terça-feira, 12 de julho de 2011

O ESPELHO



A física define a imagem como resultado obtido do cruzamento entre os raios de luz que se prolongam e os raios que se refletem no espelho.

Creio que nossa alma é semelhante ao espelho, qual seja, onde o resultado do que interiorizamos e do que refletimos se produz.

É claro que em matéria de alma, imagem é apenas um detalhe, a história é o projeto, o filme da nossa vida, com começo, meio e fim.

Interiorizamos geralmente as conclusões acerca do que nos é possível captar no vasto mundo disponível aos nossos sentidos, digo conclusões porque muito ocorre sem sentido algum até que algo tenha significado efetivo suficiente para se prolongar na alma com efeitos de imagem, de projeto, de história.

É como se fragmentos do que captamos aos poucos formassem um todo com conteúdo lógico satisfatório a nos definir em dados momentos, identificando-nos em um fim que ao mesmo tempo é o começo de uma reflexão de nós mesmos, nossa imagem, nossa alma então.

Observando assim a alma, para efeitos de apontá-la em nossa vida é possível talvez compreender uma noção existencial própria dos seres humanos, de que para si o ser existe enquanto for capaz produzir imagem, de interiorizar e refletir, ou seja, enquanto a alma historiar.

Vivemos, e esse é um critério todo nosso, haverá momentos de maior interiorização e outros de maior reflexão e nossa imagem será produzida em um espelho mais ou menos claro, para nós mesmos ou para os outros da espécie.

Quando se pensa em morte a questão plausível é que fim terá a nossa história, será ele previsível, saberemos o ponto exato em que o espelho se quebrou e a imagem deixou de se produzir?

Dominar a morte sob qualquer ângulo, inclusive o religioso, é um tipo de ficção.

O fato de podermos, por exemplo, infringir injúrias físicas suficientes a fazer cessar as atividades do corpo não traduz o domínio da morte, é um domínio da vida.

Assim, nos domínios da vida é que a eutanásia ou o suicídio assistido (duas condições distintas) merecem encontrar análise.

É bastante certo que não desejemos ao outro um fim de história que não desejamos para nós mesmos, é da natureza de nossa alma, quero compreender, interiorizar e refletir.

Jussara Paschoini