sexta-feira, 18 de outubro de 2013

MEU MUNDO NUM BLOG




Desde 2009 eu venho escrevendo neste blog, a princípio aleatoriamente e depois procurei fazer uma publicação semanal. Dei umas paradas porque fiquei doente, como poderá ser mais explícito no meu texto de maio do ano passado “Sobre mim e mais um pouco”.

É fato, passei por uma experiência de quase morte e isso mexe com a cabeça da gente. Não mudei como pessoa, idealizo um mundo melhor para os filhos que nunca tive e nunca terei, mas que amo de todo o coração porque sou do futuro e é lá que eles estarão, espero, vivendo melhor do que eu pude viver e tão bem quanto eu pude no meu interior até o tempo que me restar e que seja ele bom e longo.



Não sou do bem, não é isso que me define mais, porque não considero mais essa noção santificada de existir e penso no melhor que pode perfeitamente não ser um exemplo de abnegação, carinho e nobreza, penso no que leva para frente sem usurpar, no que preserva sem chantagear e no que adianta sem passar por cima, no topo do ser sem mentira mesmo que isso signifique raiva e chatice em alguns momentos.

Estive muito ligada nesse mundo virtual até agora e não vou me desligar. Pretendo apenas dar um tempo, sair um pouco desta órbita, recuperar uma vida ideal na realidade que não é essa ao alcance de um clicar.

No entanto, antes de dar esse tempo, que não sei exatamente de quanto se trata, eu queria dizer que escrevi muito sobre o que acredito aqui e se alguém que nunca caiu nesse blog, passar por aqui durante a minha ausência, dê uma olhada lá para trás, foi tudo escrito com muita atenção, por alguém que queria mesmo passar uma mensagem legal, consciente.

Diferentemente, uma hora dessas voltarei a escrever sobre algum assunto e alguma inspiração e espero que até lá, quem me acompanhou e sei que não foram muitos, não tenha se esquecido de mim e volte a me ler, senão, que a passagem por mim tenha valido o pequeno esforço.

Vou desligar do mundo internauta um pouco, retomar meus exercícios físicos que eu parei e ler muitos livros dos que me indicaram na medida do possível e um dia vou voltar para contar mais algum pensamento.

Até breve.


Jussara Paschoini 

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

O IPTU PAULISTA E O DESCOMPASSO TRIBUTÁRIO DAS DESARMONIAS CONSTITUCIONAIS

 

Doutrinariamente, a briga contra a progressividade das alíquotas do Imposto Predial Territorial Urbano parece eterna e, sem muitos melindres, isso significa que como este tributo, constante do Sistema Tributário Nacional desenhado em norma Constitucional, incide sobre a propriedade, sobre a coisa imóvel, já possui no seu valor venal o elemento de majoração identificador da capacidade contributiva que não poderia ser agravada com a aplicação de percentuais maiores ou menores em circunstância que infringiria a igualdade de tratamento legal ou isonomia prevista como direito individual e cláusula pétrea (inalterável por emenda) nos termos do artigo 60, § 4º, inciso IV da Constituição Federal.

Esta circunstância foi abalada com a alteração do artigo 156, § 1º da Constituição Federal pela emenda 29/2000 votada e aprovada. E enquanto pende a avaliação da Constitucionalidade de tal em Ação Direta de Inconstitucionalidade, a Súmula 668 do STF opina e fixa como inconstitucional a progressividade das alíquotas antes do referido advento (emenda 29/00), o que valida “definitivamente” alíquotas maiores estabelecidas pelos municípios conforme graduação dos valores maiores, localização e finalidade do bem. Imóveis nos melhores bairros, maiores e ou comerciais podem ter as respectivas alíquotas majoradas e se presume absolutamente a maior capacidade contributiva dos proprietários. Antes, as ações contrárias às prefeituras, aqui em São Paulo, não impediam, nem por liminar, execuções fiscais que tramitavam ao sabor automático da jurisdição municipal em escancaradas entrâncias, complicando abusivamente a regularidade da vida civil do contribuinte discorde.

Afora o intrincado da questão das alíquotas ou percentuais aplicáveis para efeitos da incidência do imposto predial territorial urbano, no Município de São Paulo existe a denominada Planta Genérica de Valores a qual gradua o valor venal dos imóveis pela localização e obriga a atualização do valor do metro quadrado (artigo 10 da Lei 15.044/09 de Edição do Governo Kassab).

Portanto a majoração alardeada de 24% no IPTU, na verdade configura uma previsão de incremento orçamentário decorrente da revisão da Planta Genérica de Valores nos seus respectivos metros quadrados como consequência da base de cálculo do imposto e não da alíquota, mas já há informações no sentido de que esta nova revisão poderá alçar 15% de reajuste no imposto de alguns imóveis conforme os critérios e agravantes de tributação (valor pelo tamanho em metros quadrados, localização pela valorização do bairro e finalidade se comercial ou residencial). Ao avesso da capacidade contributiva para um imposto que não é pessoal, os inquilinos de pequenas lojas, cafeterias, restaurantes pagarão porque fatalmente possuem esse ônus contratual.

Interessante notar para o escopo dessa explanação que se as prefeituras desenvolvem esse pormenorizado instrumental de apuração tributária, atualizando o valor venal dos imóveis, fixando diferenças no valor dos metros quadrados conforme localização, diferenciando alíquotas num complexo ajuste fiscal, o mesmo não ocorre quando se trata do chamado ganho de capital na venda dos imóveis para efeitos do Imposto de Renda que este sim é pessoal e autoriza a alíquota progressiva em plena consonância constitucional.

Eis que somente na aquisição de outro imóvel de fins residenciais o contribuinte, com base no artigo 39 da Lei 11.196/05, nos 180 dias da efetivação de respectivo contrato, se isenta de pagar o valor de dispendiosa alíquota de imposto de renda, todavia, o critério deste ganho de capital segue anos de valor declarado obrigatória, anual e nominalmente sem qualquer fixação de critério atualizador a favor do contribuinte.

A Receita Federal se aboleta a cobrar Imposto de Renda sobre uma base de cálculo a ser definida de acordo com programa eletrônico disponibilizado a tal fim nos termos do artigo 40 da Lei 11.196/05 com critério invariável em termos de estabelecer ao proprietário do imóvel o dispêndio valorativo compatível com a aquisição deste bem quando o mesmo for vendido, utilizando apenas e tão somente os determinantes fatores de redução do ganho de capital para depois fazer incidir uma alíquota única de 15% num imposto, repita-se, pessoal.

É muito interessante e curioso vislumbrar a diferença que se estabelece no oficioso municipal em respectiva regra tributária de fixação de valores, o que leva a questionar se aos contribuintes sujeitos ao liame fiscal no ganho de capital decorrente da venda de imóvel adquirido, não seria justo e mesmo constitucional cogitar a opção de considerar o valor venal conforme critérios municipais de arrecadação para a condição de apurar efetivamente algum acréscimo jurídico mais concreto de capital tributável a favor da União, bem como utilizar a possibilidade jurídica de alíquotas progressivas maiores para grandes proprietários e muitas propriedades ao ensejo de vultuosas negociações imobiliárias.

 

Jussara Paschoini

 

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

MACHOS MECENAS

 
 

 Mirem-se no exemplo
Daqueles machos mecenas
Vivem pros seus apoios
País, governos e dinheiro
 
Quando aplaudidos se inflam
Enchem a cara e a barriga
O bolso acena
Quando criticados se isolam
Se planejam e te degolam
Sem muita pena, gangrena!
 
 
Mirem-se no exemplo
Daqueles machos mecenas
Vivem por seus direitos
Heroicos feitos perfeitos
 
Quando eles escutam seus nomes
Eles tecem tramas e letras
Mil operetas
Vivem quase sempre sedentos
Querem arrancar violentos
Seus dez por cento, jumentos!
 
Mirem-se no exemplo daqueles machos mecenas
Sofrem por suas Lavínias
Brastemp à pilha, obscenas
 
 
Quando eles são questionados
Costumam ficar injuriados
De ego pequeno
Mas no fim da noite bebaços
Quase se intitulam Picassos
De toda a cena, Cartagena!
 
Mirem-se no exemplo
Daqueles machos mecenas
Geram pro poder público
Os novos baianos de antena
 
Eles não têm gosto ou vontade
Nem defeito, nem qualidade
Têm patrocínio
Não têm sonho, só têm presságio
A sua parte, cobrando pedágio
Lindas doletas, caxetas
 
Mirem-se no exemplo
Daqueles machos mecenas
Temem o pobre e a pobreza
Beleza e mesa à portuguesa, com certeza
 
Os jovens no eixo marcados
E os menores abandonados
Em quarentena
Roupa preta e overloque
Nos protestos uns Black Blocks
Tudo é novena, morena!
 
Mirem-se no exemplo
Daqueles machos mecenas
Secam letras e pingos
Todos sua propriedade, apenas...

(Composição popular brasileira e última hora)

 

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

O TERROR DE MOHAMED


Naquele dia depois de suas orações
Um lampejo coube a Mohamed
Revia a multidão entoando o cântico da fé
Foi retomado pela emoção e teve mais uma vez
O corpo trepidado por aquela dor e por aquela magnitude
Não via mais o campo e nem as cabras
As crianças eram vestígios de um grandioso passado tão silente apesar da algazarra
Nem de perto o odor da hortelã ou da mirra eram de se distinguir
Apenas o próprio sangue fazia sentido
Na boca o paladar ferroso das palavras exauridas
A vontade descumprida, calada e cortante
Única verdade e único rumo
Nenhum outro apetite e muito menos deleite
Náuseas como dedos retraídos e cerrados num reflexo guardião
De um coração tão compacto quanto obscuro
Jamais ali qualquer pousada afável
Qualquer perfume impróprio ou atrevido
Chamas sempre alimentadas manteriam tal pureza
O fluir contínuo de um calor inabalável
Harmonia metálica inegável a tão imaculado sonho
Tão claro e iluminado
Alvo com a alvura do mais elevado ancenúbio
Pálido e invisível é o que não se enverga à grandiosidade suprema
Negro seu destino selado em cápsulas de chumbo
Rente e reto enquanto gira e gira sua autêntica trajetória
A destruição em gatilho requebrando singular
Salivando faíscas e consumindo a carniça dos vivos
Apagando mentiras sequer pensadas
Tingindo o espaço com o único rubro
Capaz de aplacar tão alucinada aptidão
Saciar a acoria e finalmente matar a visão
Sangue e glória
Mas os abutres não vão permanecer para o banquete
Precisam voar alto como manda o Grande Condor
Pertencem ao céu onde flutuam como brandas nuvens
A quem a implacável luz do sol há de carregar
E Mohamed se recolhe ao sagrado de seu santo destino
Plácido e tão gentil quanto a lã daquele tapete de oração
Dever cumprido e os joelhos podem descansar
Sem limite a eternidade de tão correto caminhar

 Jussara Paschoini