sexta-feira, 14 de março de 2014

NA ESCURIDÃO DA SALA



É noite e a luz acabou na sequência de um temporal, ainda bem, logo depois da pizza e da louça lavada. Quase impossível não ficar um pouco triste, não sentir o limite e a televisão desligada, sem canal off, sem surfistas tão necessários a substituir a porcaria da programação e por que não a paranoia de uma vida cheia de responsabilidades, preocupações e deveres.

Definitivamente invejo os surfistas, os escaladores de montanha, os praticantes de pipete enfim quem vive na praia enfrentando as ondas do mar, trepando em árvores e ribanceiras, flutuando pelo ar, buscando seu destino cada hora num lugar mais bonito, diferente, desfrutando dos desafios do corpo e preservando por isso a saúde. Gente sem frescura.

Sei também que aprecio o conforto e a luz da vela agora iluminando um pouco mais e providencialmente o teclado do computador para me permitir escrever essas palavras, enquanto a cama já está arrumada, além de uma pequena dose de whisky ali em cima, por servir.

Tantas coisas adoráveis e tantos sonhos acalentados naquilo que sou, me fazem indagar o quanto me vale a realidade conquistada nesse meu reino carpetado, cercado por plenos canais de comunicação nem tanto interessantes, nem tanto desprezíveis onde resguardo inquieta a vida caminhante sob o céu ilimitado das possibilidades.

O que de mim participa é maior do que se possa alcançar, mais sutil do que qualquer desejo esguio de ondas próximas ou distantes. Um compasso de construções repleto de cores e emoções que rebrotam nos menos esperados momentos em todo e qualquer lugar.

Assim, eu e os surfistas somos um e nenhum e nessa escuridão percebo o mar negro da noite capaz de tudo tragar rumo ao próximo nascer do sol, desnudando realces e brilhos onde reinava tanto silêncio.

Jussara Paschoini