segunda-feira, 20 de agosto de 2012

A EMBLEMÁTICA FEMININA DA OFENSA



A sexualidade passiva, a maternidade e as diferentes formas de opressão marcaram a presença do “sexo frágil” em diversos movimentos sociais, inclusive no feminismo, que, aliás, a exemplo de tantas outras manifestações coletivas não é unificado e varia de acordo com o desequilíbrio considerado entre o indivíduo, no caso, a mulher, e o ambiente, pelo estresse e afrontamento relacionados.

Não há na circunstância opressora invocadora da necessidade de redefinições sociais, nada que atenue ou desagrave o histórico relegado da diferença feminina e daí a ofensa enquanto manifesto visível do descontentamento, ser naturalmente crivada e legitimada nas atitudes das mulheres.

O afrontamento masculino sempre foi mais peculiar na tendência ao culto à personalidade na disputa pelo poder e na sua manutenção mediante uso da força e da violência revezadas nas diferentes formas de ascensão e dissensão política, até bem pouco tempo, exclusiva do gênero.

Disto advém que nas religiões predominantes, onde o estigma da fragilidade feminina há muito reduz a mulher à função procriadora com demonização sexual, o afrontamento masculino encontre particular forma de intermediação para o exercício do poder sem ofensa e, portanto, com maior ênfase no culto à personalidade na manutenção do poder autoritário pela força e ameaça física ou moral.

Em suma, a política típica dos homens se baseia na personalidade e a política típica das mulheres, se não for um simples arremedo guiado pelos ditames masculinos, enquanto ponto a se considerar, se baseia na afronta e na ofensa de forte expressão sexual, vez que aí reside toda a base tanto da acomodação quanto da atitude da fêmea divergente e avessa aos atos de violência não preponderantes de sua condição estratégica natural.

O abuso e a sedução são armas tipicamente femininas principalmente porque notados como tal, sempre foram objeto de repressão, no entanto, não se deve ignorar que nessa seara impactante, com vistas à redefinição de papéis sociais, surgem também os resquícios da fragilização com a possível e lamentável preconcepção da ofensa em toda a tangência contrária ao feminino, o que traduz lamentável retrocesso da temática revolucionária capaz de ganhar dimensão nas esferas políticas.


A feminilidade da ofensa não pode ser confundida com ofensa ao feminino, em uma se tem a tipicidade afrontosa e em outra se tem a particularização do alvo feminino por suposta sagração ou oposta profanação, numa condição deturpadora redundante na impressa falta de potencial da irreverência pretensa de avanço ideológico e social.

Por outro lado, a emblemática feminina da ofensa não detém e nem se fundamenta no monopólio dessa forma de afronta, mas é, antes de tudo, um modo de legitimar oposições reconhecíveis com predominância da força intuitiva e intelectual diante das provocações que se fizerem plausíveis sob a ótica da moral vigente na vida social.

Observado o semblante da ofensa por sua sutileza, não obstante marcada pela afronta e pelo abuso, é de se interpretar que se a atitude assim rebelde é marca impactante avessa à violência dos oponentes, a reação contra tal tenciona não ter a mesma linha ou proporção e ativar-se em métodos de crescente repressão, justamente pelo despreparo e indisposição à maleabilidade, enquanto foco dos disfarces de manutenção da ordem autoritária no culto à personalidade e à idolatria.

O escopo aqui é deixar muitíssimo claro que a ofensa não é livre de oposições e se assim fosse não seria ofensa, mas violência, o que leva a concluir que a afronta de semblante feminino não é alvo frágil e nem passível de rigor destituído de correspondente sutileza, é sim, contundente e válida forma de ativação antagônica no campo das divergências sociais, políticas e econômicas de relevo.

Para a ofensa cabe avaliação crítica e resposta compatível e não ativação dos mecanismos protetores testosterônicos da estereotipada massa familiar, a qual, inconscientemente, sofre lesões mais graves por parte daqueles intitulados como benevolentes “salvadores da pátria” em seus exércitos e tribunais apócrifos.

Cabe ainda notar com certo pesar que na contrapartida da emblemática feminina da ofensa, os avanços publicitários e a modelação da beleza vêm acenando com díspar culto à personalidade feminina, aparentemente capitalizando ao fútil e ao vulgar um similar masculino a produzir padrões ditatoriais de comportamento “andrógino” destinado a hierarquizar pelo poder de consumo a expressão do indivíduo na sociedade.

O impacto da beleza é inquestionável, seu valor, relativo.  A afronta, no entanto, não tem sentido e nem é política, mas meramente expositiva e sexista, morre em si mesma num orgasmo rápido e autônomo para ser visto e admirado, mas, por favor, não confundido.


Jussara Paschoini 

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