Nesses tempos
de protesto são inúmeras as reverberações acerca das dependências e
necessidades coletivas igualitárias justificativas dos poderes de coação estatal,
principalmente a exação tributária muito exigente e que pouco dá em troca.
Faltam médicos,
os professores são mal remunerados, o número dos bandidos cresce cada vez mais
junto com a respectiva ousadia e isso corresponde apenas a uma visão de efeitos
acerca de um desleixo e de uma falta de consideração e planejamento arrastada
por muitas décadas (considerando que há um pós-escravidão). Nenhum desses problemas depende só da liberação de recursos, depende
de uma revisão da máquina determinante dos destinos daqueles, o que não deveria
ser o bolso de empreiteiros porque não são obras e sim ideias as determinantes
de um bom desempenho.
O governo
conhece a carência e tenta passar ao povo a questão: o que vocês querem? Que eu
eleito para ter poder pare de financiar as campanhas e marketing ao preço de
ouro e de ficar comprometido com interesses empresariais geradores de emprego
para me manter governando? Respondam da maneira sugerida e tudo vai mudar.
Será?
Não se trata de
um jogo de perguntas e respostas. De fato, perguntas e respostas vão gerar mais
gasto e mais papel mas não vão corrigir condutas de quem investe e quer lucro e
de quem precisa de emprego para sustentar a si e a sua família.
Não existe lei
para ser linda e maravilhosa, a lei existe para repercutir nas práticas e
liberdades sociais, equilibrando relações, assim como não existe programa ou
plano de governo se quem detém o controle situacional econômico se recusa a
executá-los e a noção de alguns políticos de que proibições põem fim aos
incômodos como o transporte urbano, não passa de heroísmo barato de efeitos
nocivos, porque a razão do lucro encontra saídas em construções irracionais.
Uma ocorrência bem
visível e exemplificativa está nos planos de saúde, popularizados para suplantar a suma carência
do Sistema Único de Saúde. No afã destes surgiu uma lei e uma autarquia com poderes de
autorizar e multar as correlatas operadoras obrigando à cobertura ilimitada de
atendimentos, exames, internações e tratamentos. O resultado, reitere-se, é que as operadoras
fazem contrato para a consumidor (praticamente todos redigidos do mesmo modo),
disponibilizam uma rede credenciada conforme o preço que cada um pode pagar e
soltam o fio dessa contratação pela adoção de preços indesejados na prestação de
serviços para efetivamente cobrir o evento do qual não puder se esquivar, notadamente as
urgências.
O plano de
saúde mantém poucos consultórios médicos em "todas" as especialidades e remunera de
maneira bastante defasada o preço das consultas. Isso, por sua vez, faz com
que os poucos profissionais atendentes elejam um ou dois dias da semana, quando
não do mês, para atender aos planos numa grande tacada diária (sala de espera
SUS), para ao fim do dia ganhar alguma quantia suficiente para pagar o
condomínio do consultório e eis a razão de uma consulta só ser marcada para
dali um ou dois meses para os beneficiários. Nada a ver com a direção do plano de saúde que paga multa para sustentar a autarquia ANS com dinheiro dos mal atendidos e mantém-se na irresponsabilidade propriamente dita.
Deste teórico atendimento
(que resguarda indiferença médica com garantia por laudos diagnósticos
externos) a operadora faz cumprir uma cota de exames pertinentes a manter o
interesse de empresas diagnósticas (muitas vezes associadas) suplantando em quantidade o melhor
preço dos serviços, e estas por sua vez, também manejam o atendimentos às
operadoras de modo a ter suas tacadas, quando não, a cobrança de um aparte.
Tudo fica sob
controle das operadoras, mascaradas cumpridoras da lei e dos contratos, a não ser quando
ocorre a urgência, porque aí é a vez do hospital credenciado, se não estiver
lotado, assumir o controle, pois nesse caso, a operadora não tem como se safar,
deve engolir o astronômico gasto de um tempo indefinido de internação com
custeios ilimitados de todos os incidentais possíveis e imagináveis pelo nosocômio, o
que não significa também eficiência do atendimento, valendo lembrar que o nome dos hospitais não seleciona os melhores médicos e muitas vezes oferta atendentes de pronto-socorro, iniciando carreira, quase residentes, outra enorme contradição para se alardear.
Todos os
critérios são econômicos, não são necessariamente científicos e nem
respeitam a qualidade do atendimento médico cujas instâncias de averiguação
ética se insurgem para polemizar registros burocráticos na mesma linha de
pensamento capaz de desprezar a lógica e a experiência empírica em prol da
imagem e da sagração jurídica da ciência numa espécie de freio cego que ruma a
capotagem.
A
triste conclusão deste modo “Mercedes Benz” de administrar é que os
enormes recursos acumulados na contribuição conjunta aos planos de saúde vai
para pagamento de serviços que seriam desnecessários. Isso em prol do
cumprimento da lei e dos receios éticos em atendimentos à pacientes desprezados
em diagnose e acompanhamento até chegarem ao acidente ou à condição urgente de
difícil reversão, onde finalmente tais recursos são liberados em cascata de
forma a marcar a condição securitária fóbica típica na manutenção e
resgate de doentes com finalística e cabal exteriorização
de ordinárias garantias.
Muita
gasolina para carro grande, visível e famoso, ainda que sem direção.
Do
mesmo modo a educação, raiz de todos os maiores problemas vem então misturada
com merenda e creche para embaçar a falta de conteúdo até cobrar resultados
decorativos em testes promissores de um ensino superior com poucas vagas em si
e menos ainda no sonhado mercado de trabalho melhor remunerado.
Gente
disputando vaga sem saber exatamente o porquê, até suceder ou
desistir, pior ainda, se tornar um péssimo profissional, bom vendedor de
disfarces.
Os
transportes coletivos que poderiam contar com a compra de um passe livre diário
para os trabalhadores sob custeio das empresas com possíveis descontos
tributários compensatórios ao equilíbrio da capacidade contributiva, já
lucraram muitos anos com o sofrimento do povo e não intencionam melhorar, muito
menos com o decair dos preços porque a multidão continuará a depender e
necessitar de sustento e de locomoção para quando possível fugir para a rua
num Fiat "para a maior arquibancada do Brasil"!
Se
não houver remanejamento de rotinas, adequação de preços variáveis e aumento da
frota de veículos coletivos com consumo de energia melhor e mais barata, será
mantido o caos, inclusive para quem tem um Porsche tolhido em sua mortal
velocidade na fumaça da Avenida Paulista ou nas lindas paralelas dos Jardins,
aliás, ponto disputado por assaltantes.
Tem
mais bandido do que polícia e eles têm menos medo de morrer do que os
representantes da lei porque não aprenderam e nem querem aprender nenhum valor
além do que predomina na maioria das decisões: o poder, quanto mais ilimitado
melhor, quanto mais violento menos transigente e doa a quem doer.
Quem
vence a batalha? Ninguém, a não ser as arapongas vespertinas da TV. Quem perde?
A sociedade politicamente organizada pela desvalorização do ser humano que
quando sai às ruas é proveito da própria imprudência para ser confundido e
misturado com os verdadeiros donos do território, armados com sua desilusão
acerca do certo, marginais da cama ou sem cama mancomunados com a noite de
bolas e balas, birita, sangue ou festim, até chegar a hora “H”, a
carona usurpadora e lasciva nos braços protetores da lei ou de um
portentoso “segurança”.
Não
há solução a curto prazo mas o pior é que não há solução se não for iniciada, o
que significa planejamento familiar operante e disponível principalmente à
população carente, dedicação pública intensa ao ensino de primeiro e segundo
graus, fortalecimento ocupacional na correção da criminalidade infanto-juvenil,
integração profissional compensatória durante o cumprimento e progressão das
penas e melhor treinamento e capacitação profissional da polícia para atuação
preventiva e constante.
Gente
saindo de casa, recuperando território, ocupando calçadas e praças, conversando
até tarde e olhando vitrines. Isso é direito!
Jussara Paschoini
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