quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

OS ENGANOS




Sempre acaba acontecendo um instante na vida em que se observa o quanto mudamos e o quanto somos os mesmos e não rara é a surpresa com quantas e inúmeras vezes nos enganamos a respeito de quase tudo.

Nosso passado muitas vezes é bem mais do que um sapato velho, uma calça azul e desbotada que podemos usar do jeito que quisermos, ou, se é que alguém se lembra, bem mais do que o saudoso jingle da US - TOP.

No topo dos muitos fatos de nossa existência, sensações transitam em tempo distinto, por sua própria natureza instável, daí a sujeição inevitável ao engodo de nossa própria percepção.

Tanto a dor como o prazer apreendem a percepção dos fatos e geram ilusão, ou seja, quando o fato é tomado por uma sensação positiva ou negativa ele ganha outra esfera existencial, independente de sua correspondência com a realidade.

Esta natural ocorrência muitas vezes atribui às sensações a causa da inquietude humana e de suas mazelas, não sendo raro que a religião e a filosofia busquem abolir ou manipular, esta, por assim dizer, cegueira inerente à vida.

Iluminados se apregoam os seres que interagem libertos das sensações e, portanto, capazes de perceber a pura realidade sem equivocar-se.

A questão é se podemos viver livres de equívocos quando não nos lançamos ao sensacional daquilo que cremos ser a nossa mais alta ou baixa expressão em vida, ou melhor, do transitório ou permanente estado onde as coisas deixam de ser exatamente o que são.

Não há, salvo melhor juízo, como viver livre de equívocos, pelo menos na condição humana, porque há limites em nossa natureza e também no que podemos suportar.

Então, se o equívoco é inevitável, qual a diferença entre a esfera sensacional de percepção e a esfera real de percepção? Nenhuma, equívoco é equívoco.

A diferença está nos efeitos e a cada um cabe a dor ou a delícia de ser o que é ou não?



Jussara Paschoini

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