segunda-feira, 9 de setembro de 2013

EXPERIÊNCIA, MATURIDADE OU VELHICE?



Um dos cernes do pensamento cartesiano para se guardar é que: as pessoas se acham tão suficientemente providas de bom senso que acreditam dele não precisar mais do que possuem.

Nesta visão qualificada do senso, a escolha acertada é colocada numa proposital distância do que se sabe ou do que se acredita pela acusação de insuficiência desafiante do saber, padronizando a ignorância como ponto de partida para as importantes atitudes.

Acumular saber e não saber são mutuamente necessidades lógicas do método de pensamento cartesiano, sua matemática gráfica de sentidos negativos e positivos a relacionar pontos do pensar numa sistemática de infinitas possibilidades, exata com números, coerente com ideias. Daí se deduzir com apreço a experiência valorosa, não como aquela trancada numa definição, mas, também não aquela destituída de definição ou ponto de partida.

A expressão “do nada” é rechaçada na elaboração cartesiana e ordenada como ponto de partida ou origem,  provido de significado e de inúmeras projeções.

O experiente é a experiência e essa última qualifica o primeiro atendente de seu desafio. Disso é possível pensar no potencial de um ponto, de uma ideia, um desejo ou um manifesto como enaltecido não pelo que representa e sim pelo que projeta em relação a outros possíveis por presença e identidade com bom efeito.

A qualidade da experiência embora relativa, não se dissocia do mundo ou do contexto e, portanto não existe apartada no acúmulo do experiente e nem isolada em algum objetivo, por isso, sem experiência não se dirige bem um carro, por exemplo.

Experiente é quem, num dado contexto, ativou elementos suficientes a relacionar o que possui com o que não possui para alcançar satisfatoriamente um objetivo, produzindo daí mais experiência ou maior potencial experimental nesse mesmo contexto. E eis a importância de ser modesto no próprio bom senso, numa circunstância bastante capaz de sobrepor os principiantes aos graduados. Não se trata de sorte e sim de lógica.

A experiência não traz maturidade e nem envelhece uma pessoa, apenas qualifica potencialmente sua lógica.

Todavia, amadurecer é uma experiência pertinente de se contemplar diante de nossa instabilidade natural frente aos inúmeros desafios independentes ou alheios ao que se pode alcançar, uma vez reconhecidos limites inexoráveis da condição humana, inclusive enquanto animal e racional.

Amadurecer não é instrumental resolutivo  da experiência é avaliação que desponta da capacidade de superação e renúncia, ambas identificáveis nas conexões periódicas com o intransponível para o qual a lógica não se presta e a experiência não é possível. É a beirada do abismo, o princípio da loucura de onde ou se retorna, se salta ou se permanece, aparentemente, sem chegar a lugar nenhum.

Por aparte específico à elucidação, amadurecer transcende a experiência no que pode ser esperança valorosa,  uma permanência capaz de "pichar o muro", desenhar, compor, criar, fazer uso não mais da lógica, fluindo no sentido apaixonado da imaginação. Autuar o limite e cobrar outra perspectiva, idealizar num confronto plausível a recriar aquela realidade, instituindo a experiência renovada de si e do contexto, no que é tão vital quanto a água. 

Maturidade não busca resultado é o resultado, a ação liberta do acerto e aperfeiçoada sem a luz da identificação.

Trata-se de brilho ou brio tanto para retornar, quanto para saltar ou permanecer. Diversamente se destrói, se mata e se retarda a troco de nada.

Por fim, cabe então notar velhice como retrato e a colheita impiedosa do tempo, o limite da idade tendente a ser servido pela experiência e satisfeito pela maturidade se não for conclusão de dores e expectativa de morte, debilidade voluntária ou não.

Respeito é título do velho cuja construção de caminhos ou escolhas retorna ao estado reduzido, talvez quase infantil, porém distinto e apurado para toda a compatível preservação até o máximo de qualquer visível alcance das possibilidades.

Mais do que respeito, clemência e liberalidade são comuns e eternas obrigações para com quem envelheceu, e nisso, por lógica se inclua e se considere a dignidade de uma boa morte, na tradução semântica de origem grega, a palavra eutanásia ("eu" = bom / "thanatos" = morte)  marco central e origem gráfica da melhor política para quem alvorou-se à vitória de partir e chegar lá livre, espontânea e naturalmente.

Jussara Paschoini

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