Ele fez
cobertura jornalística da segunda guerra, escreveu sobre o que viu com
personalidade de quem não se conforma, com poesia de quem quer emprestar beleza
aos injustiçados, com a simplicidade dos francos, foi chamado de víbora e creio
que, empertigadamente, apontado como patético por Nelson Rodrigues, enquanto
fumegava as teclas de uma máquina de escrever. Um discurso doce e envenenado
por uma qualificada visão da realidade, sem enfeite, sem drama, com observação
e sentimento. Assisti a um documentário feito por um amigo, um parceiro de
livros publicados e admirador. Confesso, comunguei do intento e pronto.
Há pessoas
que nunca vimos, conhecemos e pouco delas ouvimos falar, e um belo dia por
acaso ou por obra de alguém empenhado nos são apresentadas, por partes
relevantes de seus pensamentos e pelo conteúdo de suas ações. Então ficamos
sabendo desses "alguéns", às vezes nem mais vivos estão, mas ficamos sabendo e
somos tocados por aquela presença, a força articulada de suas vidas e destinos,
histórias contadas e modos encantados batem às nossas portas e quando atendemos
esses estranhos estão lá como se fossem velhos companheiros a quem de repente
abrimos os braços.
Nesse mundo
louco, de pressa e carnaval, de intimidades escusas e velozes, alguém nos chega
por nada com o que de si restou sem restar e nos capta, nos convence, nos
importuna, fortalece e modifica para sempre no fundamental fenômeno das
atitudes que atraem atitudes.
Isso mostra
que a ação humana partidária de si e de sua distinção, aparências e metafísica
à parte, ultrapassa os limites das possibilidades realísticas e se torna permanente
à disposição de certo resgate e sequência inarredável com relação aos
acontecimentos.
Diversamente,
os atos de violência e usurpação, para os quais não se pode negar presença em
face de intrínseca característica invasiva, repetem traumas improdutivos e
embora às vezes pretensos da defesa de alguma ordem revolucionária, redundam
num retrato de poderes enojantes de feições muito parecidas. Plantam a
hipocrisia como paz e colhem sectarismo como combustível.
Portanto, quando
o rumo dos fatos continua na direção desses poderes cáusticos, é na atitude que
atrai atitudes, na oposição valente não estanque nas palavras e perene como
convite e ação antagônica para o presente e para o futuro, onde se realinha o curso
profundo do valor histórico, voluntário e apropriado a nossas atenções.
Violência e
usurpação e nisso fique alardeada, inclusa e registrada a corrupção escancarada
e arrogante de discursos pseudo-éticos dolorosamente desvirtuados, são as
máculas originárias corrosivas e oponentes de tudo quanto há para as conquistas
humanas importantes e alcançáveis.
Nossa atitude
atraente ao quanto nos condiz mostra onde vamos chegar, se caminhamos para
frente ou se corremos atrás do próprio rabo, crentes duma mordida certeira na
própria carne.
Jussara Paschoini
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