quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

A PENA VIVENTE





Flutuou sem vínculos ao vento até ser arrebatada em tinta

Para virar notícia e informar o vento

Indiferente para rumo certo mas com muitos alvos

Manchou-se do sangue das tragédias

Mantendo viva a memória dos mortos

E a coragem dos bravos

Questionando o lado certo de cada trincheira à luz do sol

E nas caladas da noite

Destemida ao marginal e incólume ao mau cheiro

Cativou interesses e convidou incansável ao avanço de sua sempre surpreendente perspectiva

Ainda que afrontada pelo embaraço de persistentes engrenagens do poder insano

E da fome sem fim das inovações energéticas redutoras do pensar

Vivente em ofensiva para espelhar a dor e o amor sem jamais violentar

Sendo mesmo pena e por óbvio tendo nascido para o mais livre dos voos

Alce mais um ano e pela eternidade flamejando a mão humana adjetiva de sua tenacidade

Feliz e próspero 2013!


Jussara Paschoini



segunda-feira, 26 de novembro de 2012

PERSPECTIVA COMUNITÁRIA





A instituição de uma sociedade politicamente organizada, mais do que a formulação de um ente com a finalidade de atender ao bem comum pela outorga coletiva de poder mediante regras de constitucionais, há muito tem a primordial função de estabelecer e garantir propriedades.

Cortando o caminho de tratar do tempo em que pessoas eram propriedades umas das outras em face da escravatura ou equivalente, é a propriedade imóvel, qual seja, a relativa ao espaço territorial aquela mais visada e perseguida tanto pela lei quanto pelos seres humanos em guerra, litígio ou registro. Todos almejam ter o seu lugar, o recanto para chamar de seu país, cidade, bairro, casa ou lar.


De fato, cada um de nós precisa da conta dos pés, dos passos, da mesa, da cadeira e da cama, mas não é simples assim, acima disso, queremos estar longe e cercados dos inimigos, afastados dos diferentes não pronunciantes da nossa língua, do não honorário da mesma divindade, os que não comem a típica comida, não respeitam os vigentes hábitos e são por isso considerados uma "ameaça". Tal ocorre com grau de maleabilidade insuficiente e impossível de mudança radical, todavia, se tornou uma prisão donde ninguém mais sai fácil ou impunemente e um convite à reflexão.


A individualidade impõe limites do tipo não pise no meu pé, não xingue minha mãe e não coma a minha comida. Só isso seria bom se o ego não evoluísse para pedir muito mais em termos de confirmar sua certidão e sua sintonia com alguma ordem identificadora com diversos graus de imponência, dependente de diferenciação. E assim, como corpos não podem ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo, os macacos precisam estabelecer seus galhos.


Interessante é que com galho ou sem galho, algum espaço haveremos de ocupar e ao menos que a vida nos tenha abandonado total ou parcialmente, esse local não será eterno e imutável, haveremos de nos locomover, aliás, bem mais do que zelar por nossos galhos, daí surgindo a discrepância de que quanto mais deles necessitarmos na expressão de nossas posses ou propriedades, conforme admitir e determinar a ordem jurídica, mais de nós será exigido no zelo destas.


Isto aponta para nossa submissão ao público como muito maior e mais exigente do que a nossa submissão ao individual, embora nossas crenças apontem fortemente noutro real sentido.


Feita esta constatação é gracioso contemporizar então a revelação de que a existência humana possui bem maior atividade e destino comunitário do que individual. A vida é mais vivida em espaços públicos do que nos recantos de cama, mesa, banho e computador (?). 

                                 Emerge daí uma contradição acerca da persecução de posses impositivas no convívio social já que em contrapartida muito se deve por conta delas, frequentemente pela simples prevenção de que sejam visadas na proporção de seu valor variável e nem sempre compatível em igual medida.


Neste ponto não se correlacione o fato com qualquer tendenciosidade ao domínio público da propriedade em meta comunista. 

                            O intento é evidenciar a importância maior do espaço comunitário do que do privado para a vida como for vivida, inclusive em uma política econômica capitalista, donde a solução das desordens advindas principalmente da exclusão social pudesse encontrar substância mais dirigida ao convívio e à partilha do que no redirecionamento e ou oferta de posses e propriedades, talvez nem tanto interessantes, como se pôde vislumbrar nesse comento de simplicidade.


Em caráter exemplificativo há o manifesto interesse público em deslocar coletividades de determinadas áreas por conta do risco, da irregularidade da ocupação local com relação a respectivas propriedades ou mesmo pela inacessibilidade à regularidade de utilidades correntes como água encanada, asfalto, esgoto, iluminação e abastecimento de energia elétrica enquanto deveres estatais.


Sem desmerecer projetos do tipo “Cingapura” e casas populares, é conhecida a desordem jurídica incidente em respectivas execuções administrativas.

                                   Não raro a população supostamente beneficiada acha por bem se livrar da propriedade ou posse e retornar ao convívio comunitário de onde veio com algum dinheiro, num claro demonstrativo de que oferecer propriedades ou mesmo posses temporárias nem sempre ativa a dissolução do dilema sócio econômico na questão unificada da moradia.


Os vínculos entre pessoas, principalmente aquelas cuja defensiva possessória não inspira significante separatismo, mas fortalece alguma interdependência cooperativa, nem sempre é tomado em consideração na elaboração de projetos sociais. Não é de se ignorar a redução de objetivos à apenas redistribuir realidades inovadas sem sopesar a preservação de valores aplicáveis. Daí a redundância de insucessos de algumas e várias ações beneficiadoras governamentais ou não.


Os projetos sociais diante de uma visão comunitária insinuam a substituição da redistribuição de propriedades pela instituição de um maior número de áreas destinadas a ativação coletiva qualificada.


Espaços comunitários com constante oferta de alfabetização para adultos, além de orientação e facilitação de acesso aos mais diversos e amplos métodos anticoncepcionais, serviços básicos de atendimento à saúde, juizados conciliatórios para desembargo de pequenas causas, cursos técnicos profissionalizantes, acesso a internet, ambiente para atividade esportiva, biblioteca e creches com possíveis anexos de abrigo temporário e integração participativa entre serviços vinculados e manutenção de pessoal, poderiam se tornar proposta valorosa para população carente.


Diversas coletividades identificadas pela idade, pelo objetivo e pelas peculiaridades de sua ascendência sócio regional poderiam atender em instituição comunitária aos seus interesses, fortalecendo vínculos independentes de propriedade, e esta, sem prejuízo, poderia ou não se tornar resultado da evolução particular e possível a cada um, conforme seu desempenho e livre vontade.


Pode ser mais interessante acumular interesses e recursos coletivos do que prêmios lotéricos muitíssimo incertos.


Nem todo mundo precisa de um reino ou de um cavalo, mas são dedutíveis as consequências do menosprezo à coligação de todas as atividades naturais e humanas circundantes de nossas necessidades pequenas ou grandes.


É perfeitamente plausível dar consecução maior aos espaços comunitários, tornando cada vez mais secundária a tradição senhoril de donos e donas sobrecarregados por andrajos ou adornos fundamentais ao poder de polícia e à violência característica.

Jussara Paschoini


domingo, 25 de novembro de 2012

SOBRE O MEU AMOR...





Tremores e temores
Num estado de sonho e de aguçada percepção
Sabendo ser insignificante e finito
Ser tomado por tudo e sacudido pela morte
Palpitando em pedra
Rachando em partículas
Isolado, inanimado em madeira de lei
Girando por tufões e destruindo com jeito
Sem caminho e sem volta
Só numa oportunidade
Sem dor e sem brota
Arrancado do chão
Não tem mais nenhum espaço
Nada a medir-lhe a dimensão





Jussara Paschoini

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

POR QUE O REALISMO É UM SUCESSO ?

                   


                                         Guerra, fome, miséria, ignorância, violência, atrocidades, corrupção, enfim muita coisa ruim mesmo acontecendo no mundo e isso é realidade documentada. Quem vive e nisso inclua-se uma grande massa populacional, sabe, e quem não vive fica sabendo pela imprensa incansável em trazer notícias.

                                          Quem vive está vivendo e quem não vive esta sabendo e daí? Daí se paga mais algum dinheiro por obras realistas com o pressuposto de nos chocar e nos acordar, pobres alienados que somos, para a realidade, mas será?

                                          Não é raro encontrarmos comentários admirados com o realismo de um filme, uma novela e de uma obra literária chocante acerca do que de pior com status de verdadeiro, acontece. Impactante é por isso renderem as melhores críticas, projeção internacional, prêmios e muito dinheiro.

                                          Isso sim é chocante! Vive-se num estado de insatisfação contínuo e se paga caro em tempo e dinheiro para olhar para um retrato legitimado a embelezar e tornar atrativo o sofrimento aplaudido assim, por ser  suposta e exageradamente próximo da verdade, expediente fundamentador do que se diz realismo, como se a arte não tivesse evoluído para visualizar outras impressões, salientar cores, luzes e sentidos numa renovada concepção ideal e ativa do pensar e continuar observando.

                                          Não é que se despreze o documento e o registro dos fatos, no entanto, é impossível não se ater diante do aproveitamento intelectual e artístico simulado para chocar ao ponto de insensibilizar as pessoas defronte a um quadro pretenso de tanta revelação ao ponto de cegar. 

                                         Nem é à toa a dissonância de quem hoje se envergonhe de haver se rendido à possessão realista engajada em canonizar ou heroicizar a rudeza, a fealdade e a vulgaridade como cerne único de sua arte literária, cênica ou mesmo plástica.

                                        Afinal, isso não serviu para curar ferida nenhuma, enriqueceu o ego e a conta bancária de ícones culturais que vivem muito bem em suas mansões arquitetonicamente projetadas e viajam muito pelo mundo para descobrir novos desgastes exploratórios do real sem ressuscitar dos mortos diante da tecnologia de três dimensões e dos efeitos especiais cujos retratos são muito mais convincentes e demandam menos perspectiva poética.

                                       Além disso a simplicidade dos recursos eletrônicos estabeleceu unidade suficiente de um tom compreensível por todos sem ginástica mental na representação do real, da rotina musical prática e consensual de ritmos e redondilhas massificantes, sendo desnecessário saber da beleza do diabo ao furar o olho enquanto faz sexo.

                                        Será mesmo que precisamos de choque? E se precisamos, será deste realismo tão enfeitado no congelar de cenas explosivas anotadas numa tela para estupefação total e suficiente a fazer o mesmo com a nossa concepção de mundo? 

                                        É princípio do realismo ser tão próximo da verdade ao ponto de pacificar sensos e sentidos, ao ponto de solidificar uma crença, pois impregnado nas oposições racionais de fixar o verdadeiro e o falso se aplica em ser fiel expressão mediante instituição de dogmas quanto ao que não é observado e depende de "algum talento". 

                                        Trata-se muitas vezes da arrogância de ser dono artístico e intelectual privilegiado de uma verdade politizada sob a forma ou como meio de denúncia, o que, por sua vez, pode ser importante até se tornar determinismo social e psicológico muito rentável em culturas desfavorecidas pelo subdesenvolvimento ou mesmo pretensas de consagração histórica.

                                         Daí a devida repulsa de alguns poucos e malqueridos acerca de ícones sagrados do realismo em suas mais diversas formas de convencer, inclusive aquelas híbridas e fantásticas, capazes de identificar cérebros afeitos ao sobrenatural e de arrebanhar distintos em grau de compreensão da mal resolvida falta de resposta de um mundo determinado a ser "real", no Brasil, às custas de muitos milhões de reais boquiabertos e puxa-sacos.

                                         Nada surpreendente que celebridades tenham passe obrigatório pelas favelas que continuam lindas e continuam sendo tudo o que são, com baile funk e tiroteio, flash fotográfico e incêndio, gente humilde com vontade de chorar e de matar, na fachada escrito em cima que é um lar com frequência invadido por deslisamento de terra, enchente, esgoto ou pela polícia, realmente, mas realmente, um osso duro de roer.

Jussara Paschoini

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

A INSUSTENTÁVEL DIFERENÇA ENTRE SER E AGIR




É engano usual diferenciar o fato da atitude, o que é do que age. Não obstante, os fenômenos são realidade e esta não se curva ou se submete ao suposto ou dogmatizado como distinto. O ser apartado do que é e que age ou deixa de agir, não é dual, e por isso não se mantém cercado por uma linha imaginária capaz de separá-lo de suas ações.

O ser deseja, pensa, age, afeta e é afetado e trata-se de uma ilusão criar compartimentos estanques do que é para justificar ou condenar ações enquanto matéria da moral vigente. É perfeitamente possível se agir em desacordo com a vontade numa perspectiva de eventual estupidez sim, todavia, o fato não se altera pela interpretação dada a ele.

 Somos o que somos e isso não nos aparta de nossos atos para nos fazer melhores ou piores, bons ou maus, mais ou menos livres ainda que a razão e a emoção nos ofereçam instrumentos para tanto pela sensibilização e construção de conceitos donde alcançamos diferentes graus de satisfação egóica capaz de doar e de roubar pelo mesmo motivo.(Shopenhauer) 

Dito isto, é visível não sermos morais ou imorais, mas fenômenos sujeitos a interpretação própria e alheia no pautar de nossas atitudes, somos um meio ao que está por vir e não um fim, daí não haver definição suficiente para nós e a impertinência teórica da fragmentação.

Fragmentar a si em nome da moral apartando o ser da atitude é um desrespeito à vida que subtrairá de si o sentido e a vontade essencial onde se reconhece o semelhante, o afeto e a singularidade exigível como resposta para tanto nas diferenças individuais.

Ser diferente é agir diferente no suprassumo de apropriar-se inteiramente de si, o que não pode ser negado em ação ou mesmo em omissão. Lógico, tal façanha poderá implicar em alguma descompensação moral e até mesmo física cujo valor somente terá sentido mediante consciência volitiva, integração de escolhas entre o insuportável e o superável sem o comodismo ilusionista dos meros efeitos, nisso obviamente incluídos dinheiro, status, paz etc.

O hiato moral de ser causa independente de efeito é manifesto de lucidez, não significa porém garantir a causa como definição de si, apenas aperfeiçoar o domínio e modulação desta na medida da própria capacidade de ser afetado e de afetar, assumindo riscos potenciais indissociáveis da existência.

A insustentabilidade da diferença entre ser e agir repercute na autonomia de criar um mundo para si interpretando-o através de si na sujeição histórica de cognição aberta, múltipla e universal de conteúdos, bem como no constante confronto e ou identificação cultural entre semelhantes por essência reconhecidos como tal em compaixão.

Jussara Paschoini




segunda-feira, 5 de novembro de 2012

A VELHICE




Falar juridicamente sobre a velhice certamente envolveria um sem número de exigências legais, o Estatuto do Idoso, o respeito aos tratamentos privilegiados nas filas , transportes e serviços fundamentais, no entanto, tudo isso é bem sabido e comentado, bem como assinaladas as transgressões e descasos tantas vezes reclamados por quem de direito.

O desprezo ao idoso é uma regra contra a qual é difícil mover e apontar exceções principalmente quando tanta imposição genérica se demanda ao lidar com a “fragilidade” de quem teoricamente não representa a promessa ao futuro e muitas vezes carrega o peso do passado com dores e revoltas não resolvidas.

Definitivamente, a velhice é um retrato para o qual não gostamos de olhar, pelo menos e na maioria das vezes. O motivo disso não está na tipicamente gradual perda de algumas capacidades físicas, porque velhice não é sinônimo de doenças geriátricas, mas na cultura utilitarista dos conteúdos efêmeros pretensos de inovação cuja ilusão é atrativo comercial para menores de vinte e um anos e ao mesmo tempo instrumento de oposição política demagógica protecionista para os maiores de sessenta anos. Ambas retiram da idade a nobreza, a sabedoria e o encanto verdadeiro de quem viveu uma longa história e tem muito para contar e mais ainda para oferecer em termos de participação.

A visão adequada ao idoso não conta os anos conta a experiência e não a valoriza como peso e sim como medida do quanto há para ser preservado e do quanto não precisa ser repetido. Respeitar os mais velhos é argumentar com eles tanto para avaliar medidas quanto para aliviar pesos. Não é simples é salutar, bem mais do que uma vaga no estacionamento ou na fila, lamentavelmente, tida como padrão de boa conduta e meta de exigência normativa.

O espelho da idade avançada poderia ser mais rico em reflexão e menos pobre em vontade, aliás, é essa, a vontade, o que mantém o corpo que enfraquece e não o vitimismo viciado pela indiferença guardada numa suposta sustentação de sentido ao fim da vida nem sempre tão próximo quanto se imagina ou se apregoa por quase imposição.

Não é de se ignorar, contudo, que ao velho não deveria faltar o fruto da dedicação pela competente ativação do sistema previdenciário religiosamente suportado durante a vida laborativa oficial enquanto prestativa de compatível autonomia e independência à nobreza da idade.

Ora, isso só é possível mediante reavaliação de direitos adquiridos porque não são legítimas e nem justas as diferenças aplicáveis em termos da fixação dos benefícios de aposentadoria quando alguns anos de exercício de alto cargo público (notadamente das cúpulas legislativas, executivas e judiciárias) oferece astronômica vantagem respectiva com relação a profissionais do meio privado e funcionários públicos de carreira menos privilegiada pela política governamental.

Eis que a maioria aposentada foi nivelada pelo salário mínimo vigente e contra esta, a meramente simbólica isonomia vem praticando gradual perda real dos benefícios, isso para não falar dos entraves relacionados ao reconhecimento de doenças profissionais e incidentes de insalubridade e periculosidade relegados nas entranhas protelatórias dos serviços periciais condicionados pelas ordens da conveniência política.

O reconhecimento e proteção jurídica do avanço etário reside fundamentalmente na justiça previdenciária e mantida a intangibilidade de direitos adquiridos às ocultas da legalidade, racionalidade, impessoalidade, moralidade e supremacia de interesse dos atos públicos ímprobos no desvirtuamento da ordem constitucional, a condição idosa continuará resumida à vaga simplista de algum espaço imposto por ofensiva mendicância, a qual, todos nós, mais cedo ou mais tarde também estaremos sujeitos.

Jussara Paschoini
  

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

VÍCIO É QUESTÃO DE OPINIÃO E DINHEIRO



Quando se fala em vício do ponto de vista jurídico, o principal elemento de consideração é a vontade, ou seja, a norma visa proteger os atos de manifestação volitiva contra enganos e defeitos desconhecidos.  A isso atribui o nome de vício, denotando negativamente sua existência à regularidade e à validez na produção de efeitos. A oposição de vício caracterizado compromete e desconstitui total ou parcialmente os atos jurídicos a favor da parte inocente, daquela contra quem o vício ocorreu.

Da noção jurídica de vício já surge desde logo a visão de que aos objetos não lícitos e, portanto, não reconhecidos juridicamente, nada se opõe em termos de proteger a vontade. Não há inocência quanto a objeto ilícito, não há inocência a favor do usuário de droga tachada pela condição coercitiva totalitária de abstinência obrigatória.

Não é pela visão jurídica propriamente que o vício recebe maior expressão de análise, mas pela subjetividade da dor e do prazer a produzir parâmetros pessoais na rotina das pessoas ao buscar satisfação de suas respectivas necessidades e vontades, sendo que à princípio a exclusividade de um ou mais elemento de satisfação em detrimento de outros pode passar a constituir o foco do que se denomina vício.

O vício ou mania em concepção popular trata da mera repetição exagerada de gestos e atitudes e se torna transtorno na medida em que prejudica e causa danos ao convívio com os outros, no entanto, as variáveis de convívio podem alternar pela opinião a noção de transtorno, portanto a união pelo vício e pela mania elimina os danos e prejuízos e muito diferentemente, intensifica sua prática pela identificação, daí ser questão de opinião.

A opinião pode perfeitamente tratar como rotina o que é vício e vice-versa.

É relevante então apontar para o fato de que a relação entre vício e opinião é basilar da política na fixação de rotinas legítimas e ilegítimas, no reconhecimento do transtorno de dimensão social importante, todavia, há que se observar que a legitimação do próprio Estado de Direito se dá pela opinião, donde se deduz que quanto mais rígida for a intervenção nestes parâmetros, menos representativo e mais autoritário o poder será fixado.

A proibição por vício é proibição de opinião e só por isso será sempre autoritária ainda que vise coibir transtornos, os quais, por sua vez, merecem contraposição pela mesma via optativa, qual seja pela informação e pela clareza de uma boa educação garantida a todos em igual oportunidade, desde e principalmente da infância.

Ao simplesmente proibir, o Estado consagra sua incompetência em representar e em oferecer oportunidades dignas para a formação e manifestação de diferentes opiniões, criando ilicitudes e transtornos fora de qualquer alcance legal de forma a implementar um grande espectro de coligações avantajadas pelo crime num fenômeno paraestatal onde o vício se torna obrigação, na maioria das vezes sob pena de morte. Trata-se da coerção despudorada, aplicável ao homem tornado cão.

Observada a opinião diante do poder político e sua supressão pela coerção destinada ao vício face à presunção de exagero e consequente transtorno, cumpre então observar os objetos ilícitos, particularmente os proibidos, contra os quais a presunção de exagero generaliza o transtorno, frente aos objetos lícitos, acerca dos quais nenhuma noção de exagero se opõe como é o caso do álcool, do cigarro e de muitos e diversos agrotóxicos quotidianamente levados as nossas mesas.

Todos os exageros tanto dos objetos lícitos (principalmente os psicoativos) quanto dos ilícitos fazem presumir transtorno, são como já se viu questão de opinião e merecem informações e controle acerca de riscos potenciais, quase sempre não viabilizadas, no primeiro caso pela institucionalização histórica de interesses econômicos e no segundo pela institucionalização histórica de interesses políticos.

Da institucionalização histórica de interesses políticos surge na relação entre vício e opinião o preço da divergência, a valorização do risco, a compra da aventura e a cotação monetária do crime, portanto, aos objetos ilícitos, o dinheiro e mais nenhum outro valor e eis o porquê de o vício ser questão de opinião e dinheiro e não de informação, controle e temperança.

É mais fácil e nem por isso menos dispendioso relegar o exagero como assunto de educação e saúde e torná-lo assunto de polícia.

É mais conveniente compactuar com dogmas religiosos e não conscientizar ou auxiliar em termos de maternidade e paternidade indesejada para facilitar o nascimento de abandonados, consumidores de subprodutos de droga de letalidade mais rápida.

É lucrativo vender veneno e loucura, caro ou barato, a quem o conhecimento faz doer a consciência menos do que o bolso ou a quem o detox garante a fruição de “benefícios” à longo prazo.

É coerente dramatizar o prazer e a dor ao impossível para mitigar rituais e jogos do domínio da mente, tornando o homem temeroso de sua própria vontade e arte, eliminando oposições inovadoras do “status quo”.

É legitima a morte de quem diverge a quem isso aproveita.

Jussara Paschoini


segunda-feira, 22 de outubro de 2012

A BELEZA É MACHO


  

Assim como a matemática a beleza tem símbolos e suspeita ou não, essa representatividade lúdica das experiências de vida tem forte versão masculina. Pode ser estranho num mundo de frufrus, cremes, maquiagens, sedas e revistas femininas que se aponte para a macheza da beleza, mas é fato, a natureza comprova, bonitos são os machos. Aparência é indumentária do gênero masculino, vaidade é juba, é pluma, chifre e, nos dias atuais, entre os seres distintos por razão, mulher !

Luiz XIV e Robert Plant são ícones de aparência cunhada pelo adorno, pela exibição de formas, pela tonalidade variável da voz e pela ostentação. Épocas distintas, valores distintos, mas ostentação de reis, cabeleiras, mulheres e amantes, manifestos de arte e beleza femininas?

Sem qualquer impressão ou preconceito homossexual a beleza é reflexo cultural da atenção e apelos eminentemente masculinos  à submissão visual pelas relações de aparência cuja natureza ainda que efêmera, não é de se desprezar no que tange a concepção de identidades e fronteiras no mundo social.

Na medida em que os valores burgueses foram substituindo os valores de nobreza, a beleza foi ganhando ares de futilidade pela gradual retomada de valores científicos e interesses de consumo. A futilidade dos adornos foi se associando mais e mais às mulheres, as quais, de vez, passaram a portar a representação e o aval do poder masculino, a simbolizar o status de seus pares, fixando limites divisórios entre o sóbrio elegante masculino e o escandaloso extasiante feminino.

Revolução industrial, primeira e segunda guerra mundiais, feminismo, mulher ganhando espaço social, político e econômico, postulando por igualdade de status, sim, tudo isso aconteceu, mas a beleza continua no domínio dos homens. É idiossincrasia afirmar que mulher se enfeita para outras mulheres, quando se enfeitam para as mulheres de outros homens. De fato,  se afigura muito mais uma competição de adornos masculinos do que uma competição entre mulheres, muito embora isso nem sempre se faça perceber.

Quer discordar discorde, mas o mundo da moda está aí para mostrar quem manda, a imprensa ditadora de regrinhas de invasão cotidiana do efêmero faz imperar chapinhas, barriguinhas chapadinhas, peitões siliconados, genitália e congêneres devidamente providos de compatível índice de calvície, bundinhas torneadas e infinita juventude. Quantas mulheres trabalham para sustentar serviços estéticos? Quantas conseguem se tornar o glorificado adorno dos homens para competir por eles e até quando?

Ala Szerman e  conceitos de saúde e bem estar à parte, outro fenômeno interessante são as frutíferas frenéticas e exageros proporcionais de exuberância sexual a exteriorizar um balé ritual de luxuria de empertigar chimpanzé,  primata de devida proximidade.  São milhões a comprovar que macho vende e muito!

Assim, é de admirar que tanto se fale em crise de identidade masculina quando mulheres ditas independentes, ainda dispendem tanto em ser adornos dos homens sem nem sempre acertar na medida, simplesmente porque, deixaram de ser mulher, são gordas, magras ou bem distribuídas, plus size, mignon ou saradas, tem cabelo liso ou encaracolado, são loiras burras, morenas lindas, ruivas fogosas ou anjos dourados da sagrada maternidade. A ordem dos fatores e adjetivos não altera o ”produto”.

Mulher que é bom, não se sabe quem é, vira presidente e para de sorrir, assume ares de general de saia, não pode andar sozinha fora de hora e muito menos beber sozinha porque isso é fim de linha, carne a venda, não interessa o grau de instrução e nem o salário ou o gosto pela penumbra solitária com alguma embriaguez,  é anúncio de perdição, abandono e tristeza. Fazer o que?

É de todo impertinente hierarquizar a crise e o consumo pelos gêneros e não é a oposição destes ou a masculinidade do belo no contraste visual institucionalizado o importante a se observar, mas a emergência de transformações sugestivas de uma singularidade menos dependente de papeis sociais definidos, ou seja, o padrão homem, mulher, homossexual, bissexual, simplesmente andrógino, não rompeu barreiras, não atendeu e nem legitimou diferenças, mas delineou limites muito mais rígidos, julgamentos menos severos porém mais precipitados,  arraigados em defensivas de posições históricas familiares, de trabalho ou mesmo de ideal atribuindo forte caráter instrumental da materialização de imagens dissociadas do conteúdo.

As facilidades da mídia e os interesses ali representados podem refletir a igualdade de uma maioria subjugada por efeitos visuais e todo mundo sabe mas é bom lembrar que a vida não para por aí mas muitas vezes o cuidado para, e o belo despenca do pedestal, gordo ou magro, bulímico ou anoréxico, vítima de velhice ou sufocado por músculos, anabolizantes, tinturas e irrigações químicas outras, desnaturadas.

Salve os machos e a beleza, principalmente aquela que se sente, aquela revelação enganadora e múltipla de cores, formas e direções, surpreendente e cega, o amor.

Jussara Paschoini   





segunda-feira, 15 de outubro de 2012

INOCÊNCIA, UMA PROMESSA QUE É DÍVIDA


  

Coeficientes, índices, produtos para medir as mais diversas manifestações do que já se assume como felicidade, sim, porque já se fala no índice de felicidade em empresas, em cidades e em países, mas o fato é que existe outro possível e cogitável medidor cuja atenção soa particularmente interessante, o de inocência, afinal é presunção da vida em sociedade até prova em contrário não é? 

Neste sentido, o de presunção da vida em sociedade, ou mesmo em outros, a inocência se pode associar à pureza, à ausência de mácula, de mancha e de culpa ou dolo, cumprindo diferenciar que a primeira trata de intenção e o segundo de intenção e motivo, mas em ambos a inocência estará em cheque para legitimar o sujeito no quanto agir ou não, o que, de certo modo, faz da vida uma batalha muito mais voltada para inocência.  Nada se afigura legítimo se não for inocente e a pureza é a virtude das virtudes, a substância das substâncias, quem sabe, o vácuo.

Se houvesse pureza e inocência, não seria necessário presumir, isto significando estabelecer o prévio patamar da suspeita como ponto a ser superado pela prova.  E eis refletido o consenso no reconhecer da impureza, o resguardo secreto das máculas até que apareçam o suficiente para provocar dúvida e mais que isso, incomodar e ou causar danos.

A inocência perde grau quando confronta o consenso suficientemente a gerar suspeita de culpa ou dolo, portanto de intenção e motivo impuro.

A intenção é o que faz, e o motivo é o porquê faz, nenhum dos dois produz efeito mas ocupam o recinto sagrado da inocência seja ele interior ou exterior, individual ou coletivo. São os pesos de avaliação dos atos.

Ser inocente depende então de intenções e motivos guardados ou não, o que faz deduzir o óbvio de que onde não há intenção e nem motivo, há inocência, mas será?  É puro o sem intenção e sem motivo porque vazio e por isso ninguém deixa de ser puro ou inocente até que se presuma estar suficientemente cheio deles.

O exemplo clássico de inocência é o das crianças a quem o suposto vazio da inexperiência atribui a pureza de motivos e intenções que mais tarde podem aparecer como efetivamente são, boas ou más em suficiente desenvoltura.

Dito isso, sem pretensões simbólicas ou psicanalíticas, é ululante que convivamos com a estupidez dogmática de agir sem motivos ou intenções para atender a algum conceito de pureza inexperiente e assim saldar a dívida de inocência, bem como cobrá-la dos demais. Garantir o vazio é muitas vezes a primazia da fé.

Virgindade é matéria de leilão e há quem rife o coração, o sovaco e diversas partes cabeludas da existência!

Intencionar ou ter motivos é difícil porque afronta a sagrada inocência, para não falar que contrariamente às visíveis vantagens, pode produzir prejuízos, colocar posses e contratos em dúvida e ainda modificar um cenário de especialistas em ser feliz.

E o que fazer então? Preencher o vazio, de preferência com a pura felicidade dos especialistas ou veementemente negar sua incômoda e tola existência, com ou sem medo, a exemplo de lutadores e candidatos ao poder ou o dos praticantes de alguma lei superior, com o céu, a fama ou a riqueza como garantia!

No entanto, é sabido, mais cedo ou mais tarde, tanto o vazio como as intenções se farão notar porque a chupada no sorvete não dura para sempre e aquele salgadinho ali na frente de repente ficou atraente. Assim somos nós, o arroz e o feijão...

Ser inocente ou culpado, vazio ou cheio de intenções e motivos faz parte da vida, a escolha está no quê isso promete e no porquê de se tornar dívida. Saber o que está comprando ou vendendo define o tal índice de felicidade? Consulte sempre um especialista.

Jussara Paschoini


segunda-feira, 8 de outubro de 2012

A MATEMÁTICA É UM SONHO DISCIPLINADO





Para quem não se engajou nas ciências exatas é provavelmente sabido que ultrapassada a barreira das quatro operações básicas, todo o resto em termos de matemática parece envolto em uma nuvem de mistério, capaz de levar muitos a crer em considerável grau de deleção no tangente ao mundo simbólico dos números quando o inconsciente possui mais liames com as palavras, as metáforas e metonímias enquanto frutos de maior espontaneidade nos processos mentais.

A matemática é a ciência da quantidade e espaço e embora surgida de necessidades reais, como contar, medir, calcular e organizar espaços e as formas caracterizadas pela exatidão e dedução imprópria à representação inconsciente, demanda no seu avanço um grau de simbologia e reestruturação consideravelmente dependente de impulsos.

No caso, a necessidade de impulso é uma complicação ao senso de abstração mediata, ou seja, a vontade instrumentalizada por números, pelo menos para alguns, é menos direta e mais limitada, concomitantemente pode ganhar correspondência ao infinito pela evolução de troncos hipotéticos dedutivos exatos, o que, estando desvinculado de algum senso utilitário, muitas vezes será ativado e estagnado, cognitivamente falando.

No mundo jurídico nenhuma pretensão é válida para produzir efeitos se não for certa quanto a sua existência e determinada quanto ao seu conteúdo, fixando se tratar de algo não apenas tangível pelo pensamento como dedutível em concreto, isso traduzindo um retrato humanístico de um termo ou resultado pertinente a ser quantificado para delinear e determinar seu modo de satisfação, ainda que não seja numérico ou pecuniário.

Na esfera da matemática enquanto ciência exata, a existência e o conteúdo estão por ser determinados como meio a um fim a ser conhecido, muitas vezes em uma esfera exclusivamente abstrata, investigativa e analítica mais baseada em dinâmica do que em vontade propriamente dita, donde se exige do inconsciente o acato e domínio de uma nova ordem simbólica para efeitos satisfativos e considerações práticas, sendo fato aí surgir a circunstância bastante adequada ao suplemento e disponibilidade áudio visual sempre que possível e ou necessário para melhor desenvoltura.

Não se trata da produção de verdades eternas, infalíveis e imutáveis, muito pelo contrário, se trata de composição contínua, integrada por representações totalitárias inquestionáveis em si e harmonizadas dentro de uma questão producente de resultado fixo e ao mesmo tempo aberto a novas questões.

O reconhecimento dos números negativos, por exemplo, é um demonstrativo da alternância matemática e da evolução das práticas numéricas, isto porque estes foram considerados fictícios e até absurdos até sua aplicação como medida a segmentos de direção oposta, o que por sua vez reconheceu a positividade do produto de uma multiplicação entre negativos e a negatividade se a multiplicação destes for integrada por um positivo.

Do reconhecimento dos números negativos a plausibilidade do gráfico cartesiano, as convenções dos meridianos e paralelas em linhas latitudinais e longitudinais, fundamental para localizações no espaço aéreo, terrestre e marítimo.

Hoje há também o espaço virtual a se considerar enquanto produzido pelo conjunto de tecnologias e interconexão comunicativa.

A tridimensionalidade também patente da atualidade é derivada do relacionamento de ângulos com segmentos e apuração de medidas triangulares, ou seja, trigonometria.

A finalidade típica quantitativa e básica da matemática de domínio comum para efeito de qualquer área humanística ou mesmo biológica tem inúmeros graus de expressão estatística, gráfica e analítica, cuja produção já se considera muitíssimo válida para efeitos de qualquer projeto e aferição científica.

Não é, porém, esta óbvia praticidade lógica da matemática, o que vem em tempos de alta evolução informática e dos planos representativos da realidade virtualizada, a se configurar em friso ao apreço e ratificação, mas a necessidade crescente de se assimilar como fundamental a todas as ciências, uma melhor noção aplicativa da ciência de organização espacial, bem como dos padrões de relação dedutivos para efeitos de incorporar novos métodos de assimilação científica a todas as áreas em que a evolução respectiva for cabível, em suma, todas.

O direito ambiental, por exemplo, se apresenta cada vez mais vinculado a informação georeferenciada enquanto ferramenta fundamental a constatação e análise de recursos naturais distribuídos em espaços interessantes para essa área. A propriedade de áreas protegidas pode encontrar responsabilização no espaço virtual.

A música mesmo há muito instituiu sua relação com a matemática como é o caso da isometria aplicada a preservação de intervalos entre os sons de um conjunto instrumental.

Não é crível na atual conjuntura se relegue ao plano básico tradicional a importância dos aplicativos matemáticos e nem que tais conhecimentos se mantenham reduzidos e limitados a uma pequena parcela de cientistas especializados pois a ciência em si deve servir a evolução das mais diversas áreas e não se prestar apenas e tão somente aos expedientes típicos da informática computacional e ao comércio digitalizado.

Aliás, reste claro que não a calculadora, mas, o conjunto informático como um todo, a mecânica simbólica, se presta a reinstrumentalizar e facilitar a imensa gama de conteúdos de interesse algébrico e geométrico para pertinente aprimoramento prático. 

A realização de sonhos não é mais apenas uma questão de ideal ou sorte, é aprimoramento e valorização desta maravilha que hoje não só pode como deve ganhar maior dimensão para aptidão em todas as ciências, a matemática, a alta cultura da abstração disciplinada, elevada ao infinito.

Jussara Paschoini




segunda-feira, 1 de outubro de 2012

A PRIMEIRA DIRETRIZ: O TEU PASSADO TE CONDENA?





Um colibri nasce colibri e um homem se faz homem. A infância é para todos a instituição orgânica, disposicional e situacional do comportamento, e Freud, pelo menos tenta, aparentemente, com sucesso, explicar.

Saber se o passado condena com a simples certeza de que a resposta é sim, condena, é um imediatismo válido porque ninguém cresceu sem desejar, experimentar, conhecer e memorizar o binômio causa e efeito. A condenação é típica dessa natureza, o elemento estranho à vontade se esta for elementar da ação. Trata-se, portanto, de uma contradição à liberdade, a sua fronteira e talvez, o seu desafio.

O dilema entre vontade e liberdade confronta o indivíduo com o meio, a disposição com a situação em ação ou omissão, ambas causas, ambas sujeitas a efeito. Condenam? Sim.

O átomo confronta o espaço vazio e informa a matéria instituindo a relação de causalidade e o pensamento informa a realidade de maneira similar no que se institui o determinismo e a concepção ou não da terceira causa, a declinação, a resistência ao lado dos choques e dos pesos coativos, tudo isso refletido na questão: De onde vem a vontade que se opõe aos destinos? De onde se deduz a esfera de autonomia do sujeito?

Trata-se de uma ruptura da cadeia dos acontecimentos, distinta da mera negação por ser consequência lógica do acaso em contradição ao efeito determinado, o combate abstrato e ilimitado em confronto com a necessidade de ocorrência objetiva, e não é o corpo, mas a própria razão o objeto da contrariedade, e eis a diferença entre o ceticismo e o dogmatismo.

Duas são as possibilidades originárias do dogmatismo, a ética e a mística como fenômenos reflexivos e criativos respectivamente, cabendo neste ponto mencionar para possível evolução conceitual que segundo Jacob Burckhardt: “Nada nos distingue, homens modernos, dos antigos quanto à falta de uma verdadeira mentalidade mística”.

Tanto a ética como a mística encontram no dogmatismo o empenho moral de normatizar condutas supressoras da vaga relativista e no ceticismo a sua negação, supostamente crítica, mas submissa ao consenso tanto científico quanto moral pela explicação dos fenômenos reais.

Um exemplo político de absorção determinista é a negação das leis eternas de exploração por Marx ao buscar rechaçar os ideólogos e apologistas do modo de produção capitalista apontando a mutilação do indivíduo nas relações sociais como desvio científico, no que, fora das esferas fechadas e ortodoxas da concepção, se compreende, por outro lado, a subordinação da ciência à ética, enquanto um domínio da liberdade.

Para George Lukács, importante filósofo marxista, divergente por ser pregador da tolerância e competição cultural em oposição às medidas administrativas, especialmente preocupado com a estética, Nietzsche é, por um lado o ópio indeterminista e por outro alguém que luta contra a concepção proletária do mundo. Lukács nesta razão recebe a crítica elucidativa da oposição pessimista à inteligência e otimista da vontade como elemento supra-histórico contra as forças causais.

Para Jean Paul Sartre o determinismo falsifica a liberdade porque o homem é condenado a fazer escolhas e vive esta angústia mediante a prática de condutas e ideologias para se isentar de responsabilidade sobre as próprias decisões.

A lógica, a história, os ideais humanistas, progressistas, liberais e seus apelos universais são trincheira e tribunal no mundo dos homens e tecem a teia de paradigmas: pressupostos e crenças, escala de valores, técnicas e conceitos, além de arquétipos que não podem ser desconsiderados no conjunto de procedimentos consagrados para excluir e condenar indivíduos de suas comunidades.

Outro aspecto relevante no passado que condena é o inconsciente coletivo tão bem apontado por Jung na formação do complexo sensível a imagens, símbolos e sentimentos profundos condicionantes dos vícios de pensamento e dos bloqueios lógico-metafísicos limitantes da peculiaridade das interrogações.

É fato que o passado ensina a ler mas não a interpretar analítica ou esteticamente, e ao inferir processos mentais a atualidade se dirige para a denominada metacognição, o conhecimento sobre o conhecimento, a reflexão sobre a reflexão, a abstração representativa capaz de reconhecer o melhor na causa do erro, é mais do que um posicionamento estratégico é a discriminação de estratégias e a auto-regulação de tarefas e produtos da atividade cognitiva.

A manifestação consciente da metacognição é oral, escrita ou em componentes observáveis e a inconsciente refletiria uma rede ou mapa conceitual estratégico.

A relação entre argumentação e reflexão é de suma importância no deslocamento do pensamento para um plano reflexivo típico da metacognição acima mencionada. A ação discursiva trata de uma reorientação pertinente a condução do processo autorregulado de reflexão.

É na forma argumentativa de comunicação que Philip Petit estabelece o denominado controle discursivo como meio fundamental ao exercício da liberdade de escolha enquanto elementar da imputação e responsabilidade do indivíduo, ou seja, a ação será livre na medida em que estiver discursivamente controlada e for coerente com a liberdade da pessoa que se evidencia como tal por meio de discurso, da plena liberdade de expressão. Frise-se que o livre discurso é assim reflexão da escolha, o que torna a coerção hostil e outras intromissões semelhantes incoerentes com a liberdade individual.

Não se trata pois, em absoluto de regulação da ação discursal, mas muito distintamente da dualidade presente na interação discursiva amigável/não amigável pressupondo igualdade de “status” discursivos relacionados para possuir e cumprir com seu plausível legado de compromissos com os semelhantes.

Da liberdade individual Philip Petit extrai a liberdade política na acepção do governo democrático como ensejador do combate ao exercício arbitrário do poder, onde a liberdade se compreende como não dominação conjugando democracia eletiva e democracia contestatória, a última enquanto consequência do descompromisso e deficiência dos eleitos na efetivação dos interesses e vontades gerais.

A democracia contestatória decorreria da constituição e sagração instrumental (processual) adequada inclusive ao exercício individual em todas as esferas governamentais, sem exclusão da executiva.

Na Constituição da República Federativa do Brasil ao meramente instituir o controle de constitucionalidade difuso (para ações individuais em casos isolados) e concentrado (para ação direta de inconstitucionalidade com efeitos gerais por ativação de determinados grupos como confederações e partidos políticos), não se contempla na devida integridade o exercício democrático contestatório, de maneira a permitir-lhe levantar a voz contra todas as decisões do governo a que se aplicar, de modo eficaz, conectando fatos a valores e reabilitando a razão prática do Estado de Direito.

Jussara Paschoini

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

A CONVIVÊNCIA COM A FÉ E O LIMITE DO SAGRADO


Não existe vida sem fé. Quem disse que estamos vivos? Por que? Não estamos mortos? Estamos vivos? Por que?

Se há respostas é porque há fé, e, se nos detivermos a encontrar definição para isso, é a disposição natural para buscar exteriormente diversos tipos de satisfação, tendendo a evoluir dos mais elementares anseios para elaboração de entendimentos relativos às mais complexas questões. Remove montanhas!

Entendida a fé nesta simples acepção, é possível então confrontá-la com a similar, a crença que pode ser concebida então como uma fé que ultrapassou a disposição e foi concluída numa satisfação suficiente a determinar seu fim e a se estabelecer com forte convicção fixando significados e valores básicos a novos anseios ou definitivos.

A crença no azul como azul o torna diferente do vermelho e quem compreende o vermelho como azul ou é daltônico ou desconhece a cor do céu, pelo menos, se não se tratar de um possível e esplendoroso por do sol ou nascer do sol, aliás, amarelo ou branco?

Não fosse a fé não haveria crença e não fosse a crença não haveriam variáveis. Esta sucedânea é imponente da condição contraditória pertinente a graduar a vida entre o estado vegetativo e outros estados mais conscientes e avançados, portanto relegar a fé ou ignorar a crença é resolver a morte no nascimento e vice-versa.

Dito isso, fica bastante clara a importância da religião não só como elemento da cultura, mas como fonte intrincada na evolução humana, um requinte da atividade moral na sagração de experiências válidas diante dos trágicos contextos da existência, e mesmo a descrença desenvolve suas próprias sagrações.

Do ponto de vista etimológico a religião como conhecida, principalmente no mundo monoteísta ocidental predominante, é palavra derivada do latim “religare”, significando voltar a ligar, mais profundamente, estabelecer vínculo renovado em ação inteligente e eletiva.

Uma visão racional e simples pode compreender a religião como a organização e sagração de símbolos destinados a receber a fé e manter ou desenvolver a crença segundo modelos rituais de comportamento fixos entre humanos de propósitos identificados.




Ser ateu é religião! Não concorda? Tudo bem, mas note-se então que mesmo a descrença exige símbolos, ainda que negativos e a demanda de métodos para negar o que predomina pode exigir muito mais disciplina do que para aceitar. O ritual ateu é a negação e o treino para a prática moral sem o sagrado, mesmo encontrando identidade no que de bom eleger e no que de mal evitar. Haverá assim o ateu requintado, o ateu medíocre e o ateu sociopata, à exemplo de qualquer religioso a ser negado.

Pouco se compara ao ódio disseminado pelas religiões porque o sagrado geralmente é ideal e se compreende mais valoroso ao supremo e, portanto legitima a destruição do que se lhe opõe para realizar o objetivo de sagrar-se definitivamente e eis o limite, o fim da fé e o fim da crença, na medida em que satisfeita a disposição e determinado o símbolo, resta o céu azul em dia de chuva e não há mais esplendor na espera da morte.

O limite do sagrado é não ser definitivo e nem determinado ao ponto de ser único, caso contrário o sub-animal poderá matar pelo que acredita, fato evidentemente abaixo de qualquer instinto rasteiro na tradução de uma submissão religada aos vermes, porque outra não é a justificativa da barbárie religiosa do que a fome de miseráveis chefiados por glutões guerreiros donos da verdade numa aldeia pagã onde se dissemina infecção mortal.

Exemplo inarredável disso é o torneio político engendrado por Roma ao tornar o cristianismo a religião oficial no ano de 380/DC, estabelecendo-a ainda como a única permitida em 392/DC e ao fundar o cesaropapismo com a constituição do Império Bizantino, em verdade, a pedra lançada com a igreja Católica, Apostólica Romana como o que restou daquele poder absoluto, para já no ano de 800/DC, Carlos Magno travar a defesa armamentícia da igreja, no que mais tarde se transformou nas Cruzadas, o jogo político e comercial consagrador da fé sanguinária e reflexo vívido da ganância santificada para a destruição.

Alvo desta guerra foram principalmente os turcos muçulmanos que ocupavam entre os séculos XI e XII a Palestina, constituindo entrave ao comércio mediterrâneo e à peregrinação à Terra Santa de Jerusalém enquanto expediente sagrado ao que veio a se constituir como a Ordem dos Cavaleiros Templários, à princípio devotos de São João no pagamento de promessas e penitências.



A Cruzada experimental em 1.096, foi popular, tornou-se conhecida como Cruzada dos Mendigos porque para angariar custos da empreitada armada contra os muçulmanos da Palestina na primeira tentativa de conquistar a Terra Santa, milhares de judeus europeus foram massacrados, sem exclusão de mulheres e crianças no saque imposto ao intento numa das muitas ações antissemitas dos católicos, esta, no caso, amparada pela França e Inglaterra. Os cruzados desta empreitada, após conseguir pilhar e saquear Constantinopla, foram estrategicamente direcionados pelo imperador bizantino à fronteira muçulmana, onde crentes na conquista de uma fortaleza, tiveram o suprimento de água cortado pelos inimigos turcos e morreram a maioria em uma semana, sendo o restante massacrado num ataque de flechas.

Em paralelo a essa sangria bastante estúpida e brutal, ocorreu a verdadeira primeira Cruzada, constituída por nobres cavaleiros do Papa Urbano II, e já dela, após matança indiscriminada dos “pagãos” muçulmanos que em 1.099 resultou o tenebroso reino de Ultramar (Outremer), os quatro Estados Cruzados, : Condado de Edessa, Principado de Antióquia, Condado de Trípoli e Reino de Jerusalém.

A primeira Cruzada confere augúrios à Godofredo de Bulhão e seu irmão Balduíno e foi por ela que o Mar Mediterrâneo se tornou navegável pelos ocidentais e a partir daí 100 anos de domínio temerário, conforme se continuará a contar, se sucederam sustentados por fiéis e mercenários em castelos construídos para poupar os governantes.

Presentes com compensação em feudos e ou rendas, os Cavaleiros Templários e Hospitalários, bem como Teutônicos vindos da Germânia enquanto grupo de guerrilha melhor organizado ao combate que se fizera constante, participavam de um esquema de conciliações e manobras para antagonizar grupos árabes uns contra os outros, tendo como protetor e padroeiro o hoje ainda muito glorificado: São Jorge de Capadócia.

A segunda Cruzada entre 1.147 e 1.149, já demonstrava a caducidade do embate religioso e envolveu na Europa a tomada de Lisboa por combate na Península Ibérica com subjugo dos mouros, mas teve com a atuação de Luiz VII e do Sacro Império um resultado miserável culminante com a primeira perda de Ultramar, o Condado de Edessa.

Em 1.189 a presença do poderoso Sultão Saladino trouxe a terceira Cruzada, a Cruzada dos Reis, posto haver envolvido o Rei da França, Felipe Augusto, o Rei do Sacro-Império Romano –Germânico, Frederico Barba Ruiva e o Rei da Inglaterra, Ricardo Coração de Leão.

Barba Ruiva afogou-se na Alícia após atravessar com sucesso o Rio Danúbio, na Ásia Menor.

Felipe e Ricardo Coração de Leão querelaram entre si e Felipe se retirou das Cruzadas, dando margem a que o único rei remanescente no comando “religioso” fizesse a chacina de homens, mulheres e crianças na conquista de Chipre, Acre e Jaffa. No entanto, a batalha tática com Saladino resultou na perda do Reino de Jerusalém, para o qual foi mantido, por acordo firmado em 1.192, o direito à peregrinação e assim, apesar dos pesares, o Ultramar sobreviveu.

A quarta Cruzada opôs uma escuridão à cidade de Constantinopla, é denominada Cruzada Comercial, foi chefiada por Doge Enrico Dandolo e fundou o Reino Latino de Constantinopla, de tal sorte que esse centro comercial importantíssimo, juntamente com Zara, só retornou aos domínios gregos quando quase vencidas as Cruzadas, em 1.261. Essa cruzada travou um abismo entre a igreja ocidental e oriental.

Neste interim houve a Cruzada de Albigense destinada a extirpar o Catarismo enquanto crença em um Deus dual, do bem e do mal e que era defendido por alguns nobres e bispos no sul da França. O embate ganhou forças pela falta de solução diplomática e pelo assassinato de Pierre Castelnau, cujo legado papal foi proponente de acordo destinado a redirecionar conteúdos econômicos sob a forma de tributo à igreja católica, inclusive pela proibição do emprego de judeus nas administrações dos condes e senhores do Languedoque, território feudal onde se assentavam os cátaros.

A legendária Cruzada das Crianças que teria embarcado em 1.212, cinquenta crianças cuja pureza das almas devolveria Jerusalém aos domínios católicos, terminou em que estas morreram doentes no caminho e ou foram vendidas como escravas.

A quinta Cruzada entre 1.228 e 1.250, presidida por André II da Hungria, arrogou-se na conquista de Jerusalém pela imposição de tentar submeter aos domínios católicos o Egito como precedente necessário e muitíssimo interessante e, por incrível que pareça, após recusar diversas ofertas de acordo muçulmano na devolução do Reino de Jerusalém, terminou com derrota dos cruzados e retirada.

Foi Frederico II, imperador do Sacro império, excomungado pelo Papa, quem na sexta Cruzada obteve a posse diplomática de Jerusalém, Belém e Nazaré, por dez anos, sendo certo que em 1.244, os santos locais já haviam sido novamente perdidos.

São Luiz, o Rei Luiz IX, canonizado como tal, foi o condutor da sétima cruzada entre 1.248 e 1.250, também perdeu na tentativa de conquistar o Egito e foi preso e liberto com o pagamento de pesado resgate, mas recuperou o Ultramar, tirando proveito da invasão dos mongóis.

Na oitava cruzada, o Rei Luiz IX (São Luiz) morreu junto com considerável parte da força francesa por conta de uma peste de que foi a mesma acometida, quando se buscava alcançar para combate a cidade norte-africana de Túnis cujo emir se pretendia converter. Somente Felipe, filho do rei sobreviveu para formar um acordo e voltar para ser coroado o rei da França.

A nona Cruzada manteve a intenção de dominar o Egito subjugando Baibars seu sultão mameluco por haver reduzido Jerusalém a uma pequena faixa entre Sidon e Acre. Eduardo I da Inglaterra retornou quando da morte de seu pai Henrique III para assumir o trono, terminado com acordo satisfatório a Baibars a última e mal fadada Cruzada.


A muitíssimo resumida visão das Cruzadas revela que o uso da fé por forças políticas e interesses econômicos não só revelou humanos sanguinários como nada trouxe em termos de religião ou para efeitos cristãos.

A suposta força da cristandade dos Cavaleiros Templários, em verdade terminou como joguete dos poderes mulçumanos antagônicos, os quais, por outro lado, nos 100 anos que mediaram a retomada do Ultramar, se consagraram como “soldados da guerra santa” e até os dias atuais lutam para manter o que acreditam ser sua grande moeda negocial, consagrada como “Terra Santa”, a Palestina, o espaço de descrição bíblica original do hebreu santificado pela morte na cruz da dominação romana, Jesus, o nazareno.

As Cruzadas revelam um trágico jogo onde a fé e a crença muito pouco ou quase nada significaram diante de interesses políticos e econômicos maiores, antecedentes e estrategicamente instituídos para manipular interesses longínquos ao amor e a satisfação instrumentalizados pela religião em sua acepção genuína de fé ou crença.




Não é de admirar então que no século XV em contraposição à igreja Católica Apostólica Romana, surgisse o protestantismo com a fortíssima tônica de separar a igreja e o Estado, num movimento urbano que difundia através da nobreza e com intervenção da imprensa tradutora da Bíblia da linguagem litúrgica para as línguas locais, a liberdade pessoal interpretativa dos dogmas cristãos. 

O protestantismo opõe a fé às segundas intenções das obras católicas e repudia o batismo infantil, afasta a supremacia papal, a oração pelos mortos, a intercessão dos santos, a assunção de Maria e a virgindade perpétua, o culto as imagens e se fixa através de três formas básicas: Luterana, Calvinista e Anglicana.

Destes três ícones protestantes derivaram o que hoje se conhece popularmente como “crentes” , integrantes de religiões cristãs e não católicas opinantes por fundamentos espiritualistas, racionalistas e anabatistas.

O protestantismo espiritualista é mais raro e encontra forte exemplo entre afro-americanos, porque seguem cultos reminiscentes ao protestantismo com distintiva prática mediúnica.

O protestantismo racionalista vislumbra o aspecto econômico capaz não só de libertar o religioso das limitações católicas, mas de encorajar o planejamento e a disciplina ascética no robustecer da liberdade e em prol do ganho econômico.

E o mais expressivo e radical protestantismo é o anabatista que opôs o batismo em adulto como forma de aceitação consciente da crença num ato de conversão perene, resultante da interpretação privada dos textos bíblicos. Os anabatistas foram perseguidos cruelmente tanto pela igreja católica como por outros protestantes, principalmente por sua insubordinação a qualquer autoridade humana, pacifismo e sectarismo da coletividade dirigida pela prática cristã na instituição da igreja como reflexo da vida comunitária.

Os “crentes” são engajados em diversas organizações religiosas com um ou mais fundamentos protestantes integrados que em comum carregam o estigma da fé como sobreposta às obras no alcance da graça divina, manifesta inclusive, no plano material.

Não é que o catolicismo não haja realçado por necessidade mesmo, a prática de um cristianismo menos político ou atento ao exercício do poder intimamente vinculado aos interesses estatais, mas ainda assim, vem traduzindo a maior atração de infiéis renegados do que todas as religiões distintas, tanto as antigas como as modernas. 




A fé, a crença e a religião são simbioses características ao ser humano e muito importantes ao convívio e ao cultivo de qualidades evolutivas.

O sagrado, é possível observar, tem limite e que não seja ele religioso, mas intrínseco, natural, espontâneo e recíproco como o ar que se respira na quantidade certa, incessante e precioso para toda a vida.

Jussara Paschoini