A já não tão
inovadora possibilidade de guiar ações virtuais aponta para exposição
instantânea de um grande número de vontades facilitadas e simplificadas por não
existirem de fato e por isso mesmo favorecerem ao experimento inconsequente. Entretanto,
tal não leva à conclusão de que o virtual seja sempre continente de uma causa
destituída de efeitos. Relacionamentos virtuais, compras virtuais, cursos
virtuais, livros e textos virtuais, filmes, espaços publicitários, enfim uma
enorme gama de canais disponíveis põe a mostra um meio de comunicação dos mais
eficientes, com oferta de material ideológico variado e rapidez.
Sem o óbice de
notar a inserção alienada e acidentada pelo mero consumismo massificado
enquanto essencial à óbvia e retumbante crítica à vida virtual, seria
involutivo desconsiderar a base potencial do instrumental tecnológico a favor
de superar limites físicos, espaciais e temporais atendendo ao ânimo das
pessoas claramente intencionadas em interagir.
Partindo desta
visão cabe invocar que o racional e o emocional continuam fundamentais ao
subjetivo, tanto na sua sustentação quanto na instauração de suas experiências,
inclusive as virtuais, aliás, permitentes a alçar vontades menos limitadas e
satisfações mais imediatas, não significando isso a necessária queima de etapas
lógicas como imponente digital dissonante de uma vivência integrada.
O virtual é
essencialmente presente e daí a sua insuficiência em termos de existir como
experiência total já que não exatamente possui um passado identificável ou um
futuro efeito. Podemos encontrar água no mais belo copo de cristal virtual, mas
ela não proveio de nenhuma nascente genuína e nem matará a sede, muito embora
possa traduzir, talvez e até melhor a sensação de conforto e saciedade pretensa
ao momento num contexto conotativo relevante.
Desta
disposição ao momentâneo e ao imediato são identificáveis dois possíveis rumos
da ação virtual: o de se perder na falta de realidade ou o de ficar represada
no ser ativado apenas parcialmente em termos de efetivar sua experiência, donde
surge um alerta para a inexistência bastante característica da conveniência
experimental destituída de efeitos e, portanto, livre de vínculos e de fluidez neste tipo de “universo paralelo”.
Há que se
salientar, por outro lado, que a máquina virtual garantiu em termos matemáticos
e de marketing a suficiente vinculação de seus usuários diante da perfeita
possibilidade de tornar eletrônicos tanto os créditos e débitos quanto os
demais exponentes de relação numérica elaborada por experts, tudo numa clara evidência
da concreticidade da reponsabilidade jurídica cogitável em termos de
contraprestações obrigacionais relacionadas.
Internet deveria ser plena de
velocidade e gratuita ou pelo menos muito barata em face das vantagens
acopladas aos megabytes disponíveis e não sustentáveis por si só.
É, contudo, o
instrumento virtual interativo subjetivo e objetivo para efeitos cognitivos de
toda ordem individual e social, o fato interessante para avaliar a experiência
enquanto relação entre causa e efeito em termos da evolução de propostas
potencializadas pela obstusão de oferendas digitalizadas do livre acesso à
informação, circunstância nem sempre atrelada à assimilação e realização
plausível.
Visível em
termos virtuais é a instituição de causas potencializadas sem efeito próprio
porque efeito não é característica desse instrumento, mas de quem o guia e isso
significa que a intersubjetividade descomprometida simplesmente traduz
inexistência tanto do ponto de vista ético quanto do ponto de vista moral, ou
seja, tanto de caráter individual quanto social, respectivamente.
A incompletude
da experiência estanque no universo virtual não se disponibiliza efetivamente
contrária à violência, não se ativa em qualquer finalidade e não ultrapassa a
necessidade teórica para a possibilidade de mudança, a não ser que haja ação
humana consciente.
Então, se a
amplitude virtual acomodar a sensibilidade e isolar a vontade no campo das
satisfações imediatas, o que é monólogo ou diálogo fica destituído da função de
mediar teoria e prática e, por conseguinte, de realizar qualquer finalidade, “tomando
o inócuo, o inofensivo e o passivo como moldura tecnológica para o consumo
diário” (Norris).
O contraponto
da vida real versus vida virtual opinará por regra moral sagrada numa lógica
elementar e até precária, em justificar a prevalente manutenção do “status quo”
crente numa opção justa aos verdadeiros fatos e até sacrifícios, ainda que não subsistam robustas razões para isso, ainda que se relegue toda a dedicação e
iniciativa inteligente e sensível também intermediada pelo forte instrumental
daquela última principalmente se for reflexo de indivíduos bem formados, conscientes e
maduros em interação.
A inexistência
ética e moral bem como a insuficiência gradual cognitiva enquanto efeito
virtual não caracteriza sequer um episódio, porque não há transição e sim mera
exposição mutante, disforme, cabível em qualquer aspiração, até nas mais
involuntárias. Somente o abandono desse aspecto conveniente e ao mesmo tempo
abjeto é adequado a conferir substância ao ser interativo na transformação da realidade, na apropriação das aberturas tecnológicas de forma atenta aos ímpetos de revolução e mudança
nas relações humanas de valor edificante, capazes de efetivamente enfrentar as
adversidades do egocentrismo e da hiper-reatividade pós-moderna sem prejuízo de compatíveis avanços.
Jussara Paschoini
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