A
palavra espírito, usualmente se utiliza para significar algum estado ou
condição de ser extracorpórea e imaterial algumas e muitas vezes associada ao
corpo emocional. Semanticamente tem origem no latim “spiritus” traduzindo-se em
respiração ou sopro e corresponde a uma atividade vital por assim dizer.
Quase
todas as crenças contemplam o espírito, em maior ou menor grau de abordagem
existencial ou definitiva.
É
incrível, porém, ter a ideia de que a mais ampla noção de espírito se encontra
nas antigas práticas canibais, e antes que se deduza com horror pela conotação
psicopática do assunto, é importante notar que os povos praticantes, ao comer a
carne do inimigo entendiam absorver-lhe o espírito e isso era quase uma honraria
entre guerreiros, não só representava uma alta consideração, mas, a intenção de
fazer reviver em si próprio o poder que enfrentara, respeitara e admirara na
vida do oponente.
Desejar
a força de um oponente é característica da admiração com relação a este, não
exatamente daquela que traz descanso nas posses, mas daquela que invade,
incomoda, toca profundamente e toma muito mais tempo e atenção de nossas vidas,
nos fazendo saltar de nosso ser isolado para o terreno de outros e muitos
outros seres.
Não
comemos de fato esses outros, mas digerimos suas pessoas, seus atos e modos de
ser, de forma mais ou menos agradável e esta é a verdadeira ação de um
espírito, ser absorvido por outros, ser semente e força vital de si e também de outros,
crescer na mente e no coração de outros e a partir daí o corpo de uns fica o de
outros vai, os espíritos são “absorvidos” e vivem disformes em outros corpos
com outras histórias, como revela primitivamente a prática canibal quando
literalmente pegava, matava e comia.
Preferir
a morte pode perfeitamente ser questão de honra, preterir a vida é que não é e
isso significa reconhecer em si a morte que digere cada minuto sabendo-se
jamais morrer.
Jussara Paschoini
(Inspirada em
Montaigne)
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