segunda-feira, 8 de julho de 2013

FALTA MOTOR PARA A SAÚDE, EDUCAÇÃO, TRANSPORTE E SEGURANÇA

 
 


Nesses tempos de protesto são inúmeras as reverberações acerca das dependências e necessidades coletivas igualitárias justificativas dos poderes de coação estatal, principalmente a exação tributária muito exigente e que pouco dá em troca.

Faltam médicos, os professores são mal remunerados, o número dos bandidos cresce cada vez mais junto com a respectiva ousadia e isso corresponde apenas a uma visão de efeitos acerca de um desleixo e de uma falta de consideração e planejamento arrastada por muitas décadas (considerando que há um pós-escravidão). Nenhum desses problemas depende só da liberação de recursos, depende de uma revisão da máquina determinante dos destinos daqueles, o que não deveria ser o bolso de empreiteiros porque não são obras e sim ideias as determinantes de um bom desempenho.

O governo conhece a carência e tenta passar ao povo a questão: o que vocês querem? Que eu eleito para ter poder pare de financiar as campanhas e marketing ao preço de ouro e de ficar comprometido com interesses empresariais geradores de emprego para me manter governando? Respondam da maneira sugerida e tudo vai mudar. Será?

Não se trata de um jogo de perguntas e respostas. De fato, perguntas e respostas vão gerar mais gasto e mais papel mas não vão corrigir condutas de quem investe e quer lucro e de quem precisa de emprego para sustentar a si e a sua família.

Não existe lei para ser linda e maravilhosa, a lei existe para repercutir nas práticas e liberdades sociais, equilibrando relações, assim como não existe programa ou plano de governo se quem detém o controle situacional econômico se recusa a executá-los e a noção de alguns políticos de que proibições põem fim aos incômodos como o transporte urbano, não passa de heroísmo barato de efeitos nocivos, porque a razão do lucro encontra saídas em construções irracionais.

Uma ocorrência bem visível e exemplificativa está nos planos de saúde, popularizados para suplantar a suma carência do Sistema Único de Saúde. No afã destes surgiu uma lei e uma autarquia com poderes de autorizar e multar as correlatas operadoras obrigando à cobertura ilimitada de atendimentos, exames, internações e tratamentos. O resultado, reitere-se,  é que as operadoras fazem contrato para a consumidor (praticamente todos redigidos do mesmo modo), disponibilizam uma rede credenciada conforme o preço que cada um pode pagar e soltam o fio dessa contratação pela adoção de preços indesejados na prestação de serviços para efetivamente cobrir o evento do qual não puder se esquivar, notadamente as urgências.

O plano de saúde mantém poucos consultórios médicos em "todas" as especialidades e remunera de maneira bastante defasada o preço das consultas. Isso, por sua vez, faz com que os poucos profissionais atendentes elejam um ou dois dias da semana, quando não do mês, para atender aos planos numa grande tacada diária (sala de espera SUS), para ao fim do dia ganhar alguma quantia suficiente para pagar o condomínio do consultório e eis a razão de uma consulta só ser marcada para dali um ou dois meses para os beneficiários. Nada a ver com a direção do plano de saúde que paga multa para sustentar a autarquia ANS com dinheiro dos mal atendidos e mantém-se na irresponsabilidade propriamente dita.

Deste teórico atendimento (que resguarda indiferença médica com garantia por laudos diagnósticos externos) a operadora faz cumprir uma cota de exames pertinentes a manter o interesse de empresas diagnósticas (muitas vezes associadas) suplantando em quantidade o melhor preço dos serviços, e estas por sua vez, também manejam o atendimentos às operadoras de modo a ter suas tacadas, quando não, a cobrança de um aparte.

Tudo fica sob controle das operadoras, mascaradas cumpridoras da lei e dos contratos, a não ser quando ocorre a urgência, porque aí é a vez do hospital credenciado, se não estiver lotado, assumir o controle, pois nesse caso, a operadora não tem como se safar, deve engolir o astronômico gasto de um tempo indefinido de internação com custeios ilimitados de todos os incidentais possíveis e imagináveis pelo nosocômio, o que não significa também eficiência do atendimento,  valendo lembrar que o nome dos hospitais não seleciona os melhores médicos e muitas vezes oferta atendentes de pronto-socorro, iniciando carreira, quase residentes, outra enorme contradição para se alardear. 


Todos os critérios são econômicos, não são necessariamente científicos e nem respeitam a qualidade do atendimento médico cujas instâncias de averiguação ética se insurgem para polemizar registros burocráticos na mesma linha de pensamento capaz de desprezar a lógica e a experiência empírica em prol da imagem e da sagração jurídica da ciência numa espécie de freio cego que ruma a capotagem. 


A triste conclusão deste modo “Mercedes Benz”  de administrar é que os enormes recursos acumulados na contribuição conjunta aos planos de saúde vai para pagamento de serviços que seriam desnecessários. Isso em prol do cumprimento da lei e dos receios éticos em atendimentos à pacientes desprezados em diagnose e acompanhamento até chegarem ao acidente ou à condição urgente de difícil reversão, onde finalmente tais recursos são liberados em cascata de forma a marcar a condição securitária fóbica típica na manutenção e resgate de doentes com finalística e cabal exteriorização de ordinárias garantias.

 

Muita gasolina para carro grande, visível e famoso, ainda que sem direção.

Do mesmo modo a educação, raiz de todos os maiores problemas vem então misturada com merenda e creche para embaçar a falta de conteúdo até cobrar resultados decorativos em testes promissores de um ensino superior com poucas vagas em si e menos ainda no sonhado mercado de trabalho melhor remunerado.
 

Gente disputando vaga sem saber exatamente o porquê, até suceder ou desistir, pior ainda, se tornar um péssimo profissional, bom vendedor de disfarces.

Os transportes coletivos que poderiam contar com a compra de um passe livre diário para os trabalhadores sob custeio das empresas com possíveis descontos tributários compensatórios ao equilíbrio da capacidade contributiva, já lucraram muitos anos com o sofrimento do povo e não intencionam melhorar, muito menos com o decair dos preços porque a multidão continuará a depender e necessitar de sustento e de locomoção para quando possível fugir para a rua num Fiat "para a maior arquibancada do Brasil"!

 
Se não houver remanejamento de rotinas, adequação de preços variáveis e aumento da frota de veículos coletivos com consumo de energia melhor e mais barata, será mantido o caos, inclusive para quem tem um Porsche tolhido em sua mortal velocidade na fumaça da Avenida Paulista ou nas lindas paralelas dos Jardins, aliás, ponto disputado por assaltantes.
 

Tem mais bandido do que polícia e eles têm menos medo de morrer do que os representantes da lei porque não aprenderam e nem querem aprender nenhum valor além do que predomina na maioria das decisões: o poder, quanto mais ilimitado melhor, quanto mais violento menos transigente e doa a quem doer.

Quem vence a batalha? Ninguém, a não ser as arapongas vespertinas da TV. Quem perde? A sociedade politicamente organizada pela desvalorização do ser humano que quando sai às ruas é proveito da própria imprudência para ser confundido e misturado com os verdadeiros donos do território, armados com sua desilusão acerca do certo, marginais da cama ou sem cama mancomunados com a noite de bolas e balas, birita, sangue ou festim, até chegar a hora “H”, a carona usurpadora e lasciva nos braços protetores da lei ou de um portentoso “segurança”.

 
Não há solução a curto prazo mas o pior é que não há solução se não for iniciada, o que significa planejamento familiar operante e disponível principalmente à população carente, dedicação pública intensa ao ensino de primeiro e segundo graus, fortalecimento ocupacional na correção da criminalidade infanto-juvenil, integração profissional compensatória durante o cumprimento e progressão das penas e melhor treinamento e capacitação profissional da polícia para atuação preventiva e constante.


Gente saindo de casa, recuperando território, ocupando calçadas e praças, conversando até tarde e olhando vitrines. Isso é direito!
 
Jussara Paschoini

 


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