segunda-feira, 6 de agosto de 2012

COMPETIÇÃO É O RATO ROENDO A ROUPA DO REI DE ROMA






A noção de convívio social embasador da ação do indivíduo  no universo coletivo comporta um elemento crucial para análise deste, porque não se ignora que não há igualdade entre seres humanos e muito menos entre talentos e quando o assunto é competir está-se diante de dois conceitos interligados, a vitória ou derrota, para ambas inexistindo ponderação ou meio termo.

O sacrifício do indivíduo na competição é regra e qual seja o terreno da batalha a feição inconfundível da dor se fará sentir, o que nos leva a crer que a igualdade é um emblema teórico com vistas à pacificação.

É próprio dizer que no mundo do convívio a competição e a pacificação, ambos existem e não são excludentes um do outro e, a bem da verdade, caracterizam, principalmente, quando o assunto é esporte, o que uma visão moderna pode traduzir como aprimoramento do equilíbrio das forças antagônicas.

A competição sobressalente do talento que se evidenciar diante de qualquer desafio externo, deve não só aprimorar todas as variáveis do ambiente e objetivo ao qual se aplicar, como trabalhar o refinamento mantenedor do equilíbrio acima mencionado não como empecilho da força competitiva, mas como catalizador do medo da derrota.

Não é possível saber onde começa a competição e de onde nasce o equilíbrio, mas por óbvio, consideradas as variáveis, principalmente de “sorte”, é possível deduzir que da ação competitiva refinada e, portanto, melhor, nasça um elegante senso de justiça e dele a tradução da pacificação como disfarce ao fato de que “todo mundo é parecido quando sente dor”.

Do mesmo modo, não é possível saber onde nasce o sexo e onde começa o amor, mas é possível deduzir que nesta esfera, onde a dor também se faz notar com diferentes graus de profundidade e demonstração, a competição possa ganhar refinamento e com ele um elegante senso de justiça para resultar na liberdade de desfrutar de uma vitória menos isolada e maçante e vice-versa.
  
Roer a roupa do rei de Roma, em tempos de Aids sem cura, é falar de poligamia e poliandria num mundo patriarcal onde o modelo é terrorista e xiita e a prática do esporte é decadente.

Voltando, pois, à matéria mais palpável da competição, o que se tem hoje em termos de esporte perdeu a feição da vitória e derrota e ganhou a necessidade de patrocínio, não provoca equilíbrio e participa, decentes apaixonados à parte, com torcidas doentes em busca de resultados anabólicos, sanguinários e remédios antidoping.  Não é esporte é comércio, além de frustração político-econômica.

Há exceção e há refinamento, mas aí a vitória é menos certa e menos reconhecida e, portanto, sem patrocínio.

Todavia, mesmo sem o modelo esportivo digno de valor a competição continua a fazer parte da vida social e a tornar evidente a necessidade do equilíbrio de forças antagônicas como catalizador do medo na cura das mazelas de toda a ordem desde a criminalidade até a morte milionária pelo uso de entorpecentes.

Roer a roupa do rei de Roma é falar em controle de natalidade e legalização do aborto e ao mesmo tempo implorar pela aplicação constitucional da obrigatoriedade plural de ensino, observando como acessório a prática saudável do esporte refinado e das escalas de profissionalização integradas no rumo de oportunidades evolutivas iguais para cada ciência e forma de pensamento e ação disponíveis a todos os membros da sociedade, a começar pelos menores abandonados.

Deixar o Rei de Roma pelado é vê-lo cometer suicídio diante de uma sociedade solidária e cooperativa onde a guerra se tornou relíquia e o amor é livremente vivido “na rua, na chuva,  na fazenda ou numa casinha de sapê” e todo mundo joga as mãos para os céus de vez em quando sem estar sentindo dor e muito menos medo, mas vitória.

Se Eva, talvez, sonhou com esse paraíso enquanto mordia uma maçã, o resto pode...


Jussara Paschoini



   

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