É engano usual
diferenciar o fato da atitude, o que é do que age. Não obstante, os fenômenos
são realidade e esta não se curva ou se submete ao suposto ou dogmatizado como
distinto. O ser apartado do que é e que age ou deixa de agir, não é dual, e por
isso não se mantém cercado por uma linha imaginária capaz de separá-lo de suas
ações.
O ser deseja,
pensa, age, afeta e é afetado e trata-se de uma ilusão criar compartimentos
estanques do que é para justificar ou condenar ações enquanto matéria da moral
vigente. É perfeitamente possível se agir em desacordo com a vontade numa
perspectiva de eventual estupidez sim, todavia, o fato não se altera pela
interpretação dada a ele.
Somos o que somos e isso não nos aparta de
nossos atos para nos fazer melhores ou piores, bons ou maus, mais ou menos
livres ainda que a razão e a emoção nos ofereçam instrumentos para tanto pela
sensibilização e construção de conceitos donde alcançamos diferentes graus de
satisfação egóica capaz de doar e de roubar pelo mesmo motivo.(Shopenhauer)
Dito isto, é
visível não sermos morais ou imorais, mas fenômenos sujeitos a interpretação
própria e alheia no pautar de nossas atitudes, somos um meio ao que está por
vir e não um fim, daí não haver definição suficiente para nós e a impertinência
teórica da fragmentação.
Fragmentar a si
em nome da moral apartando o ser da atitude é um desrespeito à vida que
subtrairá de si o sentido e a vontade essencial onde se reconhece o semelhante,
o afeto e a singularidade exigível como resposta para tanto nas diferenças
individuais.
Ser diferente é
agir diferente no suprassumo de apropriar-se inteiramente de si, o que não pode
ser negado em ação ou mesmo em omissão. Lógico, tal façanha poderá implicar em
alguma descompensação moral e até mesmo física cujo valor somente terá sentido
mediante consciência volitiva, integração de escolhas entre o insuportável e o
superável sem o comodismo ilusionista dos meros efeitos, nisso obviamente
incluídos dinheiro, status, paz etc.
O hiato moral
de ser causa independente de efeito é manifesto de lucidez, não significa porém
garantir a causa como definição de si, apenas aperfeiçoar o domínio e modulação
desta na medida da própria capacidade de ser afetado e de afetar, assumindo
riscos potenciais indissociáveis da existência.
A
insustentabilidade da diferença entre ser e agir repercute na autonomia de criar
um mundo para si interpretando-o através de si na sujeição histórica de
cognição aberta, múltipla e universal de conteúdos, bem como no constante
confronto e ou identificação cultural entre semelhantes por essência
reconhecidos como tal em compaixão.
Jussara Paschoini
Nenhum comentário:
Postar um comentário