segunda-feira, 2 de julho de 2012

O BLEFE POLÍTICO NA SOCIAL DEMOCRACIA






O homem saiu da caverna e descobriu o mundo das ideias e então a faísca platônica para toda uma evolução de conceitos que chega à política, à regência hierarquizada pela predominância de ideias em uma sociedade ou na polis. O importante a se abstrair desde logo, de tão extensa elaboração observadora do homem em relação com o mundo, é a capacidade de escolha, o exercício da opção, partindo de um ou mais e podendo ou não contagiar outros em um determinado período de tempo e circunstância histórica, para produzir regras do bem comum, qual seja, fontes de poder.

A natureza humana busca mais do que meios de sobrevivência, acertos de conduta, aprovação coletiva. Desde os primórdios com feição marcada no direito romano isto se definiu por status, pelo posicionamento na escala de valores ideais acatados pelo exercício do poder feito predominar pela escolha ou pela ausência desta, a condicionar a sobreposição de indivíduos uns aos outros como modo de resguardar e manter nada mais e nada menos do que o status.

Isto quer dizer que o exercício do poder do homem pelo homem é fruto, entre outras coisas, da predominância de ideias impostas coercitivamente, a princípio para manter o status determinado, conforme já se disse, por uma escala de valores consagrados em ação ou omissão volitiva.

A busca por status faz variar as fontes de exercício do poder pela contraposição de ideias, sendo importante frisar aí, que existem duas circunstâncias estabilizadoras desta contraposição, uma é a ameaça física ou moral intensificada de acordo com o grau de acomodação dos indivíduos numa sociedade e a outra é a manutenção de status equivalente entre todos os indivíduos, a igualdade.

No transcurso da história a contraposição de ideias relevantes em termos de política, definiu, de acordo com isso, dois modelos de ação governamental, o modelo liberal e o modelo intervencionista, o primeiro baseado em permitir e assegurar a aptidão de ações econômicas e critérios de produção para fixar o status do indivíduo, engendrado na liberdade de agir ou não a favor de si próprio para conquistar posição na escala de valores; o segundo baseado em convicção absoluta acerca de uma única escala de valores, considerada exclusiva e perene, determinado assim sua imposição coercitiva para limitar a liberdade de agir fundamental ao primeiro modelo, com vistas à estabilidade de status já existentes ou então, idealizados para um fim.

Afora os absolutismos característicos do império e da mediação religiosa inerente à maioria dos modelos intervencionistas, o comunismo veio como um contraponto ateu, idealizado para estabilidade dos status mediante imposição de igualdade, estabelecendo a intermediação da força socialista para garantir uma sociedade sem contraposição de ideias pela igualdade econômica.

Não é preciso dizer que ambos os modelos, numa manifestação jurídica do que se compreende como injustiça das interpretações extremas, só produziram insatisfação, além de ficarem claramente caracterizados como formas bastante cruéis e selvagens de política, muito inferiores mesmo àquela realizada com fulcro na democracia, na política ideal preconizada pela filosofia e pensamento helênicos.

A democracia, diante dos modelos de ação governamental trata-se de um princípio ideal, segundo o qual, toda a vontade válida na escala de valores producente de status, possui uma representação, favorecendo assim a contraposição civilizada de ideias entre os representados.

É claro que quanto mais intervencionista um governo é, menos democrático, sendo certo que o modelo liberal se tipifica por esta seara, em proporção democrática inversa, com a ressalva de vincular o status ao poder econômico enquanto base de sua noção evolutiva, numa circunstância debilitante ao domínio das ideias com consequente desestabilização social em face da extrema desigualdade de classes resultante em afronta ao regime respectivo.

O liberalismo reduz a política à mera observadora de uma batalha pela sobrevivência pautada em valores pecuniários, visando a manutenção da ordem produtiva e do ganho de capital cujo equilíbrio estaria garantido pela competitividade da lei da oferta de da procura, pressupondo uma perfeita economia de mercado, a qual se provou bastante falha por conta de inúmeras variáveis surgidas no mundo moderno na medida em que se multiplicaram e se diversificaram tecnologias e necessidades humanas correlatas.
  
Para responder à falha dos dois modelos de governo surgiu a Social Democracia, difundida como a solução política mais coerente para a prática organizacional da sociedade, porque traduziria a manutenção da liberdade mediante garantias, porém, intervindo a favor do bem comum. A política na Social Democracia deixa a condição de mera observadora e passa a ser agente estabilizador, mediante intervenções governamentais destinadas a garantir o bem comum mantendo direitos e liberdades fundamentais ao homem pela ação racional da intervenção estatal.

Seria maravilhoso se a Social Democracia não viesse a configurar de modo conotativo, um moderno “Muro de Berlim” que separa o liberalismo do intervencionismo e onde trepam à vontade militantes de ambos os lados, legitimando o passado e mantendo as mesmas ordens anteriores à custa de uma sigla, de uma proposta política permissiva que nem sempre é honesta e muito menos democrática.

Cansamos de ver liberalidades onde deveria haver intervenção e intervenção onde deveria haver liberalidades. O Partido Social Democrata Brasileiro (PSDB), por exemplo, é um claro estereótipo da prática às avessas, privatiza conquistas públicas em expedientes duvidosos, corrompe poderes para sustentar suas arbitrariedades compreendendo-se maquiavélico, e impõe ao setor privado deveres públicos a peso de chumbo e sem qualquer incentivo, além de arrogar-se em medidas protetivas de minúcias sem significado e fazer vistas grossas a questões de relevo. É um retrato claro e sem-vergonha  “em cima do muro”.

É pressuposto de igualdade que o Estado exerça poderes dirigidos aos direitos fundamentais, dentre eles, principalmente, a educação, saúde e segurança, para isso, além de gerir recursos próprios e produzir vantagens econômicas através de suas empresas, o governo cobra tributos.

Nosso PSDB privatizou empresas públicas à torto e à direita aboletando-se na cômoda posição de enxugar a máquina pública, enquanto multiplicou assessorias e contratações ilícitas para onde vertem quase de modo hemorrágico grande parte dos recursos públicos, manipulou aprovações legislativas, mormente para criar a aumentar tributos (não esqueçamos a CPMF e a incidência tributária dos atos cooperados por diploma legal ilegítimo), burocratizou instâncias judiciárias superiores para cristalizar decisões de interesse político, desvirtuando o controle a ser exercido pelo respectivo poder.

Isso tudo e o sorriso maconheiro do Presidente Fernando Henrique Cardoso e seu fiel corvo José Serra, ministro da saúde criador da Lei 9656/98, a qual para regimentar os planos de saúde, tornou-os muito mais caros e operantes em ritmo e qualidade decrescente, à custa de um serviço médico cada vez mais mal remunerado e de uma população cada vez mais mal atendida, dependente de um cabide de empregos chamado Agência Nacional de Saúde Suplementar e sujeita ao repasse de seus recursos para uma rede pública cada vez mais inoperante.

Nada em termos de planejamento familiar.

Educação, mantida nos piores níveis, refletindo no mesmo diapasão dos planos de saúde, a necessidade recorrente ao setor privado, desarvorado na oferta de serviços caros e nem tanto qualificados, disponíveis a uma mínima parcela da população.

Transporte em estradas taxado por altíssimo pedágio ou em péssimas condições.

Segurança praticamente inexistente e criminalidade incentivada pela falta de ação social somada à impunidade gritante, principalmente com relação aos atos de improbidade pública.

O muro peessedebista manteve e exacerbou problemas nacionais mediante condutas e atitudes traiçoeiras aos adeptos da Social Democracia, e isso não podia deixar de lhe render o descaso de não mais ser mantido na presidência da república; ainda que sua herança política perdure no seu substituto atual, mantenedor de semelhante sacanagem com participantes execrados do terreno intervencionista cabível no comunismo, mantendo-se liberais no que interessa e intervencionistas no que não interessa.

Porém, os governos estaduais e municipais, principalmente de São Paulo, diante da mais absoluta falta de expressão por parte de políticos novos e da mesmice conluiada dos liberais e intervencionistas do passado (frutos de ditadura e do pseudo-comunismo), continuam a servir à rota intermediária eletiva desses parasitas políticos escondidos na ideologia social democrática, vestindo a cada momento a personalidade que lhes convém, o que significa personalidade do bolso e do alcovite.

Não é contudo a falta de opção e a distorção ideológica o norteador do exercício da política, da escolha, é preciso ao menos ter uma visão clara a respeito da ausência de compromisso a ser repelida com a mais cruel veemência,  para que o ideológico deixe de perecer na prática e para desautorizar o exercício do poder tanto pela hipocrisia dos bons velhinhos mal intencionados, quanto pela aquiescência de quem de direito, o povo.

 Jussara Paschoini


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