terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

AMIZADE, JÁ ADQUIRIU A APÓLICE?



Amizade é o termômetro da felicidade, o retrato da bondade, a prova cabal de honestidade.

Por outro lado, tão rico valor é também a bandeira defensora da incapacidade lógica de quem presume, em vida, cultivar uma morte sorridente em boa companhia, esta última, deve-se assinalar, em sofística cabível, com a capacidade crítica considerável de um intestino, para ocasionar apenas e tão somente um tapar de narinas, se feder por muito tempo.

Faça da amizade, de seus pretensos possuidores, as melhores imagens da vitória social.

A apólice da amizade bem sucedida rende benefícios a curto, médio e longo prazo sob a forma de convites convincentes ao divertido de quem conseguir fingir melhor, regado pelo entorpecente da época, preferencialmente, o mais caro da estação, concluindo-se na partilha não menos interessante e dramática de dores de cabeça não menos invejáveis.

Ousar dispensar tão cotada apólice afronta o dever cívico de pertencer aos bem vistos, mesmo que por olhos muito gordos de quem apela criminosamente ao íntimo sempre que o rico e paranóico imaginário coletivo é contrariado.

Sim, porque a crítica intestinal não dispensa abusar de sua falta de vergonha, apela descarada ao íntimo, sempre alheio, para se prevalecer, segura de haver acertado um alvo fácil dando no saco e circundantes que não lhes pertencem.

Golpe baixo mais legítimo para manter tudo com o mesmo gostinho de sempre, lambendo as nádegas de quem der o melhor lance na renovação da apólice, afinal, esse é o jantar de amanhã, a festa do ano, o múltiplo orgasmo com o mais recente modelo de vibrador.

Amizade verdadeira, em um modesto mais sincero ponto de vista, não aparece e tem o gosto que for preciso, tem a liberdade de variar do doce ao amargo, na hora que menos se espera, é inevitável presente, como umbigo, uma cicatriz integrante de nossa fisiologia, sujeita sim, a ser apagada pelo tempo e até aniquilada pela desconfiança, mas não sem antes nos tornar um alguém especial, um alguém que teve um amigo e cresceu em alma.

Jussara Paschoini

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