sábado, 7 de junho de 2014

AS TRABALHADORAS DO SEXO E AS CAPAS DE REVISTA


Quem não escutou “A flor da noite da boate azul” e não fantasiou uma vida de bordel não tem imaginação, não obstante, é sabido que vida de prostituta não é bem assim, embora possa ser uma opção e uma opção rentável.

São inúmeros nomes e pseudônimos sugestivos da execução de serviços da ordem sexual e enorme o uso desses serviços capazes de alcançar semelhança clara com um salão onde se faz unha, barba e cabelo.

Cogita-se atualmente a legalização da putaria e eu como advogada já me imagino numa audiência trabalhista com três testemunhas depondo que a reclamante fazia massagens, não, fazia sexo entre as 10h e as 22h ininterruptamente só com meia hora para descanso e alimentação, tendo portanto além dos salários e comissões que lhe foram pagas uma pendência de pagamento do acréscimo de 100% de horas extras (quatro por dia) não pagas conforme dissídio da categoria. Seria bonito, se fosse mentira e muito feio se fosse possível, mas não é, e por conseguinte eu lamento mas prostituta de verdade e por opção não pode ser empregada, é profissional liberal, escolhe o cliente, faz o preço e trabalha quando quer, caso contrário é explorada indevida e repulsivamente em algo de sua exclusiva propriedade, o corpo. Nessa razão acho ridículo e aviltante um povo que vem gritando a regularização da profissão como se pudesse ser atividade pertinente a admitir patrão.

Nada obsta que por discrição, certa autonomia e formalidade, inclusive para efeitos previdenciários, se confira inscrição a massagistas corporais que poderão passar recibo ou nota fiscal, conforme o vulto do negócio e as associações que fizerem, entretanto uma coisa é certa, quem escolhe vender o próprio corpo e intimidade, não pode ter patrão porque isso se assemelha a ter dono num ponto muito próximo da escravidão para ser legal.

Discordo que crianças e pessoas fragilizadas em geral fiquem mais submissas do que a fantasia permite ao sentido de que uma vida de bordel tenha algo de poético e de belo: a realidade é violenta e doente tanto psicológica quanto fisicamente, além de não ter absolutamente nada de rebelde e revolucionária, trata-se mesmo de uma submissão total de uma entrega absoluta de si cuja aventura é mais conhecida em hospitais e necrotérios do que nos relatos de uma vida fácil em aventuras que terminariam num casamento milionário ou numa boate animada com uma transadinha e outra inofensiva ao fim da noite. Na maioria das vezes a situação é mesmo bem próxima da escravidão.

Não faço pouco e nem condeno quem raramente tem estômago e cérebro para ser profissional com a própria intimidade e lucrar com isso, além do que, reconhecer a prática lamentavelmente consagrada desde os tempos bíblicos, da prostituição, é fato, como chorar ou sorrir diante do inevitável, sem no entanto, deixar de esperar por um tempo melhor, onde isso, efetivamente não seja mais tão praticado explícita ou implicitamente.

Não raro também é que a beleza traga o estigma de vender bem e mesmo quem só mostra a bundinha na frente das câmeras, de certo modo, cedeu a ser só um corpo e não se toca do ridículo de se esforçar imensamente para mostrar ter algum cérebro por trás da casca quando a escolha já foi feita e o cachê já desmente qualquer esforço de pensamento, no que acaba por meramente configurar um repeteco de jargões em voga, uma ofensa vagabunda com moral de meliante, para a qual tenho vontade de sugerir grotesca posição ao indicador costumeiramente ereto na direção de quem quer que seja.

Quem opinou por ser só bonitinha porque foi “abençoada” não enfrentou o desafio de ser bela e vale o quanto mostra, e mesmo que isso seja muito e em dólar, não adianta carregar gravador e vomitar operetas, está no nível daquelas que nunca pretendeu ser e luta tão desesperadamente para esconder.


Jussara Paschoini

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