O lamento é o maior devedor de todos, o mau pagador de
promessas, o doloroso, o desmancha prazeres e mais que tudo isso o fiel criado
das coisas perfeitas, das estruturas acabadas e a sombra deslizante nas
lágrimas de realização.
O que seria da vida sem o lamento? Tudo que sonhamos com
juros e correção monetária.
Sim, lamentar é coisa de vitoriosos, dos que correm atrás do
que acreditam e nunca estão satisfeitos porque subjugados estão ao delírio de
antecipar os fatos em pérolas da verdade aos porcos reais, aos culpados sempre
culpados, para que andem em linha reta pela estrada conducente na confiança de
jamais chegar lá.
A cama é o lar do lamento, o descanso dos justos, o gozo na
medida exata e indelével.
O lamento passa pelo sofrimento diariamente e grita aos
ventos sua condição sem poder, pretérita e imperfeita como eterno desgraçado
que é.
Insurreição é o limite do lamento e não passa daí porque
senão deixa de ser humilde como manda sua natureza perdedora.
O entalo na voz cantante diante de uma plateia surda é
precisão em definir o lamento.
Camões e Fernando Pessoa ou então os ilustres amantes da
navegação e de outros perigos, fingem não lamentar, mas lamentam porque navegar
é preciso, embora para um defunto seja praticamente impossível.
Errar não é humano, lamentar sim...
Jussara Paschoini
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