É difícil falar do Homem com “H”, embora muitos falem, obrigatoriamente, mau.
Há cachorros com o nome de Capeta, músicas referentes a Lúcifer, personagem com nome do tipo Zeca Diabo, tem o “Madame Satã” que era bandido, gay, e portava diversos motivos de exclusão em seu modo de ser, mas certamente não se perturbava por ter esse nome, no entanto, o nome do Homem com “H” ninguém ousa dar nem a um novo tipo de ameba eventualmente descoberta.
Por isso, antes de falar sobre a figura, reconhece-se a ele a condição maldita e sequer se menciona o respectivo nome, simplesmente para pensar no fato de que nunca se mostrou a mão suja de sangue desse indivíduo e nem se apontou para alguém diretamente morto por ele. Não chegou nem perto de partilhar a psicose de assassinos que comem partes do corpo de suas vítimas, ou de outros que enterram dezenas em seus quintais, violentam e torturam muitas mulheres antes de matar ou de pais que matam a mãe de seus filhos na presença deles.
O ato conhecido sobre o Homem com “H” é que ordenava e tinha muita gente para obedecer, o discurso que fazia para chegar a tamanho grau de sedução acerca do considerado como sua própria e única vontade nunca foi exposto, não está nos livros Best Sellers e só passa na televisão em linguagem gutural, muitas vezes destituída de voz, ao que tudo consta mais imprópria do que sexo explícito e filme do exorcista, com a distinção de ser a censura muito mais para adultos.
O Homem com “H” é um mistério cuja solução é discutida sempre sob a ótica de sua infinita maldade, o que não se discute é o seu alcance e o número de pessoas disponibilizadas a cumprir voluntariamente e com pretensa honra a um ordenamento genocida porque isso é o que se pretende apagar da história, é a realidade para a qual não há venda suficiente. A maioria quer se identificar com as vítimas e não com os executores, como se eles fossem de outra espécie, alguns velhinhos de sangue ruim, como se não se visse a mesma maldade se propagando sob outras bandeiras e com outras justificativas.
É bom se identificar com as vítimas até ser realmente uma. Vítima de violência é sempre a mesma, sente a mesma dor e o Homem com “H” está de luvas, sendo julgado pelos vivos e pelos mortos enquanto seus arremedos só não utilizam o mesmo nome e não precisam mais gritar com tanta veemência para ser obedecidos. A comunicação é mais rápida e eficaz, além de sutil. Não precisa nem mesmo ser convincente, basta ser desculpa "cara".
O mundo está cheio de Homens com “H” e seria de bom tom que o nome deles também não saísse tão facilmente dos lábios humanos. Para eles o devido e real repúdio, a herança com “H” cabível a todo covarde, aproveitador das fraquezas comuns de todo miserável pobre de pensamento.
A violência real só faz vítimas, as idéias são a história e é importante notar quando calam com mágoa a pronúncia dos acontecimentos.
Jussara Paschoini