É desnecessário
alinhar uma visão acerca do trabalho partindo de concepções políticas que
sempre permearam o exercício de atividades econômicas, quer pelo acúmulo e
exploração de capital, quer pela luta de classes, ambas observadas e presentes.
Talvez mais
coerente fosse então, elucidativamente, visualizar a linha utilitária do
emprego em confronto com a linha realizadora do trabalho.
No Brasil os
patrões reclamam da mão de obra desqualificada e do excesso de imposições
legais na manutenção de empregados e os empregados reclamam de extensas
dificuldades desde os meios de transporte para chegar ao emprego até a mais
absoluta falta de realização moral e material nos serviços prestados aos
propósitos das empresas.
A Lei
Trabalhista e a Justiça do Trabalho com alicerces na proteção sindical se
constituem hoje em algo muito diferente do que se possa chamar de equilíbrio de
interesses, tem-se aí uma válvula de escape, um tipo de consequência maldita
para relacionamentos e pessoas mal elaboradas em todos os sentidos, desertores
da própria civilidade.
Se a definição
parece simplória, os resultados não o são. A Consolidação das Leis do Trabalho
traduz-se numa Justiça abarrotada e que seria inoperante se não se
fundamentasse na conciliação, fora disto, trata-se de expediente teatral num
jogo de cartas claramente marcadas pela inoperância quantitativa, com a
possível produção de uma conta lotérica materializada por sentenças
possivelmente proteladas por muitos anos a juros e correção monetária maiores
do que qualquer investimento bancário.
Não há patrão
suficientemente documentado e nem empregado suficientemente explorado perante a
Justiça do Trabalho, há uma pauta de audiências marcadas de cinco em cinco ou
quando muito de dez em dez minutos, para um expediente legalmente definido como
UNO, onde as partes devem ser ouvidas, as testemunhas também e se a sentença
não for prolatada deve ser marcada. Ilude-se quem acredita que acordo é simples
proposta jurisdicional dessa Justiça, trata-se de uma ameaça e para quem pensa estar
repleto de razões ao negá-la, uma penalidade amarga está à espreita, na maioria
das vezes.
Horas extras, adicionais
de insalubridade ou periculosidade, fundo de garantia, férias, décimo-terceiro,
reflexos nos descansos semanais remunerados, imposto de renda retido na fonte,
contribuições previdenciárias etc. e provavelmente um departamento destinado a
cumprir ou controlar tais legalidades, tudo isso a autorizar que sojigados
patrões estejam aptos a exigir o máximo de seus empregados ao mínimo dos salários.
Isto é relação de emprego, e se não for, a Justiça do Trabalho fará que seja
com juros e correção monetária para quem tiver com o que pagar, em dinheiro ou
em suor.
O emprego é
parâmetro de desenvolvimento e sucesso de um governo a quem interessa a formalidade
e controle dessa relação, todavia, o custo de manutenção desta mera fotografia
é a injustiça, a marginalidade e a desqualificação profissional generalizada,
para não falar do desânimo ao empreendimento.
Malthus à
parte, no atual estágio de evolução científica, com as necessidades de
planejamento e aplicação prática de conceitos desvendados para melhor
desempenho e qualidade de qualquer atividade, o que temos como pobre reflexo
das atitudes empresariais são telemarketings e atendentes treinados a mecânico
tratamento pseudo subserviente aos senhores e senhoras clientes para tratar de
produtos e serviços insatisfatórios, numa mal maquiada ofensa. E depois se fala
no pessimismo econômico, no desestímulo dos investimentos e tantos agravantes
do progresso.
O emprego seria
bom se não destruísse o valor do trabalho, a começar pelo desrespeito de
jornadas e meios de transporte minguantes de qualquer vida extrafuncional, ou
seja, de qualquer tempo e espaço diário para aprimoramento educacional, laser e
descanso adequado, por exemplo.
Não se
compreenda que um salário melhor ou excelente muitas vezes acompanhado de
pressão e de exigências desumanas, além de impositiva competitividade ao cargo,
tornem a vida de quem é mais afortunado ou enriquece com emprego, melhor.
Ocupantes de altos cargos costumam desfrutar de suas aposentadorias com
muitíssimo frequentes visitas ao médico, enfrentam diabetes, obstrução
cardíaca, sequelas após isquemia cerebral e isso quando sobrevivem para tanto.
Emprego é
diferente de trabalho porque o primeiro é uma imposição de regras de
sobrevivência baseada na hierarquia e o segundo é a realização do individuo
pela extroversão do que aprende e pratica a favor de si e dos outros com
natural aptidão e por isso mesmo, constante interesse. O verdadeiro trabalho
não é carga é energia em ação, não necessariamente quantificada no tempo mas
voltada à colaboração mútua independente de obediência.
Se um dia a
política opinar mais pelo trabalho do que pelo emprego as diferenças de classe
serão menos contundentes porque não será o preço mais importante do que o
produto e nem esse mais importante do que a vida em toda sua plenitude, o que
inclui, sem dúvida, o trabalho realizado, retribuído com civil reconhecimento e
pertinente apreciação socioeconômica.
Jussara
Paschoini
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