segunda-feira, 12 de novembro de 2012

A INSUSTENTÁVEL DIFERENÇA ENTRE SER E AGIR




É engano usual diferenciar o fato da atitude, o que é do que age. Não obstante, os fenômenos são realidade e esta não se curva ou se submete ao suposto ou dogmatizado como distinto. O ser apartado do que é e que age ou deixa de agir, não é dual, e por isso não se mantém cercado por uma linha imaginária capaz de separá-lo de suas ações.

O ser deseja, pensa, age, afeta e é afetado e trata-se de uma ilusão criar compartimentos estanques do que é para justificar ou condenar ações enquanto matéria da moral vigente. É perfeitamente possível se agir em desacordo com a vontade numa perspectiva de eventual estupidez sim, todavia, o fato não se altera pela interpretação dada a ele.

 Somos o que somos e isso não nos aparta de nossos atos para nos fazer melhores ou piores, bons ou maus, mais ou menos livres ainda que a razão e a emoção nos ofereçam instrumentos para tanto pela sensibilização e construção de conceitos donde alcançamos diferentes graus de satisfação egóica capaz de doar e de roubar pelo mesmo motivo.(Shopenhauer) 

Dito isto, é visível não sermos morais ou imorais, mas fenômenos sujeitos a interpretação própria e alheia no pautar de nossas atitudes, somos um meio ao que está por vir e não um fim, daí não haver definição suficiente para nós e a impertinência teórica da fragmentação.

Fragmentar a si em nome da moral apartando o ser da atitude é um desrespeito à vida que subtrairá de si o sentido e a vontade essencial onde se reconhece o semelhante, o afeto e a singularidade exigível como resposta para tanto nas diferenças individuais.

Ser diferente é agir diferente no suprassumo de apropriar-se inteiramente de si, o que não pode ser negado em ação ou mesmo em omissão. Lógico, tal façanha poderá implicar em alguma descompensação moral e até mesmo física cujo valor somente terá sentido mediante consciência volitiva, integração de escolhas entre o insuportável e o superável sem o comodismo ilusionista dos meros efeitos, nisso obviamente incluídos dinheiro, status, paz etc.

O hiato moral de ser causa independente de efeito é manifesto de lucidez, não significa porém garantir a causa como definição de si, apenas aperfeiçoar o domínio e modulação desta na medida da própria capacidade de ser afetado e de afetar, assumindo riscos potenciais indissociáveis da existência.

A insustentabilidade da diferença entre ser e agir repercute na autonomia de criar um mundo para si interpretando-o através de si na sujeição histórica de cognição aberta, múltipla e universal de conteúdos, bem como no constante confronto e ou identificação cultural entre semelhantes por essência reconhecidos como tal em compaixão.

Jussara Paschoini




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