Um dos cernes
do pensamento cartesiano para se guardar é que: as pessoas se acham tão
suficientemente providas de bom senso que acreditam dele não precisar mais do
que possuem.
Nesta visão
qualificada do senso, a escolha acertada é colocada numa proposital distância do que
se sabe ou do que se acredita pela acusação de insuficiência desafiante do
saber, padronizando a ignorância como ponto de partida para as importantes atitudes.
Acumular saber
e não saber são mutuamente necessidades lógicas do método de pensamento
cartesiano, sua matemática gráfica de sentidos negativos e positivos a
relacionar pontos do pensar numa sistemática de infinitas possibilidades, exata
com números, coerente com ideias. Daí se deduzir com apreço a experiência
valorosa, não como aquela trancada numa definição, mas, também não aquela
destituída de definição ou ponto de partida.
A expressão “do
nada” é rechaçada na elaboração cartesiana e ordenada como ponto de partida ou origem, provido de significado e de inúmeras projeções.
O experiente é
a experiência e essa última qualifica o primeiro atendente de seu desafio.
Disso é possível pensar no potencial de um ponto, de uma ideia, um desejo ou um
manifesto como enaltecido não pelo que representa e sim pelo que projeta em
relação a outros possíveis por presença e identidade com bom efeito.
A qualidade da
experiência embora relativa, não se dissocia do mundo ou do contexto e,
portanto não existe apartada no acúmulo do experiente e nem isolada em algum
objetivo, por isso, sem experiência não se dirige bem um carro, por exemplo.
Experiente é
quem, num dado contexto, ativou elementos suficientes a relacionar o que possui
com o que não possui para alcançar satisfatoriamente um objetivo, produzindo
daí mais experiência ou maior potencial experimental nesse mesmo contexto. E
eis a importância de ser modesto no próprio bom senso, numa circunstância
bastante capaz de sobrepor os principiantes aos graduados. Não se trata de
sorte e sim de lógica.
A experiência
não traz maturidade e nem envelhece uma pessoa, apenas qualifica potencialmente
sua lógica.
Todavia,
amadurecer é uma experiência pertinente de se contemplar diante de nossa
instabilidade natural frente aos inúmeros desafios independentes ou alheios ao
que se pode alcançar, uma vez reconhecidos limites inexoráveis da condição
humana, inclusive enquanto animal e racional.
Amadurecer não
é instrumental resolutivo da experiência é avaliação que desponta da capacidade de
superação e renúncia, ambas identificáveis nas conexões periódicas com o intransponível
para o qual a lógica não se presta e a experiência não é possível. É a beirada
do abismo, o princípio da loucura de onde ou se retorna, se salta ou se
permanece, aparentemente, sem chegar a lugar nenhum.
Por aparte específico à elucidação, amadurecer transcende a experiência no que pode ser esperança valorosa, uma permanência capaz de "pichar o
muro", desenhar, compor, criar, fazer uso não mais da lógica, fluindo no sentido apaixonado da
imaginação. Autuar o limite e cobrar outra perspectiva, idealizar num confronto
plausível a recriar aquela realidade, instituindo a experiência renovada de si
e do contexto, no que é tão vital quanto a água.
Maturidade não
busca resultado é o resultado, a ação liberta do acerto e aperfeiçoada sem a
luz da identificação.
Trata-se de brilho ou brio tanto para retornar, quanto para saltar ou permanecer.
Diversamente se destrói, se mata e se retarda a troco de nada.
Por fim, cabe
então notar velhice como retrato e a colheita impiedosa do tempo, o limite da
idade tendente a ser servido pela experiência e satisfeito pela maturidade se não
for conclusão de dores e expectativa de morte, debilidade voluntária ou não.
Respeito é
título do velho cuja construção de caminhos ou escolhas retorna ao estado reduzido, talvez
quase infantil, porém distinto e apurado para toda a compatível preservação até
o máximo de qualquer visível alcance das possibilidades.
Mais do que
respeito, clemência e liberalidade são comuns e eternas obrigações para com quem envelheceu, e
nisso, por lógica se inclua e se considere a dignidade de uma boa morte, na tradução semântica de origem grega, a palavra eutanásia ("eu" = bom / "thanatos" = morte) marco central e origem gráfica
da melhor política para quem alvorou-se à vitória de partir e chegar lá livre, espontânea e naturalmente.
Jussara Paschoini
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