segunda-feira, 13 de setembro de 2010








PRECONCEITO


Ninguém fala positivamente de preconceito, quando se invoca a palavra maldita, logo pensamos nas minorias, rotuladas e sofredoras pela falta de oportunidade de mudança e crescimento diante de um olhar social dificultoso e definitivo.

Do ponto de vista meramente semântico o preconceito é apenas o que precede o conceito, ou seja, uma idéia com origem em impressões parciais que precede a formação de um juízo mais completo, de valor ou não, a respeito de um objeto ou pessoa.

Todavia, deixando de lado o estigma social, tão amplamente utilizado na abordagem sempre negativa do preconceito, do meu ponto de vista, é muito hipócrita aquele que se afirma destituído de preconceito.

Ninguém inicia o conhecimento a respeito de nada sem impressões, sem observações, sem dados históricos precedentemente memorizados em pensamentos e sensações, o preconceito puro, é o início para qualquer relação fundada nos instrumentais humanos de relacionamento, a razão e a emoção.

Creio então que aí seja possível divisar o preconceito de origem coletiva do preconceito individual, ou seja, o que vem plantado há gerações na história, do que vem fundado na experiência individual.

Vejo que cada indivíduo exerce sua dose de preconcepções pessoais e distintas, temos simpatias e antipatias, que são preconceitos potencialmente individuais, derivados do contato com imagens, sensações e percepções causadoras de repúdio ou atração...

O nível do repúdio causado por um preconceito individual determina a manutenção ou não de contato com objeto repudiado...se o repúdio for muito grande, o preconceito é insuperável, a relação com objeto, se acontecer, será fruto de muito desprazer e até agonia...

Então vem a questão, até que ponto o repúdio oriundo de um preconceito individual é censurável? A liberdade de ter um preconceito com relação a um objeto é sempre contrária a algum direito?

Impor a alguém que haja sob acentuado grau de repúdio sob a égide de eliminar o preconceito é justo? Nem todo mundo gosta de lesma...eu mesmo tenho um nojo irreparável...iguaria para alguns, para mim é um preconceito a ser mantido sob pena do vexame de regurgitar na mesa de jantar.

Então, quando não se quer comer lesmas, não se come lesmas não só pelo preconceito mas para evitar um dano a quem quer a liberdade de comer a iguaria temperadinha com manteiga e alho, sem a presença de vômito.

Assim, o jovem que preconcebe, sem sequer experimentar, baseado em que o cigarro ou a bebida alcoólica, fazem mal à saúde , acaba por ser destituído do status de fumante, do status de tomador de todas, e permanece no grupo dos preconceituosos “caretas”, mas será?


Tocando, entretanto, na ferida nossa de cada dia, o pior é quando desgostamos preliminarmente de alguém que é querido por outros, os quais muitas vezes são queridos por nós...isso não nos dá direito a nada, nos toma a liberdade de estar com quem gostamos, não porque vamos regurgitar na mesa, mas porque podemos reagir tão estranhamente quanto...

Trata-se de um preconceito individual agravado progressivamente porque causa desgosto, subtrai e é praticamente irremediável...vença o preconceito...coma a lesminha com coragem e fé, tanta gente gosta!

É difícil admitir, mas sei que preconceito se tem também em um teor singular de idéias e sensações muito próprios de cada um, e com todo respeito aos conceitos que poderiam se formar, algumas vezes, por questão de bom senso, se prefere viver sem os possíveis mas intangíveis conceitos. A experiência devidamente sopesada delata ser melhor não formá-los ou inútil persegui-los.

Convivamos então, inteligentemente, com as idéias e relações que deixaram de germinar, e saibamos, do mesmo modo, persistir naquelas que valem a pena, mesmo quando tudo ou apenas algo insignificante depõe ao contrário.


Jussara Paschoini

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