quinta-feira, 31 de maio de 2012

A MENTALIDADE PARASITÁRIA





Não é uma Lei, um Código e um potencial fiscal frágil diante de interesses ambiciosos o que confere a um país com a pretensão de ser considerado agropecuário, um país resolvido com relação ao uso de seus recursos naturais, nisso subentendendo-se a óbvia e já muitíssimo focalizada e debatida, além de internacionalmente visada, preservação ambiental.

A mentalidade parasitária, e nisso compreenda-se aquela vigente desde as épocas coloniais, sempre objetivou sustentar e abastecer mediante meios os mais rápidos possíveis a mais insaciável das fomes, aquela acéfala e ruminante, típica dos hospedeiros e que só termina quando nada mais há a ser sugado.

Esta mentalidade sempre escolheu seus alvos e estabeleceu ciclos de produção para manter reservas de gordura e como fruto de reatividade essencial fixou focos de infestação específicos, esgotando alvos uns após os outros até que o restante se tornasse por isso mesmo difícil e, portanto, mais fácil de abandonar. Isto é um ex-país colônia.

Crer que letras e proibições vão adjetivar um país em seu potencial de recursos naturais é só colocar cercas e avisos, não passa disso, se a mentalidade parasitária saída da colonização e mantida na prática latifundiária não se aperceber da metodologia suicida. Frise-se aí a manutenção do foco atual na cana-de açúcar ou álcool, soja, café, bem como na pecuária tanto leiteira quanto de corte, enfim, nos alvos típicos da alta escala produtiva com ampla margem de garantia comercial e retorno financeiro a quem possa interessar.

O solo mal explorado colide com o passar do tempo na improdutividade e esta colide com a necessidade de mais solo e isto compactua com o desmatamento explorador de partes florestais valiosas e facilitação oportuna de incêndios e queimadas, um ciclo orgástico para os crentes e fieis do apocalipse.

Dito isso, é vexatório um governo compreender que a defesa dos interesses de um país com pretensão de ser agropecuário, possa honestamente consistir em retalhar os incentivos de outros países as suas próprias agriculturas.

As linhas de crédito não são vinculadas à correta exploração do solo, muito pelo contrário, são donas de distinta vontade política eleitoreira.

O que se vincula a correta exploração do solo é a aplicação de técnicas, hoje já bastante conhecidas, como a rotação de culturas capaz de melhorar as características, físicas, químicas e biológicas do solo, mediante planejamento sequencial e seletivo de culturas somado ao gerenciamento de recursos hídricos, ensejando a quebra dos ciclos de desenvolvimento de insetos e ervas daninhas e promovendo a reciclagem de nutrientes pela variação radicular abrangente e profunda.

Outra técnica de suma importância é a do manejo de pastagens relacionado não só a análise prévia do solo para fixar o tipo de forragem compatível, mas também ao planejamento racional envolvendo equilíbrio da adubação, ajuste de lotação e conforto do rebanho como fatores de aperfeiçoamento da produção. Tanto o subpastejo quanto o superpastejo, o primeiro por prejudicar o perfilhamento e rebrota e o segundo por reduzir a área fotossinteticamente ativa com consequente abertura do espaço para daninhas, ambos devem ser evitados e combatidos pela adequação de ciclos respectivos em períodos de ocupação e descanso.

É o planejamento das áreas de exploração do solo que garante sua boa exploração e não o uso indiscriminado sequenciado pela necessidade de aumento crescente e desordenado destas áreas. Como sempre, não interessa pensar, mas lucrar primeiro e desta forma, a degradação vem chegando implacável, num tiro pela culatra de quem arrogantemente, quer se intitular de país agropecuário ou “celeiro do mundo” e se mantém a custa de quem passa fome, além de morrer de ignorância!

Jussara Paschoini

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