segunda-feira, 4 de junho de 2012

TRABALHO X EMPREGO



É desnecessário alinhar uma visão acerca do trabalho partindo de concepções políticas que sempre permearam o exercício de atividades econômicas, quer pelo acúmulo e exploração de capital, quer pela luta de classes, ambas observadas e presentes.

Talvez mais coerente fosse então, elucidativamente, visualizar a linha utilitária do emprego em confronto com a linha realizadora do trabalho.

No Brasil os patrões reclamam da mão de obra desqualificada e do excesso de imposições legais na manutenção de empregados e os empregados reclamam de extensas dificuldades desde os meios de transporte para chegar ao emprego até a mais absoluta falta de realização moral e material nos serviços prestados aos propósitos das empresas.

A Lei Trabalhista e a Justiça do Trabalho com alicerces na proteção sindical se constituem hoje em algo muito diferente do que se possa chamar de equilíbrio de interesses, tem-se aí uma válvula de escape, um tipo de consequência maldita para relacionamentos e pessoas mal elaboradas em todos os sentidos, desertores da própria civilidade.

Se a definição parece simplória, os resultados não o são. A Consolidação das Leis do Trabalho traduz-se numa Justiça abarrotada e que seria inoperante se não se fundamentasse na conciliação, fora disto, trata-se de expediente teatral num jogo de cartas claramente marcadas pela inoperância quantitativa, com a possível produção de uma conta lotérica materializada por sentenças possivelmente proteladas por muitos anos a juros e correção monetária maiores do que qualquer investimento bancário.

Não há patrão suficientemente documentado e nem empregado suficientemente explorado perante a Justiça do Trabalho, há uma pauta de audiências marcadas de cinco em cinco ou quando muito de dez em dez minutos, para um expediente legalmente definido como UNO, onde as partes devem ser ouvidas, as testemunhas também e se a sentença não for prolatada deve ser marcada. Ilude-se quem acredita que acordo é simples proposta jurisdicional dessa Justiça, trata-se de uma ameaça e para quem pensa estar repleto de razões ao negá-la, uma penalidade amarga está à espreita, na maioria das vezes.

Horas extras, adicionais de insalubridade ou periculosidade, fundo de garantia, férias, décimo-terceiro, reflexos nos descansos semanais remunerados, imposto de renda retido na fonte, contribuições previdenciárias etc. e provavelmente um departamento destinado a cumprir ou controlar tais legalidades, tudo isso a autorizar que sojigados patrões estejam aptos a exigir o máximo de seus empregados ao mínimo dos salários. Isto é relação de emprego, e se não for, a Justiça do Trabalho fará que seja com juros e correção monetária para quem tiver com o que pagar, em dinheiro ou em suor.

O emprego é parâmetro de desenvolvimento e sucesso de um governo a quem interessa a formalidade e controle dessa relação, todavia, o custo de manutenção desta mera fotografia é a injustiça, a marginalidade e a desqualificação profissional generalizada, para não falar do desânimo ao empreendimento.

Malthus à parte, no atual estágio de evolução científica, com as necessidades de planejamento e aplicação prática de conceitos desvendados para melhor desempenho e qualidade de qualquer atividade, o que temos como pobre reflexo das atitudes empresariais são telemarketings e atendentes treinados a mecânico tratamento pseudo subserviente aos senhores e senhoras clientes para tratar de produtos e serviços insatisfatórios, numa mal maquiada ofensa. E depois se fala no pessimismo econômico, no desestímulo dos investimentos e tantos agravantes do progresso.

O emprego seria bom se não destruísse o valor do trabalho, a começar pelo desrespeito de jornadas e meios de transporte minguantes de qualquer vida extrafuncional, ou seja, de qualquer tempo e espaço diário para aprimoramento educacional, laser e descanso adequado, por exemplo.

Não se compreenda que um salário melhor ou excelente muitas vezes acompanhado de pressão e de exigências desumanas, além de impositiva competitividade ao cargo, tornem a vida de quem é mais afortunado ou enriquece com emprego, melhor. Ocupantes de altos cargos costumam desfrutar de suas aposentadorias com muitíssimo frequentes visitas ao médico, enfrentam diabetes, obstrução cardíaca, sequelas após isquemia cerebral e isso quando sobrevivem para tanto.

Emprego é diferente de trabalho porque o primeiro é uma imposição de regras de sobrevivência baseada na hierarquia e o segundo é a realização do individuo pela extroversão do que aprende e pratica a favor de si e dos outros com natural aptidão e por isso mesmo, constante interesse. O verdadeiro trabalho não é carga é energia em ação, não necessariamente quantificada no tempo mas voltada à colaboração mútua independente de obediência.

Se um dia a política opinar mais pelo trabalho do que pelo emprego as diferenças de classe serão menos contundentes porque não será o preço mais importante do que o produto e nem esse mais importante do que a vida em toda sua plenitude, o que inclui, sem dúvida, o trabalho realizado, retribuído com civil reconhecimento e pertinente apreciação socioeconômica.

Jussara Paschoini                                                           

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