segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

SABER LIDAR COM A INTIMIDADE É A CHAVE PARA CIVILIZAÇÃO




Não é possível tangenciar intimidade se elementarmente estacarmos na noção permissiva, próxima e vinculadora do conceito, isso é básico, e vagar pelas questões de sexo, amor e amizade para graduar o íntimo é no mínimo batido, chato mesmo.

A intimidade importante, aquela não inventada, imposta, comprada ou mesmo cedida para efeitos satisfativos, acontece e tem muito mais de limite de sensibilidade a medidas e intensidades do que de junção e apego. Intimidade é história contada por si e nada mais.

Trata-se de reconhecer o pudor do íntimo, para Nietzsche, uma questão dos homens duros e algo precioso, o que eleva a compreensão acerca de seres humanos não tão abertos e nem disponíveis ao apego como regra, zelosos de seus próprios recantos construtivos e destrutivos.

Sucessória da repressão política típica das hipocrisias sociais, a concepção simplista de liberdade e a ilusão de sua conquista fácil por práticas fúteis trouxe para princípio relacional uma intimidade excessivamente próxima, baseada quase exclusivamente em apego e a violência visível e absurda dos dias atuais vem detectando claramente a perda do limite, esse sim fundamental ao íntimo. Mantem-se perdido o senso de invasão em prol de necessidades coletivizadas, de informações supervalorizadas em confronto com o desprezo e a miséria de um crescimento populacional desabalado, falta de responsabilidade reprodutiva descarada em todos os sentidos possíveis e imagináveis.

Íntimos sem limites não são íntimos são associados em riscos partilhados que vão desde a mútua insatisfação até o desastre e a morte, daí talvez a banalidade bruta de uma criminalidade longe de poder ser chamada de organizada, próxima ao ponto de matar qualquer um, em qualquer lugar, por nada.

Não há ordem onde todos querem ser íntimos a qualquer custo e a troco de algo diferente com relação à sutil e própria intimidade, há sim, imbecilidades e sofrimentos diversos em crescente deflagração para o livre comércio de subterfúgios genéricos e variados de luxos e lixos.

Intimidade, na prática, nos aproxima por limites reconhecidos no raro definir espontâneo de relações de valor, limites aos quais cabe a mais atenciosa preservação, inclusive e principalmente quanto aos naturais e fluentes apegos de ordem afetiva mais intensa.

Contrariamente, em teoria, a proximidade condiciona o íntimo, põe o carro diante dos bois e como não poderia deixar de ser, o futuro é simplesmente empurrado, para lugar nenhum em desperdício de força e energia esgotável como tudo, como a vida acorrentada em seu próprio abismo.  

Civilização é intimidade vivida nos seus limites, por gente com pudor e liberdade além das convenções e adentro da harmonia.

Jussara Paschoini



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