segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

ATITUDE ATRAI ATITUDES





Ele fez cobertura jornalística da segunda guerra, escreveu sobre o que viu com personalidade de quem não se conforma, com poesia de quem quer emprestar beleza aos injustiçados, com a simplicidade dos francos, foi chamado de víbora e creio que, empertigadamente, apontado como patético por Nelson Rodrigues, enquanto fumegava as teclas de uma máquina de escrever. Um discurso doce e envenenado por uma qualificada visão da realidade, sem enfeite, sem drama, com observação e sentimento. Assisti a um documentário feito por um amigo, um parceiro de livros publicados e admirador. Confesso, comunguei do intento e pronto.

Há pessoas que nunca vimos, conhecemos e pouco delas ouvimos falar, e um belo dia por acaso ou por obra de alguém empenhado nos são apresentadas, por partes relevantes de seus pensamentos e pelo conteúdo de suas ações. Então ficamos sabendo desses "alguéns", às vezes nem mais vivos estão, mas ficamos sabendo e somos tocados por aquela presença, a força articulada de suas vidas e destinos, histórias contadas e modos encantados batem às nossas portas e quando atendemos esses estranhos estão lá como se fossem velhos companheiros a quem de repente abrimos os braços.

Nesse mundo louco, de pressa e carnaval, de intimidades escusas e velozes, alguém nos chega por nada com o que de si restou sem restar e nos capta, nos convence, nos importuna, fortalece e modifica para sempre no fundamental fenômeno das atitudes que atraem atitudes.

Isso mostra que a ação humana partidária de si e de sua distinção, aparências e metafísica à parte, ultrapassa os limites das possibilidades realísticas e se torna permanente à disposição de certo resgate e sequência inarredável com relação aos acontecimentos.

Diversamente, os atos de violência e usurpação, para os quais não se pode negar presença em face de intrínseca característica invasiva, repetem traumas improdutivos e embora às vezes pretensos da defesa de alguma ordem revolucionária, redundam num retrato de poderes enojantes de feições muito parecidas. Plantam a hipocrisia como paz e colhem sectarismo como combustível.

Portanto, quando o rumo dos fatos continua na direção desses poderes cáusticos, é na atitude que atrai atitudes, na oposição valente não estanque nas palavras e perene como convite e ação antagônica  para o presente e para o futuro, onde se realinha o curso profundo do valor histórico, voluntário e apropriado a nossas atenções.

Violência e usurpação e nisso fique alardeada, inclusa e registrada a corrupção escancarada e arrogante de discursos pseudo-éticos dolorosamente desvirtuados, são as máculas originárias corrosivas e oponentes de tudo quanto há para as conquistas humanas importantes e alcançáveis.

Nossa atitude atraente ao quanto nos condiz mostra onde vamos chegar, se caminhamos para frente ou se corremos atrás do próprio rabo, crentes duma mordida certeira na própria carne.

Jussara Paschoini





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