segunda-feira, 17 de setembro de 2012

O DESAFIO DE MOLDAR ENERGIA NA PRODUÇÃO DA ESTÉTICA E OS GAMES EDUCACIONAIS





No campo jurídico existe a figura da “coação moral irresistível” como meio excludente de culpabilidade, ou seja, se estabeleceu na relação do indivíduo com o mundo exterior, notadamente com o seu semelhante, a circunstância de estar de tal forma pressionado por uma versão de certo e errado frente a uma manifestação da própria vontade, ao ponto de não medir os efeitos de um ato que se torna então acidental e produz um dano, um prejuízo e uma contrariedade no mundo das regras comportamentais de relevo social.

A figura da coação moral irresistível traz também um elemento de maior subjetividade ao incorporar na pressão coatora o caráter irresistível, confrontando o comportamento individual com a capacidade de resistir  para gerar a noção de que à maioria das pessoas ou mesmo a qualquer sujeito, a ação desfigurada diante da regra não pudesse ser diferente, traduzindo uma consequência instintiva comum e inevitável.

Tratou-se de sagrar um instinto diante de uma prioridade numa ação natural diante de um fato social desequilibrado e que como tal não produz justa responsabilidade, liberando a ação delituosa de efeito jurídico reverso.



Ao criar a máquina, o humano se encontrava compelido não só por sua capacidade criadora como pela necessidade de instrumentalizar melhores ações e também por aprimorar e garantir melhores e maiores resultados, com isso realizou boa parte do interesse evolutivo e ao mesmo tempo gerou inegáveis contradições no mundo social, sendo uma em especial, irresistível ao confronto: a possível substituição do homem pelo aparelho e a desvalorização biológica e cultural como complexa fonte dos domínios da inteligência e fundamento das ações.

Não é, contudo, a Revolução Industrial e seus movimentos líbero antagônicos a matéria vigente em termos deste confronto, mas sim, a derivação binária esplendorosa de componentes, blocos, circuitos, complexos agrupados com controle de tensão e intensidade energética suficientes a ativar inúmeras ações eletrônicas através de micro sistemas, o que hoje efetiva a grande inovação tecnológica emergente e alucinada nos ainda insolúveis dilemas entre humano e tecnológico.

O homem criou a máquina dual a sua imagem e semelhança por necessidade e no que se expressa sua relação valiosa e suprema com o mundo é um jogador, tratante de grandes tarefas, principalmente ao conviver e transformar contradições.

A ética existe para o indivíduo, a moral para a sociedade e a estética é o desafio do jogo.



Diante disso, o universo eletrônico dos games é também reflexo representativo da luta cuja meta é acontecer, o criar e destruir, emocionar, sublimar, fatalizar, enfim compreender a vida como arte para além do bem e do mal nas amarras desfeitas por Nietzsche em respeito ao trágico na elaboração do prazer.

O encontro dos três principais componentes ativados na composição lúdica desse rosto de vir a ser, dessa máscara virtual, qual seja: a representação gráfica, a inteligência artificial e a linguagem do computador, transferem a uma tela a infância, o tempo e a história, garantindo, por outro lado, a efetividade operacional das ficções onde a brincadeira ganha seriedade, não por dever, mas por estética.

O jogo virtual retira do cenário a inocência típica do complexo cultural e é em si e por si só uma transfiguração estética da existência, surge como perspectiva dissonante da realidade e não como uma atitude dissonante propriamente dita ou uma indução por métodos físicos ou químicos, com a vantagem de possibilitar fenômenos da criatividade pela criação.

Processadores de energia, transformadores, retificadores e inversores ditam a modulação de forças importantes a simbolizar ações entrecruzadas entre corpo, movimento e percepção em diferentes dimensões, planos de construção social contemporânea e o abandono de um mundo por outro de símbolos diferentes na instituição da disputa, sorte, aventura e drama, preservando o caráter amoral, liberto de finalidades do jogo artístico por isso mesmo.

Também possivelmente, o irresistível deixa de ser da ordem instintiva e de obedecer a um padrão num universo de significados compartilhados, legitimando a atividade desfigurada pela inocorrência de dano real.


Então, da estética derivada do virtual há que se questionar não propriamente a sua falta de humanidade, mas a relevância ou não do imperativo crítico subjetivo a se estabelecer como agente simbiótico do complexo cultural não artificial e da base biológica natural, aderindo à simbologia característica para refletir efetiva realização a partir do mundo ficcional, nisto constituindo-se um apontamento da ordem educacional bem dirigida pelo estímulo da capacidade moral autônoma imprescindível ao idealismo pluralista como contraponto ao preconceito idealista e à autoconsciência egocêntrica.

É coerente até mesmo apartar o virtual do ficcional para compreender que este último teria por origem contextualizar-se como instrumento educacional e não como simples lazer, de maneira a estabelecer uma ponte cultural que tomasse em consideração as naturais etapas construtivas do conhecimento e a formação de categorias do pensamento mediante apresentação de conteúdo histórico-científico interessante beneficiado pela interação digital.

A criação para o criativo, no caso, estaria, inclusive, juridicamente amparada pelo conteúdo de ensino de obras clássicas, como também liberada à releitura eletrônica de inúmeros personagens e identidades que, virtuais, estariam abertas à renovação nominal, visual e interativa pela conexão com cenários e dinâmicas redefinidas, graduadas assim pela necessidade ou não de vínculos autorais respectivos.

Para a educação a perspectiva fenomenológica do jogo não só serviria ao instrumental disponível, principalmente em matéria de interação e intercâmbio, como também seria substância fundamental na elaboração cognitiva de diversas ciências, inclusive a própria computação em seus fundamentos básicos de programação até a formulação dos designs de tela.

Deste modo, o valor tecnológico, retrato de uma revolução sem precedentes pede por sua consagração estética e isso, bem pensado, como deve ser entre humanos, compactua com a educação qualificada pela autonomia da capacidade moral e pautada pelo pluralismo, tanto na preservação cultural quanto na realização histórica.

Jussara Paschoini


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