Assim como a
matemática a beleza tem símbolos e suspeita ou não, essa representatividade
lúdica das experiências de vida tem forte versão masculina. Pode ser estranho
num mundo de frufrus, cremes, maquiagens, sedas e revistas femininas que se
aponte para a macheza da beleza, mas é fato, a natureza comprova, bonitos são
os machos. Aparência é indumentária do gênero masculino, vaidade é juba, é
pluma, chifre e, nos dias atuais, entre os seres distintos por razão, mulher !
Luiz XIV e
Robert Plant são ícones de aparência cunhada pelo adorno, pela exibição de
formas, pela tonalidade variável da voz e pela ostentação. Épocas distintas,
valores distintos, mas ostentação de reis, cabeleiras, mulheres e amantes,
manifestos de arte e beleza femininas?
Sem qualquer
impressão ou preconceito homossexual a beleza é reflexo cultural da atenção e
apelos eminentemente masculinos à
submissão visual pelas relações de aparência cuja natureza ainda que efêmera,
não é de se desprezar no que tange a concepção de identidades e fronteiras no
mundo social.
Na medida em que
os valores burgueses foram substituindo os valores de nobreza, a beleza foi
ganhando ares de futilidade pela gradual retomada de valores científicos e
interesses de consumo. A futilidade dos adornos foi se associando mais e mais
às mulheres, as quais, de vez, passaram a portar a representação e o aval do
poder masculino, a simbolizar o status de seus pares, fixando limites
divisórios entre o sóbrio elegante masculino e o escandaloso extasiante feminino.
Revolução
industrial, primeira e segunda guerra mundiais, feminismo, mulher ganhando
espaço social, político e econômico, postulando por igualdade de status, sim,
tudo isso aconteceu, mas a beleza continua no domínio dos homens. É idiossincrasia
afirmar que mulher se enfeita para outras mulheres, quando se enfeitam para as
mulheres de outros homens. De fato, se
afigura muito mais uma competição de adornos masculinos do que uma competição
entre mulheres, muito embora isso nem sempre se faça perceber.
Quer discordar
discorde, mas o mundo da moda está aí para mostrar quem manda, a imprensa
ditadora de regrinhas de invasão cotidiana do efêmero faz imperar chapinhas,
barriguinhas chapadinhas, peitões siliconados, genitália e congêneres
devidamente providos de compatível índice de calvície, bundinhas torneadas e
infinita juventude. Quantas mulheres trabalham para sustentar serviços
estéticos? Quantas conseguem se tornar o glorificado adorno dos homens para
competir por eles e até quando?
Ala Szerman e conceitos de saúde e bem estar à parte, outro
fenômeno interessante são as frutíferas frenéticas e exageros proporcionais de
exuberância sexual a exteriorizar um balé ritual de luxuria de empertigar chimpanzé, primata de devida proximidade. São milhões a comprovar que macho vende e
muito!
Assim, é de
admirar que tanto se fale em crise de identidade masculina quando mulheres
ditas independentes, ainda dispendem tanto em ser adornos dos homens sem nem
sempre acertar na medida, simplesmente porque, deixaram de ser mulher, são
gordas, magras ou bem distribuídas, plus size, mignon ou saradas, tem cabelo
liso ou encaracolado, são loiras burras, morenas lindas, ruivas fogosas ou
anjos dourados da sagrada maternidade. A ordem dos fatores e adjetivos não
altera o ”produto”.
Mulher que é
bom, não se sabe quem é, vira presidente e para de sorrir, assume ares de
general de saia, não pode andar sozinha fora de hora e muito menos beber
sozinha porque isso é fim de linha, carne a venda, não interessa o grau de instrução
e nem o salário ou o gosto pela penumbra solitária com alguma embriaguez, é anúncio de perdição, abandono e tristeza.
Fazer o que?
É de todo
impertinente hierarquizar a crise e o consumo pelos gêneros e não é a oposição
destes ou a masculinidade do belo no contraste visual institucionalizado o
importante a se observar, mas a emergência de transformações sugestivas de uma
singularidade menos dependente de papeis sociais definidos, ou seja, o padrão
homem, mulher, homossexual, bissexual, simplesmente andrógino, não rompeu
barreiras, não atendeu e nem legitimou diferenças, mas delineou limites muito
mais rígidos, julgamentos menos severos porém mais precipitados, arraigados em defensivas de posições
históricas familiares, de trabalho ou mesmo de ideal atribuindo forte caráter
instrumental da materialização de imagens dissociadas do conteúdo.
As facilidades
da mídia e os interesses ali representados podem refletir a igualdade de uma
maioria subjugada por efeitos visuais e todo mundo sabe mas é bom lembrar que a
vida não para por aí mas muitas vezes o cuidado para, e o belo despenca do
pedestal, gordo ou magro, bulímico ou anoréxico, vítima de velhice ou sufocado por músculos,
anabolizantes, tinturas e irrigações químicas outras, desnaturadas.
Salve os machos
e a beleza, principalmente aquela que se sente, aquela revelação enganadora e
múltipla de cores, formas e direções, surpreendente e cega, o amor.
Jussara Paschoini
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