisprudencial vem somando essa possibilidade jurídica pelo acatamento doutrinário que flexibiliza o princípio da legalidade a favor do poder regulamentar dos chefes executivos?

Isso quer dizer que, regular licitações, condições contratuais, prazos e tantos itens ululantes na urgência provisória da medida em debate, é matéria regulamentar bastante cabível à ANTAQ e  é muito estranho nesse contexto, venham certas frentes políticas invocar a proteção de prazos contratuais, muitos atualmente sustentados por decisões liminares (judicialmente antecipadas), garantia de direitos de preferência ou a delegação de poderes licitatórios da autarquia a representantes de outros e privados interesses.

Com ressalva do funcionamento vinte e quatro horas dos serviços de desembargo da Receita Federal, Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e Ministério da Agricultura, esses sim como acréscimo interessante aos objetivos renascidos para a arte náutica e suas vantagens, há muita impertinência nas tais aglutinações feitas pela Comissão Especial de Deputados e tornadas oportunas pela Medida Provisória 595.

Talvez a explicação esteja em que se pretende centralizar pela Medida Provisória o poder atributivo da autarquia  à denominada “Secretaria dos Portos da Presidência da República”,  para a qual seriam transferidas as competências do Ministério dos Transportes e do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes estabelecidas em lei, no que se relaciona geral e especificamente a portos fluviais e lacustres.

Eis que a competência Constitucional de exploração dos portos propõe-se possa ser então delegada aos Estados, Municípios e Distrito Federal, o que de acordo com a Lei 9.277/96 do governo Fernando Henrique, já é matéria a ser intermediada pelo Ministério dos Transportes (alguma conexão?) mediante celebração de convênio.


Um fato interessante é que o modelo de criação de autarquias vinculadas a privatizações é bem típico da administração “tucana”, sendo de se observar que o presidenciável do partido inclusive já editou e promulgou lei estadual mineira para um denominado acordo de resultados com vistas a fixar domínio do poder executivo na regulação autárquica, estabelecendo metas operacionais e premiações (Lei Estadual 14.694/03).

Apenas reflexões e deflexões para os nossos olhares ao mar e nossos pés no chão porque, por experiência ou por falta inversamente proporcional desta, com efeito, não se enxerga bons ventos a favor do povo.


Jussara Paschoini

segunda-feira, 6 de maio de 2013

A ECONOMIA E O TEMPO PARLAMENTAR EM QUE GENI PAROU DE CHORAR



Temos muito e nenhum tempo para viver, porque viver não é nada se não considerado com relação a algo como o tempo ou outra medida.

A relação entre a vida e o tempo é uma composição do começo ao fim e é certo que entrementes há o grande detalhe tributado contra a morte, portanto, pura e simplesmente pela provisão de vitualhas. Somos fome, vontade e amor.

Somos também é claro, um reflexo de emprego, juros e moeda e sem a arrogância de mencionar o teórico por talvez haver dissonância de matérias e mais, de intenções, é interessante observar que a demanda, aquela mesma, a que se contrabalança com a oferta, trata o montante do capital investido por unidade de tempo a depender da produtividade, ao passo que a adversa da balança trata de poupança a depender da taxa de juros.

Demanda e oferta redundam ambas na produtividade elementar de renda onde a taxa de juros medeia a caracterização de eficiência funcional, numa relação mais clara para o investimento do que para a poupança. O primeiro baseia-se na propensão ao consumo a segunda na preferência pela liquidez, ou seja, pela maior certeza e posse de um grau mais elevado de poder de troca.

Vulgarmente se está diante da velha questão: Coisas ou dinheiro?  E nela as coisas são mais visíveis e quando se trata de taxa de juros, a especulação tem feição mais definida do que a precaução.

Raciocinar economicamente falando é método de indução da política bancária quer pretenda ela disponibilizar ou restringir a oferta de moeda numa resultante da existência total de dinheiro nacional com a diminuição do que for necessário para a circulação ativa onde se estabelece o nível geral de preços em parte flexível e em parte dependente dos custos de produção inclusos da taxa nominal de salários.

É na taxa nominal de salários, por conseguinte, o microcosmo importante para observar o capital investido “por unidade de tempo”, onde a convenção dominante da unidade de tempo do trabalhador corresponde geralmente a um terço do dia, ou seja, oito horas.

História normal e eteceteras: oito horas na frente do computador,  montando peças, oito horas catando lixo, oito horas matando animais ou tirando leite, oito horas em cima de um trator, oito horas colhendo vegetais, oito horas desossando carne, oito horas atendendo doentes, oito horas passando produtos ou serviços no leitor ótico de um caixa, oito horas empacotando, oito horas cortando cana, oito horas dirigindo, cavando ou tapando buraco,  espalhando agrotóxico, oito horas decidindo como melhor aproveitar as oito horas dos empregados, arquitetando, oito horas discutindo ou decidindo como ou o que discutir e, em outras oito horas ou se dorme ou não se cumpre as oito horas do dia seguinte.

As horas extras geralmente excedentes das oito disponíveis e outras jornadas maiores e ou convencionais são bastante possíveis em dez minutos na Justiça do Trabalho, taxados com altos juros e correção monetária para a hipótese eterna de não serem rapidamente resolvidas em oito horas de portentosa promoção de acordos.

Então, pelo menos matematicamente falando, oito horas restam para viver ou se perpetuar, ou melhor, para consumir e é importante para a política bancária que se consuma principalmente comida e bebida industrializada ou se gaste mais tempo cozinhando, assistindo à publicidade televisiva e internauta, locomovendo-se em transporte coletivo de quinta categoria ou num trânsito lento e violento, de preferência dentro do carro popular do ano, adquirido com custos financeiros bem acima dos pagos na reserva impossível para a casa própria, esta talvez disponível mediante semelhante dívida elevada à "trigésima" potência anual.



Férias! Vinte ou trinta dias (dez dos trinta são venais ou agora pode dividir por três né?), uma vez por ano, com ou sem saber para onde ir, se é que ainda dá.

Cogita-se o campo ou a praia algum dia, e daí? Separa-se o lixo reciclável e frequentam-se diversos estabelecimentos comerciais em busca pelos melhores preços para manter o valor do dinheiro e não flexibilizar o nível destes, observando-se a já corrente e bastante conveniente prática de que tais estabelecimentos funcionem pelo menos dois terços do dia e todos os dias da semana, incluindo sábados, domingos e feriados.
Muito consumo, dinheiro barato e caro para quem?

Para os desempregados, desesperados, marginalizados e possíveis burladores da lei ou integrantes do alto índice compensável de inadimplência dos cartões de crédito.

Multiplicadores, divisores e a pergunta é qual seria a unidade de tempo de uma vida?

Aquela onde trabalhar e consumir não fosse mais obrigatório do que o natural ou efetivamente voluntário, onde os fatos e dificuldades pudessem ser particularizados e a presença das pessoas fosse mais querida do que o só o preço que elas podem pagar, onde o humano fosse menos servo de si mesmo e seus semelhantes com fulcro na veneração penitencial das mais encaixáveis deidades.

Na prática, melhoria do transporte coletivo e das vias de acesso aos meios pedestres e similares, jornada de trabalho menor, instrumentalizada pela valorização convencional de vontades lógicas e razoáveis de mútuos interesses valorativos, implementos de toda a ordem educacional e profissionalizante, oferta de serviços compatíveis com a oferta de produtos e apoio às pequenas e médias empresas, fiscalização e controle da oferta de créditos, isso como principal.

Com efeito, gradual diminuição da intervenção estatal nas relações de trabalho e maior intervenção estatal nas relações de capital.

O foco da política bancária precisa ser humanizado em nome do bem comum pelo arrefecer da oferta bisbilhoteira de moeda com a potencialização da oferta de riscos dirigidos e compartilhados, o que significa a associação financeira e intelectual no estabelecer causal da demanda, inclusive de e com destino a serviços. A demanda, aliás, nunca deixará de ser social ou sujeita a disposições e preferências individuais cuja qualificação é exigência da modernidade.

Por óbvio e finalmente, a correta destinação dos recursos públicos concorrentes pela tributação e destinação aos serviços de saúde qualificados na graduação somada à prática, ensino, principalmente de primeiro e segundo graus, bem como a justa definição de caminhos previdenciários são fundamentos inarredáveis sem os quais não há política bancária pertinente à caracterização de seguridade de valores com autenticidade líquida, pelo que a cultura corrupta e a ganância usurária é combate quotidiano por sua dimensão, para bem mais de oito horas diárias.


Jussara Paschoini