segunda-feira, 5 de agosto de 2013

LAMENTAR: O SUFICIENTE DIANTE DO MAR E DO ABISMO


O lamento é o maior devedor de todos, o mau pagador de promessas, o doloroso, o desmancha prazeres e mais que tudo isso o fiel criado das coisas perfeitas, das estruturas acabadas e a sombra deslizante nas lágrimas de realização.

O que seria da vida sem o lamento? Tudo que sonhamos com juros e correção monetária.

Sim, lamentar é coisa de vitoriosos, dos que correm atrás do que acreditam e nunca estão satisfeitos porque subjugados estão ao delírio de antecipar os fatos em pérolas da verdade aos porcos reais, aos culpados sempre culpados, para que andem em linha reta pela estrada conducente na confiança de jamais chegar lá.

A cama é o lar do lamento, o descanso dos justos, o gozo na medida exata e indelével.

O lamento passa pelo sofrimento diariamente e grita aos ventos sua condição sem poder, pretérita e imperfeita como eterno desgraçado que é.

Insurreição é o limite do lamento e não passa daí porque senão deixa de ser humilde como manda sua natureza perdedora.

O entalo na voz cantante diante de uma plateia surda é precisão em definir o lamento.

Camões e Fernando Pessoa ou então os ilustres amantes da navegação e de outros perigos, fingem não lamentar, mas lamentam porque navegar é preciso, embora para um defunto seja praticamente impossível.

Errar não é humano, lamentar sim...



Jussara Paschoini

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