Quem não
escutou “A flor da noite da boate azul” e não fantasiou uma vida de bordel não
tem imaginação, não obstante, é sabido que vida de prostituta não é bem assim,
embora possa ser uma opção e uma opção rentável.
São inúmeros
nomes e pseudônimos sugestivos da execução de serviços da ordem sexual e enorme
o uso desses serviços capazes de alcançar semelhança clara com um salão onde se
faz unha, barba e cabelo.
Cogita-se
atualmente a legalização da putaria e eu como advogada já me imagino numa
audiência trabalhista com três testemunhas depondo que a reclamante fazia
massagens, não, fazia sexo entre as 10h e as 22h ininterruptamente só com meia
hora para descanso e alimentação, tendo portanto além dos salários e comissões
que lhe foram pagas uma pendência de pagamento do acréscimo de 100% de horas
extras (quatro por dia) não pagas conforme dissídio da categoria. Seria bonito,
se fosse mentira e muito feio se fosse possível, mas não é, e por conseguinte
eu lamento mas prostituta de verdade e por opção não pode ser empregada, é
profissional liberal, escolhe o cliente, faz o preço e trabalha quando quer,
caso contrário é explorada indevida e repulsivamente em algo de sua exclusiva
propriedade, o corpo. Nessa razão acho ridículo e aviltante um povo que vem gritando
a regularização da profissão como se pudesse ser atividade pertinente a admitir
patrão.
Nada obsta que
por discrição, certa autonomia e formalidade, inclusive para efeitos
previdenciários, se confira inscrição a massagistas corporais que poderão passar
recibo ou nota fiscal, conforme o vulto do negócio e as associações que
fizerem, entretanto uma coisa é certa, quem escolhe vender o próprio corpo e
intimidade, não pode ter patrão porque isso se assemelha a ter dono num ponto
muito próximo da escravidão para ser legal.
Discordo que
crianças e pessoas fragilizadas em geral fiquem mais submissas do que a
fantasia permite ao sentido de que uma vida de bordel tenha algo de poético e
de belo: a realidade é violenta e doente tanto psicológica quanto fisicamente,
além de não ter absolutamente nada de rebelde e revolucionária, trata-se mesmo
de uma submissão total de uma entrega absoluta de si cuja aventura é mais
conhecida em hospitais e necrotérios do que nos relatos de uma vida fácil em
aventuras que terminariam num casamento milionário ou numa boate animada com
uma transadinha e outra inofensiva ao fim da noite. Na maioria das vezes a
situação é mesmo bem próxima da escravidão.
Não faço pouco
e nem condeno quem raramente tem estômago e cérebro para ser profissional com a
própria intimidade e lucrar com isso, além do que, reconhecer a prática
lamentavelmente consagrada desde os tempos bíblicos, da prostituição, é fato,
como chorar ou sorrir diante do inevitável, sem no entanto, deixar de esperar
por um tempo melhor, onde isso, efetivamente não seja mais tão praticado
explícita ou implicitamente.
Não raro também
é que a beleza traga o estigma de vender bem e mesmo quem só mostra a bundinha
na frente das câmeras, de certo modo, cedeu a ser só um corpo e não se toca do
ridículo de se esforçar imensamente para mostrar ter algum cérebro por trás da
casca quando a escolha já foi feita e o cachê já desmente qualquer esforço de
pensamento, no que acaba por meramente configurar um repeteco de jargões em
voga, uma ofensa vagabunda com moral de meliante, para a qual tenho vontade de
sugerir grotesca posição ao indicador costumeiramente ereto na direção de quem
quer que seja.
Quem opinou por
ser só bonitinha porque foi “abençoada” não enfrentou o desafio de ser bela e
vale o quanto mostra, e mesmo que isso seja muito e em dólar, não adianta
carregar gravador e vomitar operetas, está no nível daquelas que nunca
pretendeu ser e luta tão desesperadamente para esconder.
Jussara Paschoini
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