Down em
inglês significa para baixo, sinônimo de depressão e num texto com esse título,
logo é possível imaginar uma fossa daquelas dignas de bebedeira com urubus
sendo chamados de meus louros e outros augúrios do amor obsessivo.
Entretanto é
a frase de Reuven Feuerstein quem define a tônica importante ao assunto: “Cognição
e afeto são faces da mesma moeda transparente”.
Portanto,
pouco se tratará do registro histórico do médico britânico John Langdon Down e
a descrição da síndrome a qual este nomeia por haver lhe descrito
cientificamente os sintomas em meados do século XIX, ressaltando-se para a
causa respectiva a figura de Jérôme Lejeune, pediatra francês responsável pela
descoberta da anomalia cromossômica, a trissomia 21, em 1.958, quase um século
adiante.
O autor da frase destacada teve um netinho portador da síndrome e partindo da difícil escolha entre aceitar ou não aceitar o ser com necessidades especiais, optou por aceitar o ser e modificar a noção acerca de suas necessidades, no particular aspecto do natural retardo cognitivo.
À parte
anomalias típicas da doença progeróide, envolventes de uma incidência de 40% de
defeitos cardíacos, 12% de refluxo gastroesofágico e 50% de chances de ter
filhos com a mesma doença, além de hipotireoidismo, alterações de ordem
imunológica e possíveis neoplasias, interessa saber que a intervenção
fisioterápica precoce desde os primeiros meses de idade atua quase definitivamente
quanto ao déficit motor. No Brasil uma
em cada setecentas crianças tem a síndrome.
A
expectativa de vida que em 1.989 era de cinquenta anos para o portador da Síndrome
de Down, subiu para entre sessenta e setenta anos, circunstância demonstrativa
do grande acerto científico que acolhe e trata a doença, principalmente junto a
quem possui acesso facilitado pela ascendência socioeconômica.
Feuerstein
acabou por alcançar o intento de levar o netinho a frequentar uma escola junto
de crianças normais e a exemplo de Maria Montessori dentro da sobressalente
linha piagetiana de ensino, por conta de buscar incessante e persistentemente
corrigir o que denominou de estrutura rígida de raciocínio, desmistificou a
falha de desenvolvimento estigmatizada na necessidade especial decorrente do
retardo mental.
A “necessidade”
do ponto de vista do professor e psicólogo foi apontada como inoperância
vinculada à privação cultural a redundar em falta de mobilização cognitiva,
enquanto demanda social guiada a engatar a tendência autônoma de remodelar a
realidade e promover a sua modificação estrutural mediante contato
transformador, ou seja, adaptabilidade.
O
instrumental desta necessidade foi instituído por Feuerstein como EAM
(Experiência da Aprendizagem Mediada) com vistas então a flexibilizar a
capacidade de mudança, inclusive pelo que acena como reversibilidade das
operações parciais, ou seja, permitir o reiniciar das funções sequenciais que
organizam a percepção da realidade para diferentes graus de interação espaço
temporal.
O professor
e cuidador, no caso, converte-se no mediador da experiência cuja tradução está
na coleta de dados de cognição, elaboração desses dados e resposta cuja
eficácia é testada em quantidade e qualidade pela regulação daquele (o
mediador) no atribuir de significados e valores a gerar interesse, novos
estímulos com ampliação irresistível ao aluno.
O mediador
das necessidades especiais deve seguir critérios universais e situacionais, os
primeiros partem da intencionalidade clara e seletiva de conteúdo expressa para
estímulo; da reciprocidade enquanto abertura de canal por parte do aluno
seguindo para a transcendentalidade no fixar de princípios generalizáveis para
futuras relações, isso enquanto fertilidade ao alcance do ciclo de mediação. Os
critérios situacionais são variáveis conforme o contexto.
Ao mediar
significados e valores a experiência agrega ao extrínseco dos aspectos sociais
e afetivos novas necessidades de aprendizado o que somado a permissividade e
otimismo tem ação humanística de crença no potencial transformador capaz de
levar motivação e sentimento de pertença suficiente ao equilíbrio entre
individualidade e coletividade, realização e respeito ao bem comum.
O destino da
experiência da aprendizagem mediada é elevação cognitiva melhor e mais bem
elaborada não apenas por amor a quem tem necessidades especiais, mas por quem
tem comuns e normais necessidades de aprendizado, de expansão dos horizontes de
modo a acolher e compartilhar renovado nível de cooperação rumo à verdadeira
educação, ao ensino plural na formação da capacidade moral compatível com o
grandioso passado e o imensurável futuro de múltiplas escolhas e possibilidades.
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