A sexualidade
passiva, a maternidade e as diferentes formas de opressão marcaram a presença
do “sexo frágil” em diversos movimentos sociais, inclusive no feminismo, que,
aliás, a exemplo de tantas outras manifestações coletivas não é unificado e
varia de acordo com o desequilíbrio considerado entre o indivíduo, no caso, a
mulher, e o ambiente, pelo estresse e afrontamento relacionados.
Não há na
circunstância opressora invocadora da necessidade de redefinições sociais, nada
que atenue ou desagrave o histórico relegado da diferença feminina e daí a
ofensa enquanto manifesto visível do descontentamento, ser naturalmente crivada
e legitimada nas atitudes das mulheres.
O afrontamento
masculino sempre foi mais peculiar na tendência ao culto à personalidade na
disputa pelo poder e na sua manutenção mediante uso da força e da violência
revezadas nas diferentes formas de ascensão e dissensão política, até bem pouco
tempo, exclusiva do gênero.
Disto advém que
nas religiões predominantes, onde o estigma da fragilidade feminina há muito
reduz a mulher à função procriadora com demonização sexual, o afrontamento
masculino encontre particular forma de intermediação para o exercício do poder
sem ofensa e, portanto, com maior ênfase no culto à personalidade na manutenção
do poder autoritário pela força e ameaça física ou moral.
Em suma, a
política típica dos homens se baseia na personalidade e a política típica das
mulheres, se não for um simples arremedo guiado pelos ditames masculinos,
enquanto ponto a se considerar, se baseia na afronta e na ofensa de forte
expressão sexual, vez que aí reside toda a base tanto da acomodação quanto da
atitude da fêmea divergente e avessa aos atos de violência não preponderantes
de sua condição estratégica natural.
O abuso e a
sedução são armas tipicamente femininas principalmente porque notados como tal,
sempre foram objeto de repressão, no entanto, não se deve ignorar que nessa
seara impactante, com vistas à redefinição de papéis sociais, surgem também os
resquícios da fragilização com a possível e lamentável preconcepção da ofensa
em toda a tangência contrária ao feminino, o que traduz lamentável retrocesso
da temática revolucionária capaz de ganhar dimensão nas esferas políticas.
A feminilidade
da ofensa não pode ser confundida com ofensa ao feminino, em uma se tem a
tipicidade afrontosa e em outra se tem a particularização do alvo feminino por
suposta sagração ou oposta profanação, numa condição deturpadora redundante na
impressa falta de potencial da irreverência pretensa de avanço ideológico e
social.
Por outro lado,
a emblemática feminina da ofensa não detém e nem se fundamenta no monopólio
dessa forma de afronta, mas é, antes de tudo, um modo de legitimar oposições
reconhecíveis com predominância da força intuitiva e intelectual diante das
provocações que se fizerem plausíveis sob a ótica da moral vigente na vida
social.
Observado o
semblante da ofensa por sua sutileza, não obstante marcada pela afronta e pelo
abuso, é de se interpretar que se a atitude assim rebelde é marca impactante
avessa à violência dos oponentes, a reação contra tal tenciona não ter a mesma
linha ou proporção e ativar-se em métodos de crescente repressão, justamente
pelo despreparo e indisposição à maleabilidade, enquanto foco dos disfarces de
manutenção da ordem autoritária no culto à personalidade e à idolatria.
O escopo aqui é
deixar muitíssimo claro que a ofensa não é livre de oposições e se assim fosse
não seria ofensa, mas violência, o que leva a concluir que a afronta de
semblante feminino não é alvo frágil e nem passível de rigor destituído de
correspondente sutileza, é sim, contundente e válida forma de ativação
antagônica no campo das divergências sociais, políticas e econômicas de relevo.
Para a ofensa
cabe avaliação crítica e resposta compatível e não ativação dos mecanismos protetores
testosterônicos da estereotipada massa familiar, a qual, inconscientemente,
sofre lesões mais graves por parte daqueles intitulados como benevolentes
“salvadores da pátria” em seus exércitos e tribunais apócrifos.
Cabe ainda
notar com certo pesar que na contrapartida da emblemática feminina da ofensa,
os avanços publicitários e a modelação da beleza vêm acenando com díspar culto
à personalidade feminina, aparentemente capitalizando ao fútil e ao vulgar um
similar masculino a produzir padrões ditatoriais de comportamento “andrógino”
destinado a hierarquizar pelo poder de consumo a expressão do indivíduo na
sociedade.
O impacto da
beleza é inquestionável, seu valor, relativo.
A afronta, no entanto, não tem sentido e nem é política, mas meramente
expositiva e sexista, morre em si mesma num orgasmo rápido e autônomo para ser
visto e admirado, mas, por favor, não confundido.
Jussara Paschoini
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